S.O.S. Cachoeira – 25.09.2009

Questão do esgoto levada à Justiça

O jornalista Raimundo Marinho, que também é advogado, ingressou em Juízo com “ação popular”, na Vara Cível da Comarca de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, buscando evitar que as águas do Rio Brumado e da bela Cachoeira de Livramento sejam contaminadas pelos dejetos sanitários provenientes de um sistema da EMBASA, em implantação na vizinha cidade de Rio de Contas. Segundo ele, como vem sendo divulgado e denunciado, a contaminação será uma ameaça eterna à saúde da população e, a exemplo do que já ocorre em outros sistemas similares (um deles em Sauípe, no Litoral Norte), degradará de forma irreversível o ecossistema formado pelo rio e a cachoeira. 

AÇÃO POPULAR é o remédio constitucional para acionamento do Poder Judiciário, previsto na Constituição Democrática Brasileira de 1988, que, em seu art. 5º, inciso LXXIII, diz que: “Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor , salvo nos casos de comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.

Diz Raimundo Marinho que, “até então, a EMBASA, que poderia fazer o despejo em terra, por exemplo, fez-se de surda ante as denúncias e justa indignação da população, restando apenas, portanto, em grau último, o recurso à Justiça, para garantia dos direitos fundamentais à saúde e ao meio ambiente saudável”, tendo o jornalista argumentado que “a ação popular é considerada o primeiro remédio processual do direito positivo brasileiro a tutelar claramente direitos comunitários”.

Lembra que “o acesso à Justiça, por esse meio, para a defesa do meio ambiente é direito fundamental, sendo a AÇÃO POPULAR instrumento de exercício da cidadania ambiental, consagrando a participação popular no Poder Judiciário e na formação da decisão judicial, em defesa, no caso, da saúde da população e de um ecossistema puro e saudável”.

Acrescenta que “o que se deseja é que o exercício dessa cidadania se complete justamente no Poder Judiciário, o último e mais autorizado intérprete da lei, que tem demonstrado uma nova postura e sensibilidade, para enxergar e interpretar a favor da vida, em última instância, a grave realidade de ameaça e destruição concreta das condições ambientais, onde habita o ser humano”. Ele destaca que “a Justiça tem sido um refúgio, frente aos novos rumos da sociedade, tendente a ser reduzida, se não houver combate, a interesses imediatistas e mesquinhos, capazes de levar todos nós à destruição”.

Diz o jornalista “que a grandiosa responsabilidade judicial, por certo, se avoluma diante da realidade de que a Justiça acaba sendo, não raro, a única irradiadora de esperança e de providências, muitas vezes tendo de vencer a pressão da frieza técnica ou da letra da Lei”. Mas ele manifesta a certeza de que, a favor dessa esperança há “uma fundamentação irrecusável, que é a determinação de se contribuir para a garantia, não apenas da qualidade de vida, mas da própria existência das futuras gerações”.

 

Frente Parlamentar – 25.09.2009

Pela defesa do diploma de jornalista


Em um ato unânime contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de extinguir a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista, foi instalada, dia 23, na Câmara dos Deputados, uma Frente Parlamentar em defesa da exigência do diploma para o registro profissional.

Estiveram presentes, entre tantos parlamentares, a deputada Rebeca Garcia, quem tomou a iniciativa de colher as assinaturas para constituir a Frente, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murilo, os deputados Emiliano José e Paulo Pimenta e as deputadas Manuela D'Ávila e Lídice da Matta.

Em discurso na Câmara Federal, no mesmo dia, Emiliano José (PT-BA), que também é jornalista, disse que o STF decidiu "jogar na cesta do lixo" o diploma de mais de 80 mil profissionais de todo o País e condenar milhares de estudantes à indigência. "O STF revelou uma ignorância profunda em torno da profissão de jornalista. Confundiu o exercício da profissão com a liberdade de expressão, numa barafunda impressionante", criticou.

Emiliano afirmou que a decisão atende essencialmente aos interesses do baronato da mídia brasileira, interessado em diminuir a qualidade crítica de seus profissionais e em rebaixar os seus salários. "Já há consulta de patrões da mídia sobre o rebaixamento do piso dos jornalistas face à absurda decisão do STF. Assim, parece não haver dúvidas: tal decisão caiu como uma luva para o empresariado do setor".

