Empresário que denunciou
prefeito de Rio de Contas é
vítima de atentado a bala

O empresário Roberto Fernandez Veiga (foto), da vizinha cidade de Rio de Contas, na Bahia, foi baleado, ontem pela manhã, 24 de abril, quando se encontrava em um escritório comercial, no centro de Livramento de Nossa Senhora.  Hoje, dia 25 de abril, ele iria depor em uma audiência no fórum de Rio de Contas, no processo que apura denúncias por ele mesmo apresentadas contra o prefeito daquela cidade, Evilácio Miranda Silva, de quem era parceiro na política local. O empresário recebeu um tiro na face, a queima-roupa, tendo a bala atravessado seu pescoço, indo alojar-se na clavícula, segundo testemunhas. O atirador não foi identificado e uma testemunha do incidente, que socorreu o empresário, disse que o pistoleiro se encontrava de capacete e fugiu em uma motocicleta. Roberto Fernandez já se encontra internado em Salvador, para onde foi removido, logo após receber os primeiros socorros, no hospital de Livramento de Nossa Senhora, mas seu estado inspira cuidados.

No dia 23 de outubro de 2006, Roberto Fernandez Veiga, que é dono de uma empreiteira e controla o Instituto Preservar, em Rio de Contas, ocupou a tribuna livre da Câmara de Vereadores daquela cidade, para denunciar o prefeito Evilácio Miranda, a quem acusou da prática de gestão fraudulenta do dinheiro público, improbidade administrativa, estelionato, entre outros crimes.  Num dia considerado histórico para o legislativo municipal, pois atraiu mais de 400 pessoas, ele disse que o prefeito já havia desviado, em cálculos por baixo, cerca de R$1,2 milhão dos cofres da prefeitura local. Da tribuna, surpreendeu os presentes e os meios políticos regionais, ao confessar que também não era inocente na história, pois testemunhou e ajudou o prefeito a praticar as falcatruas por ele denunciadas.

Em entrevista ao “O Mandacaru”, à época, o empresário já admitia a possibilidade de ameaças e represálias, diante da contundência e gravidade do conteúdo das suas denúncias. Demonstrando já ter consciência da possibilidade de um atentado, dizia com firmeza, que “Não tenho medo de morrer” e acreditava que “(...) se me matarem, o processo não pára, porque está na esfera da Justiça, o juiz já sabe e a Promotoria já sabe (...)”. E ainda filosofou: “A história diz que você não morre pelas mãos de um valente, mas pelas mãos de um covarde”. Clique aqui para reler a reportagem sobre as denúncias de Roberto Fernandez.

 

Empresário vítima de atentado não tinha audiência

O atentado sofrido pelo empresário Roberto Fernandez Veiga, de Rio de Contas, ainda se encontra envolto numa espécie de nuvem de fumaça. O delegado de Livramento de Nossa Senhora, onde ocorreu o incidente, Nilo Ebraim Ribeiro Bonfim, disse que as investigações estão apenas no início, não havendo pistas do pistoleiro. Informou que as principais saídas do município foram monitoradas, mas sem êxito. Diferente das informações que chegaram, no dia do crime, ao “O Mandacaru”, não havia audiência, no Fórum de Rio de Contas, no dia 25 último, onde a vítima deporia contra o prefeito local. Pelo que se apurou, o Ministério Público de Rio de Contas ainda não ajuizou qualquer ação com base nas denúncias de Roberto Fernandez. O prefeito Evilácio Miranda é que se adiantou e processou o empresário, para se ressarcir de débitos da empreiteira por ele controlada, mas nenhuma audiência estava marcada para aquele dia, referente a esse processo.

A audiência prevista para aquele dia se refere ao processo nº. 197/06, Ação Monitória, movida por José Carlos Cordeiro de Souza contra a empreiteira Inconsec Ltda., por dívidas, a qual tem como sócia Magna Fernandes Pinto, da família do empresário. Embora ele seja quem controla de fato a empresa, seu nome não consta como parte no referido processo. O próprio prefeito Evilácio Miranda Silva disse, ontem, ao “O Mandacaru”, por telefone, que obteve uma certidão do cartório judicial de Rio de Contas, atestando não haver qualquer ação contra o mesmo na vara de feitos cíveis. Também na Vara Crime ainda não existe ação penal contra o chefe do executivo, segundo informações desta data, 26 de abril.

Estão sendo disseminadas, na região, muitas versões e especulações sobre o fato, a maioria delas desencontradas, havendo até os que não acreditam na hipótese de atentado. Estes indagam como o empresário pôde ficar tão exposto, se descuidando às vésperas de dar o que diz que seria um depoimento contundente à Justiça; e como o criminoso, tendo entrado livremente na sala onde estava a vítima, tenha feito apenas um disparo, quando podia consumar facilmente a empreitada. Acreditar nessa tese, porém, levaria a se concluir que poderia ter havido, pelo menos, uma das seguintes hipóteses: disparo acidental, tentativa de suicídio ou uma desastrada simulação de atentado. Frisa-se, porém, não haver nada que aponte para essa direção, o que se leva a concluir que o mais sensato, no momento, é aguardar o resultado das investigações policiais.

No local do crime, uma sala comercial no centro da cidade de Livramento de Nossa Senhora, a 9 quilômetros de Rio de Contas, a pessoa que de fato socorreu Roberto Fernandez disse que se encontrava na sala ao lado da do empresário, ouviu o disparo, mas não viu quem atirou e que o próprio empresário disse que a pessoa estava de boné, e não de capacete, como chegou a ser divulgado. Assentadas e depuradas essas informações iniciais, seria precipitado dizer que se tratou de uma “queima de arquivo”. Nada confirma, até agora, que exista vínculo entre esse crime e as contundentes denúncias feitas por Roberto Fernandez, em discurso na Câmara de Vereadores, dia 23 de outubro de 2006, contra o prefeito Evilácio Miranda Silva, do município de Rio de Contas.