O Mandacaru recebeu comovente relato de uma criança que diz ter 11 anos e pediu para não ter seu nome revelado. No texto, a grave denúncia de que centenas de livros didáticos haviam sido descartados em um terreno baldio existente entre as ruas João Correia e Silva e Rosane Rodrigues, na cidade de Livramento de Nossa Senhora, Bahia.
Nosso repórter foi ao local, confirmou e fotografou o que pode ser indício de um crime contra a educação, os bens públicos e a própria comunidade. Vizinhos disseram ter visto um carroceiro despejando o material e que muitas pessoas saíram do lugar levando sacolas cheias, tentando salvar as publicações, a maioria sem qualquer sinal de uso.
Boa parte dos livros traz as marcas do governo da Bahia, do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), ambos do Ministério da Educação. Havia livros novos de Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, Ciências Naturais, História Geral e do Brasil, Ciências e diários de classe, de 2000 para cá.
O Mandacaru recolheu no local 12 edições do Diário Oficial da Bahia, anos 2008 e 2009, ainda lacradas com o plástico da gráfica estadual, indicado que se quer foram abertas. Uma contagem superficial feita pelo repórter indica que havia pelo menos umas 1.000 mil publicações, fora as que já haviam sido levadas por moradores e as que foram queimadas.
Mas você deve estar perguntando: quem jogou tantos livros foram, comprados com o dinheiro público? Há publicações com nome de alunos e o carimbo do Grupo Escolar “Lauro de Freitas”, que também consta nas etiquetas de endereçamento do Diário Oficial, tendo como endereço Av. Presidente Vargas, s/n, Livramento de Nossa Senhora – BA.
Este Grupo Escolar foi extinto e em seu lugar passou a funcionar a Escola Dona Tina, cujo diretor atual, Humberto de Castro Meira, ouvido pelo O Mandacaru, por telefone, confirmou que recebe muita coisa ainda com o nome antigo. Sobre o descarte dos livros, disse que ordenou uma “faxina” na escola, mas se mostrou surpreso com a denúncia dos livros jogados no terreno baldio. Pediu para se pronunciar após verificar o que ocorreu, mas não retornou a ligação até a postagem desta atualização.
UMA CRIANÇA CIDADÃ – Veja o texto da mensagem enviado pela criança de 11 anos, do qual omitimos sua identificação, sem dúvida uma criança consciente da sua cidadania:
Boa tarde, Raimundo Marinho, eu sou (...) tenho 11 anos, e queria lhe fazer um pedido: (...) existe um grande terreno que não é cercado e nem murado e mesmo com a triste realidade da degradação do meio ambiente (assunto que estudei na escola), as pessoas não tem consciência e estão jogando muito lixo, criando animais principalmente cavalos, só ontem contei uns 10 cavalos e o seu xixi e cocô trazem muito mau cheiro. O lixo traz para (as) casas muitos insetos, ratos, baratas, além de ser um criadouro do mosquito da dengue, etc...
E o que mais me impressiona foi (o) lixo jogado a semana passada, foram livros e mais livros novos, muito material que agente usa na escola. Estou triste, pois sei que muitas crianças estão indo para a escola sem livros, quanto desperdício, talvez esses livros não prestam, mas é sem dúvida uma falta de cálculo do governo e poderia também não ser lixo por ser um material reciclável.
Peço para que você divulgue a situação, pois os moradores já levaram ao conhecimento da Prefeitura e nada foi feito. Estamos sofrendo com esse lixo todo. Eu estou sempre acompanhando seu site, acho você muito inteligente, confio muito em seu trabalho. Muito obrigado, um beijo e um abraço.
Ah! Raimundo, e ainda esqueci de te falar que do lado de cima do terreno há uma quantidade de livros ainda maior, mas já queimaram todos, só que ficaram as cinzas e alguns pedaços que voaram e ficaram sem queimar! Te peço também para que não fale que fui eu que te mandou essa mensagem, pois eu tenho medo de acontecer alguma coisa comigo, só falei porque quero proteger minha cidade, que eu amo muito. Obrigado.
Clique aqui para ver mais fotos>>
Moradores das localidades rurais de Pastorador, São Gonçalo e Juazeiro, no distrito de Iguatemi, município de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, estão em estado de calamidade, desde que a região foi castigada, durante cerca de uma hora, por uma chuva de granizo, dia 5 deste mês.