LEI DE IMPRENSA

O deputado tem insistido, também, na necessidade da constituição de uma comissão destinada à formulação de uma nova lei de imprensa, já que última foi extinta em abril deste ano por decisão do STF. Segundo ele, o presidente da Câmara, Michel Temer, tem à mão um ofício do líder da bancada do PT, deputado Cândido Vaccarezza, com essa solicitação.

"Somos o único País com assento da ONU a não ter uma lei de imprensa. A sociedade está inteiramente desprotegida face aos erros de imprensa. Uma mídia como a brasileira não pode viver sem um marco regulatório que proteja a cidadania", disse o deputado.

Para Emiliano, tanto a volta da exigência do diploma para o exercício da profissão quanto a lei de imprensa são questões essenciais para os jornalistas e para a sociedade brasileira. "As decisões do STF atentam contra uma profissão regulamentada e contra o cidadão comum, que se torna ainda mais indefeso com a inexistência de um marco legal regulatório. Esperamos que esta Casa assuma suas responsabilidades e reponha os direitos subtraídos", concluiu.


Agricultura – 25.09.2009

Encontro promove a fruticultura

 

A Cooperativa dos Pequenos Produtores de Frutas de Livramento e Região Ltda. (Copefrul) promoveu, dias 22 e 23 deste mês de setembro, no Povoado de Rio Abaixo, em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, o I ENCONTRO DA FRUTICULTURA, durante o qual procurou sensibilizar agricultores e consumidores para a importância da fruticultura no município. O destaque foi mostrar a necessidade de se dedicar todo empenho para obtenção de produtos de qualidade, como meio indispensável de facilitação da comercialização dos produtos, principalmente no mercado internacional. Foi explicado que a qualidade é a maneira mais eficaz para agregar valor aos produtos e de convencimento do consumidor.

Segundo informou o presidente da Copefrul, Antonio Alves Silva, os objetivos específicos do encontro foram a mobilização dos produtores para a prática efetiva do cooperativismo; a socialização das informações da Copefrul aos seus cooperantes; a sensibilização dos participantes sobre a importância do sucesso coletivo; a agregação de valores nas áreas de produção de frutas; e a reflexão sobre a necessidade de se buscar a diversidade de culturas. Foi lembrado que tais práticas trazem ganhos tanto para o grande produtor, na colocação de produtos de qualidade no mercado internacional, mas principalmente para o pequeno, com a melhoria constante da qualidade dos frutos no mercado interno. E que, por fim, ganha acima de tudo o consumidor, que terá a garantia de frutas saudáveis em suas mesas.


Artigo – 25.09.2009

Judiciário em crise. Será?

Cláudio Marques de Oliveira

(claudiomarques.jornalista@hotmail.com


Na percepção da população brasileira, em uma escala de zero a dez, o sistema Judiciário brasileiro merece nota 6,5. A conclusão é de um levantamento feito pela primeira vez pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que desenvolveu, com a participação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, o índice de Confiança na Justiça (ICJ-Brasil). O que mais puxou a avaliação para baixo foi a lentidão da Justiça e os custos do Judiciário. Para 62,8% dos entrevistados que ganham mais de R$ 5 mil por mês, os conflitos no Judiciário são resolvidos muito lentamente e para 75,7% os custos são altos ou muito altos.

Apesar da nota 6,5 ter sido atribuída a todas as instâncias do Judiciário, pretendo, porém, dar ênfase somente ao Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta instância do Poder Judiciário do Brasil, que se encontra com a credibilidade abalada. Segundo vários jornais, um dos principais responsáveis para tal é o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, indicado por Fernando Henrique Cardoso em 2002. Durante sua presidência muitas decisões polêmicas foram e estão sendo tomadas, gerando indignação em grande parte da população brasileira.

Na véspera de tomar posse como presidente determinou o arquivamento de duas ações de improbidade administrativa contra dois dos ex-ministros do governo FHC, Pedro Malan e José Serra. Em 11 de julho de 2008, foi alvo de violentas reações contrárias à sua atuação como presidente e ministro do STF. Primeiramente, 42 procuradores da República divulgaram nesse dia, uma carta aberta à sociedade brasileira, na qual lamentavam a decisão do presidente no habeas corpus que libertou o banqueiro Daniel Dantas da prisão. No final do mesmo dia, 134 juízes federais divulgaram carta de apoio ao juiz federal da 6ª Vara, Fausto Martin de Sanctis, responsável por expedir o pedido de prisão do banqueiro Daniel Dantas, em um manifesto público no qual demonstraram sua "indignação com a atitude" de Gilmar Mendes.

