Artigo – 12.05.2011

A política de Cristo

Zeferino de Paula Lima Neto

zifaneto@gmail.com

Sempre que digo: “Jesus cristo foi e continuará sendo o maior político que o mundo já viu”, acabo arrancando suspiros e olhares inquisitórios. Isso porque a maioria das pessoas, em virtude da falta de orientação político-social, acaba confundindo política com politicagem. A primeira prega atitudes de preservação social como: altruísmo; tratamento do bem coletivo; preservação da ordem pública; defesa dos direitos humanos. Já a segunda, costuma trabalhar de forma totalmente oposta pregando o “clientelismo assassino e opressor”; com conchavos, caixa dois e outras manobras hostis ao meio.

Geralmente, quando um pesquisador começa a desenvolver um estudo das “representações sociais”, ele procura isolar, analisar e catalogar um pequeno grupo, para depois generalizar esse estudo e apresentar à comunidade científica. Bem, Livramento de Nossa Senhora acabou sendo, para mim, esse rico objeto de estudo que, sempre me forneceu uma modesta e informal análise psicossocial, principalmente em relação à política.

Mas a ainda se tratando da política de Jesus, podemos encontrar em Frei Beto a sua corroboração para essa idéia. Esse grande militante de causas sociais e escritor brasileiro, autor de uma magnífica obra A mosca azul, na qual, dentre outras coisas, ele nos mostra como os homens se revelam ao se apossarem do poder. Em entrevista a um programa (que não me recordo do nome) no cinebrasil TV, ele comenta que acha meio confuso um indivíduo se dizer cristão e não gostar de política. Ele justifica esse argumento nos lembrando, de forma inteligente e até engraçada, os dias de militância de Cristo, dizendo o seguinte: “Jesus não morreu deitado numa cama com malária nem de dengue, muito menos numa esquina de acidente de camelo. Jesus Cristo, esse ser iluminado e, o primeiro naquele tempo a pregar de forma ativa a caridade, foi capturado, torturado, humilhado e julgado por dois estados antes de enfrentar a crucificação”. E, isso tudo, sem derramar uma lágrima de arrependimento, pois, estava ciente da sua luta e do dever cumprido para com a humanidade. Parece-me que Frei Beto, para falar isso sobre o cristão que não gosta de política, deve ter se lembrado da celebre frase de Platão, que diz “A desgraça de quem não gosta de política (não politicagem) é ser governado por quem gosta”.

Até Nietzsche, filósofo alemão que foi considerado (erroneamente) como o filósofo que matou Deus, denuncia, nas suas obras, o pensamento mal intencionado dos poderosos para com as palavras e as lições de Cristo, dizendo “o evangelho morreu na cruz com Jesus”, sugerindo a apropriação indébita para com os ideais desse grande líder. Podemos observar que esse tipo de postura em relação ao pensamento Nietzschiano sobre Jesus continua tão atual como naquela época. É como no caso de alguns parlamentares (como Jair Bolsonaro) que defendem a homofobia de forma quase explicita, usando e ousando em dizer estar seguindo os princípios cristãos da moral e da ética. É, caro leitor do O Mandacaru, José Saramago que estava certo, “se estão matando em nome de Deus, estão transformando Deus em assassino”.

Acredito que a essa altura, o leitor do O Mandacaru, esse jornal online que vem crescendo a cada dia e sendo lido por leitores de vários cantos do Brasil (como Salvador, São Paulo e a minha querida Maceió), já conseguem compreender onde eu quero chegar.

O que Livramento de Nossa Senhora vem vivendo nesses últimos anos é uma verdadeira politicagem rasteira e subserviente, carregada dos seus bordões (como por exemplo, “raposa”, “vamos mamar mais quatro anos”) dignos do prêmio criatividade zero.

E, para finalizar, gostaria de deixar registrada minha crítica construtiva, dedicada principalmente aos grandes empresários, que lotam a igreja de Livramento, aos sábados e domingos: não terá nenhum valor em participar de missas, procissões e enfeitar as ruas para honrar Jesus Cristo, se, antes de tudo, não colocarmos em prática os seus pensamentos e exercitarmos diariamente a sua filosofia emocional que pregava a empatia, o altruísmo e a caridade para com os necessitados. É preciso lutar pelo povo da zona rural, pelo povo da periferia. Devemos imediatamente equipar os desfavorecidos com educação, com o conhecimento que tivemos a sorte de adquirir nas escolas e universidades e, é por essas e outras que grito, abaixo o monopólio do conhecimento! Devemos fazer como Jesus que, ao invés de empurrar, preferiu puxar a marcha para a liberdade.