Segundo testemunhas, as pedras de gelo chegaram a pesar até sete quilos. Casas foram destelhadas, árvores derrubadas, plantações destruídas e dezenas de animais mortos, principalmente galinhas e aves silvestres. Até antenas parabólicas foram rasgadas. Só não houve pessoas mortas porque se protegeram embaixo de mesas, camas e banheiros com laje.
Grande quantidade de animais mortos caiu no rio que corta a região, onde apodrecem, e a água tornou-se imprópria para o consumo humano. Há risco de propagação de doenças e a população passa por sérias dificuldades. O drama foi levado ao conhecimento do vereador, Aparecido Lima da Silva, o “Cidão de Aracatu”, que representa o distrito, e ao prefeito Carlos Batista.
Mas a população se queixa de que, até agora, nenhuma atenção recebeu do poder público municipal. De acordo com uma moradora, o prefeito teria orientado para que eles aguardassem a ajuda do carro-pipa do Exército, pois a Prefeitura não poderia interferir.
É digna de aplausos a iniciativa dos músicos de Livramento, com apoio da professora Ester Lygia, em tentar reativar o Carnaval desta cidade que já teve bons períodos de folia momesca e idem de festas juninas. Mas a falta de um governante mais responsável e que tenha amor ao labor e ao servir, vem fazendo com que esta seja a terra do “já teve”.
É profundamente lamentável que Livramento esteja hibernando em sono assustador e intolerante na área do progresso e do desenvolvimento há mais ou menos vinte e tantos anos, onde a paralisia, a incompetência e a preguiça se impregnaram acobertadas através de mandatos eletivos para garantir que homens irresponsáveis e enganadores ocupem as cadeiras do epicentro do poder municipal – Prefeitura e Câmara – promovendo o comando administrativo da cidade como se esta fosse, ou propriedade deles ou garantia de empregos, de dinheiro fácil (salários bons, benesses e privilégios) sem se preocuparem em prestar contas a nossa sociedade.
E o mais triste (e põe tristeza nisto!) é ouvir de parte do povo que só ganha o poder público em Livramento os candidatos do empresariado local (os reis da manga e os donos de lojas de fachadas) que bancam suas campanhas e gastam fortunas para elegê-los, não se sabe a troco de quais interesses. Isto é mais do que uma prova criminosa de que política em Livramento é um balcão de negócios e o eleitor o capacho que se vende e que o dinheiro compra.
Depois, esse mesmo povo fica a se queixar que Livramento é um atraso de vida, o poder está sempre nas mãos do tráfico da compra de votos e não vemos por aqui universidades, indústrias, desenvolvimento, progresso e ainda ficamos sem Carnaval e São João.
*Yonélio Sayd - jornalista, radialista, editor do jornal Folha Regional
No período de Carnaval, uma pessoa foi violentamente atropelada e morta, tendo sido partida ao meio, na rodovia que liga Livramento de Nossa Senhora à vizinha cidade de Rio de Contas, trecho conhecido como “Bica da Cintia”, neste último município. Foram enviadas fotos chocantes ao O Mandacaru, mas ainda não temos a identificação da vítima, que foi arrastada pelo asfalto, deixando vísceras pela pista. Faltaram também número da placa do veículo e nome do motorista atropelador.
Que significado se poderia atribuir à iniciativa de um grupo de músicos de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, empenhados em resgatar, a partir deste ano, a participação dos livramentenses na festa carnavalesca? O Carnaval é uma festa global, mas a participação é peculiar a cada localidade, a cada cidade, o que vem a se caracterizar uma tradição, como os caretas de Rio de Contas, o trio elétrico e os blocos, em salvador, as escolas de samba, no Rio de Janeiro, e assim por diante.
Como era, então, a festa de carnaval em nosso município? O que teria marcado época nesse sentido? As marchinhas, as fantasias, o romantismo, a bebedeira? Há de haver um aspecto peculiar, quanto a isso. Ou seria apenas retomar uma coisa que acabou, em nossa cidade, assim como o São João, que chegou a ter repercussão regional, mas que também desapareceu, ao contrário de vizinhos como Macaúbas, que já virou pólo da festa?
O grupo de saudosistas (aqui, no bom sentido) reúne, sem dúvida, pessoas conhecedoras do assunto, como a ex-secretária municipal da Educação, Ester Lígia Machado, e seu marido Silvério Almeida. É preciso lembrar a emoção de “Pombo Correio” (Moraes Moreira), cantada no desfile resgatador; além, claro, de “Eu vou botar o meu bloco da rua” (Sergio Sampaio) e “Máscara Negra” (Zé Keti). Só faltaram as vaias aos gestores públicos pelo pouco caso que fazem diante de, entre outras coisas, nosso sentimento artístico e cultural.