Por outro lado, dentro do STF, quase todos os ministros apoiaram a sua decisão. A única voz discordante em relação ao caso Daniel Dantas foi a do ministro Joaquim Barbosa; “como é que você solta um cidadão que apareceu no "Jornal Nacional" oferecendo suborno? A decisão foi contra o povo brasileiro". No dia 22 de abril de 2009, em sessão plenária, Barbosa falou que, "Vossa Excelência (Gilmar Mendes) está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro".

Em julho deste ano, outra decisão gerou mais indignação, principalmente por grande parte dos jornalistas. Mendes defendeu a extinção da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista e chegou a comparar a profissão de jornalista com a de cozinheiro. "Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área”. Que bela comparação do ministro. Seria cômico se não fosse trágico.

Gilmar Mendes deverá ficar no STF até 2025. No entanto, seu principal oponente e exemplo de ministro para o Brasil, Joaquim Barbosa, poderá ficar até 2024. Até lá muita coisa ainda pode acontecer. Diante de várias decisões polêmicas do STF, apenas algumas mostradas aqui, o governo prefere mesmo é fingir que tudo anda bem. A remuneração dos ministros agora passará de R$ 24.5 mil para R$ 26.7 mil. Esse é o nosso BRASIL. Um dia a gente chega lá!

(Cláudio Marques de Oliveira é aluno de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB

 

Artigo - 22.09.09

SOB O SOL DA TOSCANA

Raimundo Marinho

É sempre bom observar outras culturas, outras pessoas, outros povos, situação em que a comparação é inevitável. Nesse processo, podemos nos sentir inferiores ou superiores, menores ou maiores, disso resultando não ser bom qualquer tipo de comparação. Pela natureza humana, é raro haver aprendizado em circunstancias que tais, mais pelo orgulho humano do que por eventual retardo de inteligência.

Olhando, por exemplo, para as colinas da Toscana, vejo o quanto são diminutas ante a exuberância das serras de nossa Livramento. Suas paisagens verdejantes também não superam o nosso verde depois “das águas”, nem mesmo a beleza peculiar dos gravetos da nossa caatinga. Mas não há como não nos curvarmos diante das majestosas esculturas que ornam museus e praças de cidades como Firenze, onde impera a imponência do instigante Davi de Michelangelo.

A pobreza e o desmazelo da paisagem urbana de Roma igualmente encabulam, ao que se soma o aspecto de abandono do Coliseum e demais ruínas da Roma Antiga, que os turistas consomem avidamente, mas que parecem indiferentes aos romanos contemporâneos. O que seriam restos do grande e poderoso Cesar jaz escondido sob um desprezível monte de terra; e fachadas antigas, em granito, como os do Fórum Romano, restam desmoronadas, assim como o poder político que houvera um dia na terra de Rômulo e Remo.

Mas é sob o sol da Toscana que nosso coração se aperta e se volta para o que ora chamamos de cantão Livramentense. Se a genialidade de Michelangelo e de Leonardo, o da Vince, nos emociona, também nos arremete para o nosso viver sertanejo. Disso muito nos faz recordar, por exemplo, a visão rural da província de Lucca, que emoldura a cidadela que ainda conserva sua muralha medieval.

Mas o que entenderia nossa gente sertaneja de arte, e de uma arte de filosofia tão profunda. Questionamos, para exemplificar, a razão da figura humana ser retratada com tanto esmero, tanto nas esculturas como nos afrescos. Como o gênio humano, que tem Michelangelo e Leonardo como exemplos maximos da época, podem produzir peças como Davi e os minuciosos detalhes e cores do teto da Capela Cistina, pintado com o autor em posiçao horizontal.

Como nada se produziu nem de longe parecido, nos tempos modernos – Picasso e Salvador Dali se encarregaram de facilitar ainda mais as coisas, com uma surrealista desculpa - é forçoso concluir que a humanidade emburreceu. Sem falar na arquitetura, que o cimento armado matou definitivamente, mas não enterrou, como mostram a própria basílica de São Pedro, a catedral de Pisa e as ruas de Firenze, sem mesmo ser necessário chegar a Paris nem a Londres.

