Artigo – 28.10.2014

Uma breve análise
do processo político

 

Weber Aguiar

Eng. agrônomo

Há cerca de duas décadas, a sociedade brasileira assistiu à maior manifestação popular desde que a democracia foi restabelecida no país, culminando com a queda de um presidente da República, no episódio conhecido como impeachment (impedimento) do presidente Collor.

Na época, fui uma das lideranças estudantis do curso de Agronomia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, que, em passeata, rasgávamos as principais avenidas de Vitória da Conquista e, aos gritos, pedíamos uma moralização da política brasileira.

Foi um movimento bonito e empolgante, onde, com as “caras pintadas” (como ficamos conhecidos), exigíamos respeito para com a sociedade, no tocante ao esclarecimento dos casos de corrupção e, em particular, a saída do primeiro presidente eleito depois de muitos anos da ditadura militar, e bradávamos: “Fora Collor”.

Depois de muitas manifestações Brasil afora, os estudantes, com apoio de diversas outras categorias, obtiveram êxito. Daí por diante, assumiu o poder o vice-presidente Itamar Franco, que, em seu governo, implantou o Plano Real, que, por sua vez, promoveu a estabilidade econômica e subsidiou que outros governos dessem continuidade a esse projeto.

Desse movimento, algumas lideranças estudantis se destacaram, como é o caso de Lindberg Farias, pelo Rio de Janeiro, e Orlando Silva, pela Bahia, sendo que este último chegou a ser ministro do governo Dilma e, infelizmente, teve que sair, pois foi envolvido em escândalos de corrupção.

Baseado nos resultados das eleições presidenciais de ontem, chego a conclusão de que o eleitor brasileiro, na sua maioria, não se importou com os casos de corrupção e desvios do erário público recentes, pois, mesmo diante de tantas denúncias, ainda deu a vitória à candidata do Partido dos Trabalhadores.

Ouvi algumas alegações de seus seguidores, que disseram e dizem que esses casos de corrupção estão sendo investigados como nunca antes havia sido na história política brasileira, porém, a punição dos seus infratores é de fato irrisória.

Não concordo, de forma alguma, com outra alegação segundo a qual a Presidente da República, ou mesmo o seu antecessor, não sabiam ou não sabem de nada. Se isso for verdade, é mais do que notório que eles não souberam escolher os seus subordinados que ocupam cargos ditos como de confiança, e, nesse caso, não tem a capacidade de estarem exercendo tal função.

Na condição de servidor público, fico reparando que casos de desvios de recursos na nossa esfera são investigados através de comissões de sindicância, e os culpados são punidos com a devolução das somas, advertências, suspensões e até mesmo a exoneração. Já vi alguns casos do tipo em cerca de 15 anos nessa condição de servidor público e onde graças a Deus e a educação propiciada por meus pais, nunca estive envolvido.

Com esse gesto de ontem, os mais de 54 milhões de brasileiros que votaram em Dilma Rousseff, lhe deram uma espécie de alvará de soltura, ou salvo conduto, como queiram, e afirmaram que não se importam com o fato dos políticos roubarem ou fecharem os olhos, deixando que seus companheiros façam isso. 

A alegação de que a eleição de Aécio Neves, tal qual a de Paulo Souto, seriam um retrocesso não é em todo concordada por mim, pois creio que mudanças têm que ocorrer e são extremamente salutares. Pois é sabido que A ALTERNÂNCIA NO PODER É FUNDAMENTAL PARA A MANUTENÇÃO DO REGIME DEMOCRÁTICO e, como em casos anteriores, se esse gestor errar, a nós cidadãos compete o ato de tirá-lo democraticamente, com o uso do voto ou mesmo através de manifestações tais quais as de duas décadas atrás.

Além disso, acredito que as conquistas, sejam elas sociais, econômicas ou quaisquer outras, efetivadas nesses governos petistas não seriam desprezadas e sim aperfeiçoadas ou mesmo ampliadas tal qual fez o próprio Presidente Lula quando assumiu o cargo.

Com essas linhas, espero demonstrar um pouco da inquietude de quem está na oposição, pois uma das promessas que espero ver cumprida pela “nova” gestão é a tão propagada reforma política, além, é claro, de exercer uma das mais importantes conquistas da democracia que é o direito a expressar as nossas opiniões.

(*) Weber Marcilio Malheiro Aguiar,

engenheiro agrônomo, servidor público estadual