Com seu gesto simples, de pouca afluência popular, os músicos, porém, mandaram um recado para quem de direito. Mas não devem esperar nada do governo e muito menos dos empresários! Primeiro, porque nosso governo é predador, infelizmente, e os empresários não enxergam possibilidade de vida onde não houver perspectiva de lucro. Então, a solução é a auto-suficiência, pela conscientização, mobilização de esforços, determinação e objetivos precisos. As ajudas, claro, devem ser buscadas, mas sempre como acessório.
O caráter festivo (Carnaval, São João, reisados etc.) é um estimulante alegre, gozoso, mas há muito mais a resgatar da cultura, arte, arquitetura e urbanismo, que, talvez, até mesmo devesse merecer mais preocupação: engenhos de moer cana-de-açúcar; rodões de fazer farinha; máquinas de beneficiar arroz; sistemas rudimentares de irrigação; sítios ecológicos; sítios históricos; casarões coloniais; o rio Brumado e sua bela cachoeira; e tantos outros, hoje totalmente carentes de proteção e preservação.
Veja, por exemplo, o arraial da Rua do Areão e Rua do Fogo, possivelmente as primeiras povoações de Livramento, totalmente desfigurados; o Casarão dos Alcântara, desmoronando ao lado do gabinete do prefeito; a Casa do Barão, clamando por tombamento; o piso colonial do Tomba e da Praça da Bandeira, insensatamente substituído pelos funestos paralelepípedos; com a autorização de administradores igualmente lúgubres.
Nossa dignidade hoje está resumida, tudo por falta de reação à altura, ao que nos chega da vizinha cidade de Rio de Contas, na forma eufemisticamente designada de “efluentes sanitários”. Ou seja, permitimos que nos tornássemos, passivamente, desprezíveis sunitas ambulantes, curvando-nos, até o ponto onde as calças caem, diante da incúria dos que nos governam. Pobre de nós, pierrôs sem se quer uma columbina para procurar na multidão.
Pobre de nós, que nem mesmo temos um bloco para botar na rua. Pobre de nós - médicos, advogados, empresários, comerciantes, comerciários, servidores, educadores, estudantes, professores, donas de casa, trabalhadores rurais - sem salão e sem avenida para desfilar (ou para chorar). Pobre de nós que nem conseguimos mais repetir os versos de Sérgio Sampaio: “Há quem diga que eu dormi de touca/Que eu perdi a boca/Que eu fugi da briga/Que eu cai do galho e que não vi saída/Que eu morri de medo quando o pau quebrou”.
Clique aqui e leia nosso poema “Perdidos no caminho, sem Maiakovski”, postado em 27.08.2009.
Um prédio bonito, azul, dois andares, foi construído em tempo recorde no bairro Benito Gama, na periferia da cidade de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, habitado predominantemente por pessoas carentes, o mesmo onde se encontra inacabado um conjunto de moradias populares, com 181 unidades. Na fachada do prédio azul, consta, em letras grandes, a expressão “Indústria Cidadã”, mas lá, segundo moradores da vizinhança, funciona apenas um curso de capoeira.
Assim como ocorreu com o conjunto habitacional em construção, a Prefeitura não respondeu ao pedido de informações encaminhado à sua Assessoria de Comunicação pelo O Mandacaru. A solicitação incluía dados sobre a finalidade do prédio, responsáveis pela construção, participação da Prefeitura e o que quer dizer “indústria cidadã”. O porte do edifício, embora agrida o gabarito da área, pela altura e aparente suntuosidade, indicaria tratar-se de benefício relevante para aquela área da cidade, embora esteja abrigando um mero curso de capoeira.
DESENVOLVER O INTERIOR - Não obstante a omissão da administração municipal, conseguimos a informação, via internet, dando conta de que “Indústria Cidadã” é um programa da Superintendência de Desenvolvimento Industrial e Comercial (SUDIC), autarquia vinculada à Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do Estado da Bahia, cujo objetivo é divulgar as políticas industriais do Estado, promover a diversificação de sua matriz industrial, além de fomentar a interiorização do desenvolvimento.
A finalidade do programa, lançado em 2007, é fomentar e incentivar o desenvolvimento sócio-econômico dos municípios baianos, identificando e aproveitando as potencialidades produtivas locais, a fim de criar empregos e gerar renda, assegurando a permanência do cidadão em sua cidade. Assim, “incentiva o surgimento de novas cadeias produtivas, com participação de pequenos produtores e valorização da mão-de-obra e matéria-prima locais”.