Mas e nós do sertão de Nossa Senhora, o que teríamos a lamentar? Que somos menores ainda? Não, claro que não! Pelo que é visto ao redor do mundo, tudo de que precisamos é nos organizarmos, respeitar as leis e conservar nossos bens naturais e culturais. O Davi e a Catedral de Pisa, por exemplo, poderiam muito bem nos servir para mensurar nossa estupidez diante do desmoronamento da “Casa dos Alcântara” e nossa inexplicável inércia ante a decisão estúpida da Embasa de contaminar com dejetos sanitários nosso Rio Brumado e nossa esplendorosa Cachoeira de Livramento.

Não podemos fugir do conto do voto, da fraude eleitoral, ao elegermos quem administra nossa comuna, pois muitos espertalhões se candidatam, também há alguns de nós que vendem esse voto. Mas com certeza podemos reagir, tão logo os eleitos se mostrem de verdade, botem as manguinhas de fora. Podemos protestar, questionar na Justiça e até mesmo contra a justiça injusta. Nas circunstancias atuais, descobrir e assim agir tem grandeza maior que esculpir um Davi.

Podem dizer que isso é sonho de um jornalista aposentado. Mas somente os burros não sonham, pois lhes basta comer o capim. Roma talvez não tenha sabido aproveitar adequadamente a iluminação vinda de Deus, e até criou deuses próprios, em nome dos quais, porém, cometeu atrocidades, contra humanos e animais, e disso o Coliseum, ou o que dele restou, é ainda uma lembrança viva. Mas quantos ali vão, na atualidade, apenas matar a curiosidade e disso não se dão conta?

É dessa forma que contemplaremos, um dia, a sujeira infecta escorrer pelas águas, que se tornarão purulentas, do nosso “Véu de Noiva”. E que “deuses” nos castigarão?


Comemoração - 22.09.09

Dia do Cidadão Livramentense”

Os livramentenses residentes na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia, se reunirão no próximo dia 4 de outubro para celebrar “O Dia do Cidadão Livramentense”. A iniciativa, nascida de uma conversa entre amigos, tem o objetivo de integrar os conterrâneos que residem na capital do sudoeste baiano, e que, devido à correria do dia a dia - trabalho e estudo, acabam distanciando-se. O evento acontecerá no Sebo Viela, Livraria & Café de propriedade de um concidadão livramentense.

A escolha da data, não por acaso às vésperas do 87º ano de emancipação política do município, se propõe a comemorar a passagem de mais um aniversário de Livramento, que acontecerá dois dias após. Os organizadores pretendem transformar este dia em um marco inicial para estabelecer uma data específica onde os conterrâneos possam estar juntos para bater papo e rever amigos.

Na ocasião, os interessados terão espaço aberto para manifestações culturais, profissionais ou de qualquer outra natureza, e “quem tem habilidade musical poderá dar uma palhinha tocando e cantando em um local preparado para isso”, explica um dos organizadores, Adílio Livramento Santos. Além disso, haverá exibição de fotos e vídeos de Livramento produzido pelos próprios participantes.  “O convite é aberto a todos os conterrâneos e àqueles que desejem conhecer um pouco mais da nossa terra”, finaliza Adílio.  

Artigo - 21.09.09

Política no sertão

Por Emiliano José

A Jornada Internacional de Cinema, já em sua XXXVI edição, sempre me provoca. Participei como coordenador de uma das mesas, e novamente me senti estimulado ao debate. A Jornada, este ano, prestou homenagem a Euclides da Cunha, o imortal criador de Os Sertões. Os muitos debates e vários filmes giraram em torno do intelectual e desse episódio fundamental da história brasileira - Canudos. Um dos participantes exibiu, no decorrer dos debates, um exemplar raríssimo, uma primeira edição de Os Sertões. E uma jornalista lembrou uma crônica de Euclides da Cunha, denominada Última Visita, publicado no dia 30 de setembro de 1908, pelo Jornal do Comércio, tratando da visita de um jovem aparentando entre 16 e 18 anos a Machado de Assis na noite em que este viria a falecer.

Ninguém conhecia o jovem que se anunciara com tímidas pancadas na porta principal da casa. Perguntaram-lhe o nome. Não o disse. Declarou ser desnecessário dizê-lo. Havia lido que o escritor estava em estado gravíssimo, admirava-o muito pela leitura de seus livros, e queria vê-lo. Anônimo, o jovem foi conduzido ao quarto do doente. "Chegou. Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho filial. Aconchegou-o depois por algum tempo ao peito. Levantou-se e, sem dizer palavra saiu."

