Página Política | Raimundo Marinho

 

 

23.11.2008

Geddel - numerus clausus

A política baiana foi sacudida, na última semana, por um artigo do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, veiculado no jornal A Tarde, em que colocou à disposição do governador Jaques Wagner todos os cargos ocupados por pessoas indicadas por seu partido, o PMDB. Ao mesmo tempo – e ai vem a contundência do escrito – declara que não se candidatará à reeleição de deputado federal, em 2010.

Não se pode negar ao ministro a qualidade de político transparente – até chorar, se preciso for, como já o fez, certa vez, no plenário da Câmara Federal, ele chora – assim como não lhe pode ser negado a grande capacidade de se ajustar às conveniências, como na última eleição para governador, quando, rejeitado por Paulo Souto, como consta que foi, não titubeou em se engajar na campanha de Wagner, o que o levou à pasta ministerial.

Isso posto e afastando a possibilidade do seu artigo ter sido um “golpe de mídia”, como interpretaram alguns dos seus adversários, Geddel Vieira Lima deixou mais de que claro, mesmo sem dizer diretamente, que será candidato a governador da Bahia, em 2010. Sabiamente, porém, deixou espaço para flexibilização ou para leituras pelas quais possa escapar no futuro: a possibilidade de ser candidato a senador. Ou seja, colocar Wagner na parede, por enquanto, de jeito nenhum, embora tenha deixado o PT desconcertado.

Conhecendo-se, como se conhece, o espírito irrequieto e dinâmico, para não falar ambicioso, do sagaz ministro, é certo que ser senador não é prioridade sua, pelo menos no que depender dele. As modorrentas sessões do Senado não cabem em seu espírito. Mais uma vez assim colocado, pergunta-se: como e com quem ele partiria para uma campanha de governador? A eleição ainda será em 2010, mas a avaliar pelas circunstâncias de hoje, ele não depende de ninguém e pode muito bem sair com sua própria luz.

É ministro de importante pasta da República, não há resistência do presidente Lula, tem um PMDB forte e elegeu uma boa base de prefeitos, nas últimas eleições. Só em nossa região, terá Livramento, Paramirim, Brumado e Rio de Contas e não será difícil seduzir Dom Basílio, onde perdeu para o PT.

Com métodos próprios e sob uma certa inspiração carlista – cujo espólio lhe está sendo atribuído - partirá para ter o apoio de Jaques Wagner, com tal ousadia que nem repara na própria ambição de reeleição do governador. Tanto que tem evitado confrontar-se direto com ele, o que preservou mesmo tendo derrotado o candidato do PT, na eleição de prefeito em Salvador, conseguindo reeleger uma verdadeira mala sem alça.

E observem que, nesta eleição, teve o apoio, no segundo turno, do neto do seu maior adversário e perseguidor político, senador Antônio Carlos Magalhães. Nas projeções para 2010, não se pode desprezar, de jeito nenhum, essa circunstância. Na esgrima silenciosa, Wagner também evita colidir com o ministro. Por enquanto e até o registro das candidaturas, em 2010, um precisa, desesperadamente, do outro. Só vão mostrar os dentes, no último ato, se for o caso.

Geddel sabe que se tiver o apoio de Wagner, em 2010, ganhará fácil, para governador. Mas sabe também que se tiver Wagner como adversário, ganhará mais fácil ainda. Nenhum analista até agora se arriscou, mas, no momento, a chapa mais provável, entre os dois, é Geddel governador e Wagner senador.

A não ser que Lula tenha outro plano e consiga impô-lo à Bahia, já que os dois são da sua base aliada. Dessa forma, fica claro que Geddel Vieira Lima consultou muita gente antes de publicar seu artigo, um texto numerus clausus, mas somente se lido em sentido contrário.

_____________________________________________________________

 

11.11.2008

Para quem ainda fica rubro

Não há debates de idéias em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, muito menos em torno do planejamento ou gestão pública e nem da organização do pensamento coletivo. O passado, o presente e o futuro começam e terminam no primeiro ponto onde se possa tomar uma cerveja bem gelada, de preferência falando da vida alheia.

Se os alunos vão mal nas escolas, se a pobreza recrudesce, se os entulhos permanecem obstruindo ruas e passeios, se vereadores trabalham menos de oito horas por mês e vão ganhar R$3.715,00, se o gari ganha R$7,00 por dia, se o dinheiro público é drenado para o bolso privado, não tem a menor importância. Ninguém se abala com isso.

O Tribunal de Contas dos Municípios – TCM acaba de emitir parecer prévio rejeitando a prestação de contas da Prefeitura Municipal, referentes ao exercício de 2007, repetindo o que aconteceu em relação a 2006. E há fortes indícios de que as de 2008 terão o mesmo destino. Todas na gestão do Dr. Carlos Roberto Souto Batista.

Qual o significado e conseqüências disso? O temor é de que seja significado lógico nenhum e conseqüência prática zero. Mas cabe frisar que as rejeições não se deram por pressão política nem por sadismo dos conselheiros e sim por irregularidades inconsertáveis, face ao desrespeito à lei – como fraudes em licitações - conforme apontado na decisão do TCM.

Significado pode até ter, que seria a desoladora constatação de que não só o fictício Reino da Dinamarca estava podre. E também de que o pudor que deveria nortear o comportamento humano e a vergonha que deveria corar aqueles que recebem um mandato público foram varridos definitivamente da política brasileira.

Nem mesmo as pequenas comunidades como a nossa, onde famílias ainda tomam sal e café emprestados ou enviam aos vizinhos pedaços de tortas nos aniversários, ficaram a salvo. Ao contrário, muitas vezes, a importação e acolhimento de valores, ao invés do engrandecimento e glória, acabam tendo efeitos nefastos.

Muitos criticam – e com certa razão – o mandonismo, a incompetência, o provincianismo, o autoritarismo e os enriquecimentos ilícitos do passado, não raro esquecendo que tudo isso foi substituído por tudo isso e mais o cinismo, a arrogância e o ilegalismo deslavado.

Falamos do significado, mas e quanto às conseqüências? Não há se quer um vislumbre dela, a não ser que tenham sido meros acidentes a recondução, pelo eleitorado, da administração considerada improba pelo TCM e a decisão da vetusta Câmara de Vereadores, dita representante do povo, que homologou os atos de improbidade.

O fio de esperança, para quem acredita que possa existir, está no Poder Judiciário, de cuja apreciação nada escapa, segundo a Constituição Federal. Mas, para tanto, será necessário que outro órgão, o Ministério Público, para onde o TCM encaminha os processos, cumpra sua magistral função constitucional e impetre a competente ação de responsabilização dos culpados.

Se nada disso ocorrer, para o rubor dos que ainda conseguem se envergonhar, ficam ai os indignos e infames exemplos, nos quais, certamente, se espelharão nossos jovens e crianças, dando-nos a certeza de que, em nosso Brasil, o que já é muito ruim pode ficar ainda muito pior!

___________________________________________________

 

Notícias anteriores:

Outubro de 2008

Setembro de 2008

Agosto de 2008

Julho de 2008

Junho de 2008

Maio de 2008

Abril de 2008

23 de março 2008

15 de março 2008

03 de março 2008

18 de fevereiro 2008

03 de fevereiro 2008

22 de janeiro 2008

10 de janeiro 2008