INDÚSTRIA DA CAPOEIRA? - Livramento, pelo visto, está entre as várias cidades contempladas, por preencher os requisitos exigidos, entre os quais localização prioritária no semi-árido; baixo Índice de desenvolvimento humano (IDH); e disponibilidade de mão-de-obra. Cabe às prefeituras acompanhar e dar suporte ao programa.
Mas em Livramento de Nossa Senhora, por enquanto, a única utilidade encontrada para o prédio, chamado “Galpão Multifuncional”, teria sido, segundo testemunho dos moradores do bairro, um curso de capoeira, não previsto no projeto da SUDIC, que, certamente, não pensou em tão ampla multifuncionalidade. E o prédio ganha cara de “elefante azul”, em lugar do tradicional “elefante branco”.
O sistema de esgotamento sanitário da cidade histórica de Rio de Contas, Bahia, inaugurado em 22 de janeiro pelo governador Jaques Wagner, não está funcionando satisfatoriamente, oferecendo risco também para a própria população local. Um morador que pediu para não ser identificado disse que há suspeitas de que as estações elevatórias não estão bombeamento os dejetos para a estação de tratamento, que fica acima do nível da cidade.
Esse morador se queixa de que, às vezes, ele e sua família não conseguem dormir, devido ao mau cheiro, que tudo indica é exalado da estação elevatória e dos bueiros próximo à sua casa. Com a suspeita de mau funcionamento das elevatórias, a população teme que, além do mau cheiro, haja o refluxo dos próprios dejetos para as ruas e, no caso extremo e mais perigoso, até mesmo para as residências.
O sistema é composto de rede coletora, que capta os dejetos nos imóveis – residências, casas comerciais, hotéis, clínicas etc. – e os transporta para duas estações elevatórias. Estas estações, através de bombeamento, deveriam levar os dejetos para a estação de tratamento. Como tudo indica que isso não vem ocorrendo satisfatoriamente, a sujeira acaba refluindo para os pontos de origem.
Segundo moradores, para evitar o refluxo e o mau cheiro, a Embasa estaria abrindo as elevatórias e despejado os dejetos in natura no Rio Brumado, ampliando a desastre, pois seguem rio abaixo, passando pela Cachoeira do Fraga, em Rio de Contas, e Cachoeira de Livramento. Um arquiteto da cidade, que trabalhava no Iphan, alertou, bem antes da inauguração, para esse risco, mas não foi ouvido.
Essa teria sido uma das razões pelas quais foi evitada a inspeção da obra, pelo governador, pelo que este também não se interessou, apesar da importância atribuída ao empreendimento. Jaques Wagner deu o sistema por inaugurado de cima de um palanque, no centro de Rio de Contas. O problema poderá se agravar no Carnaval, quando os visitantes multiplicarão a população da cidade.
Um conjunto habitacional, de moradias populares, está em construção no bairro periférico Benito Gama, em Livramento de Nossa Senhora, Bahia, no total de 181 casas, cada uma composta de 2 quartos, sala, cozinha e banheiro. O projeto, orçado em R$1,536 milhão, é do Ministério das Cidades e financiado com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), através da Caixa Econômica Federal.
As 181 unidades habitacionais, aparentemente destinadas a famílias de baixa renda, estão todas construídas, mas faltando o acabamento e instalação de equipamentos, como água, luz e esgoto. As obras se encontram praticamente paralisadas e, com poucas pessoas trabalhando no reboco interno e externo. Trabalhadores que encontramos no local evitaram dar declarações.
Há uma semana, solicitamos informações da Prefeitura de Livramento, através da Assessoria de Comunicação, mas não obtivemos resposta. Entre outras indagações, perguntamos se existia e qual era a participação do município nas obras; quem seriam os beneficiários e quais os critérios de distribuição das casas; prazo do financiamento e valor da prestação individual; e quando as moradias seriam entregues.
Sem dúvida, um projeto necessário e bem vindo para nosso município, dada à carência de moradias dignas, principalmente no bairro Benito Gama. Estranho, portanto, o silêncio da administração municipal.
Em nota ao O Mandacaru, via e-mail, a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA informa que o município de Livramento de Nossa Senhora, ao lado de Brumado e Dom Basílio, foram incluídos nas pesquisas para desenvolvimento do cultivo do chamado umbu ou imbu gigante, derivado do imbu tradicional, muito conhecido pelos sertanejos.