À porta, José Veríssimo perguntou-lhe o nome. "Disse-lho. Mas deve ficar anônimo. Qualquer que seja o destino dessa criança, ela nunca mais subirá tanto na vida. Naquele meio segundo - no meio segundo em que ele estreitou o peito moribundo de Machado de Assis - aquele menino foi o maior homem de sua Terra". O menino, mantido respeitosamente no anonimato por Euclides da Cunha, se saberá apenas em 1936, era Astrogildo Pereira. A Jornada, tão cuidadosamente mantida por tantos anos pela garra do cineasta Guido Araújo, é capaz de produzir uma revelação como essa, que me encantou. Não é, no entanto, especificamente dessa revelação que queria tratar. Queria falar do sertão, do sertanejo, do sofrimento, da alegria e da esperança. Aventurar-me por essas falas. Foi do sertão e do sertanejo que Euclides da Cunha cuidou em se u Os Sertões. E há um trato permanente do sertão e do sertanejo em nossa literatura. Só cito uma obra, inesquecível, para exemplificar: Vidas Secas, de Graciliano Ramos, onde Fabiano, Sinha Vitória, a cadela Baleia, as crianças, a mulher, inesquecíveis personagens revelam o Nordeste retirante e a força paciente do sertanejo. Canudos é um episódio fundamental para entender o sertanejo.

Em Canudos se revelou o espírito de luta do homem e da mulher do sertão. Canudos não se rendeu. Resistiu até o fim. Até o último homem. Toda a mística de Canudos gira em torno disso. E é uma mística fundada na realidade. Conselheiro magnetizou seus homens, mulheres, velhos, crianças, de modo que eles não se aterrorizassem com tanta superioridade armada. Foram necessárias quatro expedições para derrotar os canudenses e milhares de soldados para consumar a chacina. A República se pôs em armas para derrotar aqueles fanáticos, que haviam se disposto a criar um modo próprio de vida, baseado na solidariedade e na terra comum.

Não quero tratar especificamente do episódio, que depois de Os Sertões rendeu um incontável número de escritos, no Brasil e no mundo. Trato apenas, e aligeiradamente, das ideologias que o cercam, laicas e religiosas. A Igreja Católica, aliás, oficial e oficiosamente, mantém Canudos vivo. Lembro-me de padre Enoque mobilizando multidões no sertão de Canudos, andando por todas aquelas paragens, peregrinando por Euclides da Cunha, Monte Santo, Uauá, Canudos, por todo o cenário da guerra, e entoando cantorias, muitas delas vindas da voz e autoria de Fábio Paes, extraordinário artista do povo, que estava à mesa comigo no domingo, 13 de setembro.

O que retenho é a frase de Euclides da Cunha: o sertanejo é antes de tudo um forte. Talvez disso não se retire todas as conseqüências. Não é incomum uma espécie de elogio da inércia em muitos debates atuais. Fala-se no sofrimento, na miséria do povo sertanejo, e simultaneamente, numa quase paralisia do homem do sertão. Como se nada até hoje houvesse se modificado. Uma ideologia cheia de lamento e que afasta a política. Isso aparece, volto a dizê-lo, tanto em ambientes religiosos, mais propícios a essa visão de mundo, quanto também em cenários laicos onde a doença infantil do esquerdismo predomine.

O sertanejo seria forçado a essa paralisia. Estruturas muito poderosas o impediriam de mudar essa realidade. Tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. Esse é canto-lamento que volta e meia se ouve. Os governos não pretendem mudar nada, é o que se diz.

E não se vê o movimento do mundo. E nem o movimento dos sertanejos, autores de muitas mudanças. As coisas estão no mundo, minha nega. Só é preciso entendê-las. É Paulinho da Viola.

O Nordeste brasileiro hoje, cenário de tantas revoltas, se modificou bastante. E o sertanejo, ao seu modo, continuou lutando. E, ao lutar, muda a realidade ao seu redor. Não na rapidez que desejaríamos nós, os intelectuais. Mas no compasso da correlação de forças que ele divisa à sua frente.

Quem andar pelo sertão de Canudos, quem caminhar por todo o Semi-Árido baiano perceberá o quanto há de organização popular, de redes de associações, de sindicatos rurais extremamente ativos, senhores da história, integrados à luta, provocando políticas públicas inovadoras, amparando-se na política dos territórios, tão valorizada pelo governo Lula.

O sertanejo sabe que não pode apenas ficar modorrando em baixo da árvore, curtindo a sombra, olhando a calcinada pelo sol. E se modorrar, se ficar assuntando como quem não quer nada, é para pensar no que fazer para mudar aquela realidade. De repente, sai da modorra, da aparente preguiça, da inércia, assim como num raio, para parafrasear Euclides da Cunha, para a política, para exigir dos governos que tomem a si suas responsabilidades ou para integrar-se criativamente às políticas governamentais em andamento.

Quando vejo o governo Wagner, por exemplo, desenvolvendo um programa da qualidade e da extensão do Água para Todos, que já beneficiou mais de 1,5 milhão de pessoas no Semi-Árido, sei que isso é conseqüência não só da lucidez do governador e sua equipe mas, também, da luta dos milhões de baianos que sempre se viram marginalizados pelas oligarquias. Sempre houve a luta pela água no Nordeste, a luta pelo1 milhão de cisternas, que agora começa a ganhar contornos muito reais, sempre com intensa participação popular, que é como se executa o programa Água para Todos. A luta não pára. A vida não pára, lembrando Cazuza.

Na esteira dessa ideologia do elogio do sofrimento, há, ainda, o descarte da política. Às vezes, à esquerda, entra-se no cântico contra a política, tão desenvolvido nos últimos tempos pelo udenismo tardio que assola o País. Em algumas reuniões, há um certo temor em falar de política, da política. Alguns começam com um veja bem. "Veja bem, queria dizer que há um programa excelente do governo em execução, mas eu não estou querendo politizar o debate, não é isso..."

Ouço isso com razoável freqüência. São os envergonhados da política. Parece pecado falar em política como se tudo, inclusive essas reticências quanto à política, não expressasse, elas também, uma posição política.

O sertanejo está se rebelando contra isso. Ele participa hoje ativamente da luta política. Claro que não foi apenas o homem e a mulher do sertão nordestino que enfrentaram as oligarquias nas últimas eleições. O litoral também se alevantou. Mas os sertanejos, não há dúvida, depois de muito assuntar, viram que havia muita mentira, muita enganação em toda aquela campanha contra Lula. Afinal, a vida estava mudando, o governo estava desenvolvendo políticas voltadas para os mais pobres, e se eles estavam contra devia ser em razão do acerto da política. Da política do governo Lula.

Eles - os coronéis, os grandes fazendeiros, os grandes chefes políticos do Nordeste - nunca se conformaram com Lula presidente, e por isso queriam derrubá-lo. O sertão nordestino garantiu a eleição de Lula e de muitos governadores na região. O fim dos grotões foi obra dos sertanejos, do avanço de sua consciência. De sua consciência política. Avanços sólidos, novas hegemonias sendo gestadas, Gramsci no sertão.

E por fim cabe o registro de que a pobreza, ainda muito real, não elimina o espírito alegre do nosso povo, que não é de festejar o sofrimento. Povo nenhum vive sem cultura, e o povo do Nordeste é da cultura da alegria, é da dança, é do reisado, é do forró, é do maracatu, é da capoeira, é do bumba-meu-boi, é da sanfona, é do arrasta-pé, do forrobodó, e não faz isso somente em meio à bonança. Faz também em cenários de dificuldades, e por isso mesmo, por manter o espírito alegre, a alma em festa, é que está sempre disposto a lutar. Do seu jeito, do seu modo. O sertanejo é antes de tudo um forte.

Publicado no site da Terra Magazine (19/09/2009)

Dia da Pátria - 13.09.2009

Tema de desfile foi meio ambiente

Felipe Lima, 3 anos, adora fanfarra e fez questão de participar do desfile!

Não pudemos acompanhar o desfile de Sete de Setembro, este ano, em Livramento, mas recebemos algumas fotos da participação dos alunos do Colégio Estadual João Vilas Boas, enviadas pelo professor Ailton Freitas;  e da Escola Polivalente, enviadas pela

diretora Shirley. Mais uma vez, a juventude estudantil livramentense confirmou seu civismo e seu amor pela Pátria. Testemunhas do evento afirmam que foi um espetáculo muito bonito. Parabéns!

Soubemos que nos temas das alegorias, em todos os colégios, predominou o meio ambiente. No entanto, “O Mandacaru” recebeu uma mensagem, via e-mail, dizendo que pouco ou quase nada se tocou na mais grave questão ambiental de nosso município, que é decisão da Embasa de lançar no Rio Brumado os dejetos do sistema de esgoto da cidade de Rio de Contas. Se realmente assim se deu, foi uma pena!

Colégio João Vilas boas

Escola Polivalente