O fruto comum tem, em média, 3 cm de diâmetro e a nova espécie, segundo a EBDA, poderá alcançar até cinco vezes esse tamanho, representando importante fonte alimentar e também de renda, através da comercialização in natura, para as famílias do semi-árido baiano. É produzido por uma árvore de pequeno porte, chamada umbuzeiro ou imbuzeiro, originária do Nordeste brasileiro.
Segundo a diretoria da EBDA, “a cultura do umbu vem se destacando como boa alternativa econômica para a produção familiar do semi-árido e a Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária, por meio da EBDA, tem investido em pesquisas e assistência técnica, para garantir o cultivo do fruto no período da seca”. Destaca que “até o ano passado, já haviam sido distribuídas em torno de 24 mil mudas de umbu com variedades gigantes nos municípios de Livramento e Dom Basílio”.
Um grupo de foliões saudosistas, que se autodenominou “Movimento Cultural dos Músicos Livramentenses” (77 9975-2045, carnavallivramento@gmail.com e Orkut), quer matar a saudade, neste Carnaval, e convida: “Vamos Botar o Bloco na Rua?”, que por si só já lembra, ao mesmo tempo, a genial composição do inesquecível Sérgio Sampaio (“Eu quero é botar o meu bloco na rua”).
O grupo distribuiu mensagem, dizendo que, reunidos, indagaram: “por que não fazer e por que fazer o carnaval em Livramento?”, pois “em cidades vizinhas e circunvizinhas já existe o carnaval e com uma participação muito grande de foliões de nossa cidade e de diversas cidades da região. Talvez, se o poder público fizesse, o livramentense não participasse, em virtude de ter-se perdido a tradição, transformando-se assim em um evento insignificante e de pouco valor”.
E perguntam mais: “Quais são mesmo os nossos valores? Nossa história, nossa cultura, nossa memória, é claro. E isso tudo estamos perdendo no tempo, já que valorizamos mais a cultura do outro do que a nossa. Estamos sentados olhando as ‘coisas’ acontecerem e ficamos de braços cruzados, deixando que elas aconteçam a seu bel-prazer, à deriva”.
Então, decidiram “juntar forças, a princípio num pequeno movimento”, novamente questionando: “já que não se pode fazer um evento de grande porte, agora, por que não recomeçamos, remodelamos, adaptamos e fazemos um evento pequeno, sem pretensões lucrativas, mas com a primeira finalidade de resgatar a nossa cultura, que há muito andou engavetada, tolhida, sufocada como um nó na garganta de cada livramentense?”.
Por fim, prometem fazer mobilização, nesse sentido, e pede apoio, informando que o “Trio Beleza Pura pretende voltar e sair nos dias 14 e 16 de fevereiro de 2010 a partir das 17 horas, concentrando-se na Praça D. Hélio Paschoal, espalhando alegria pelas principais ruas da nossa Cidade”. Então, pegue a letra de “Eu quero é botar o meu bloco na rua”, da composição de Sérgio Sampaio:
Há quem diga que eu dormi de touca
Que eu perdi a boca
Que eu fugi da briga
Que eu cai do galho e que não vi saída
Que eu morri de medo quando o pau quebrou
Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa
Mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou
Eu quero é botar meu bloco na rua
Brincar, botar pra gemer
Eu quero é botar meu bloco na rua
Ginga pra dar e vender
Eu por mim queria isso e aquilo
Um quilo mais daquilo
Um grilo menos nisso
É disso que eu preciso
Ou não é nada disso
Eu quero é todo mundo nesse carnaval
Eu quero é botar meu bloco na rua...
Há quem diga que eu dormi de touca...
Há quem diga que eu não sei de nada...
Eu quero é botar meu bloco na rua...
Não dou sombra nem encosto, é o que dizem de mim. A sombra aconchega, protege, conforta, inspira, dá prazer. Nada disso Deus me deu. O encosto descansa, alivia, socorre de "mal da hora", até da tontura da fome, da sede. Isto também o homem diz que não dou.
Mas o Criador sabe o que faz: não tenho folhas, tenho espinhos. Se as tivesse, o sol que arde e a tudo seca não me permitiria ter um verde exuberante, que conforta meus irmãos sertanejos quando, na caatinga seca, buscam um sinal de vida, um ponto de fé. Grandioso, ele ainda reserva em mim a derradeira esperança e o último sustento dos bichos pastoreios, que no final não têm "de cumê".
"Ele" foi tão bom que me fez como um caminho de justiça. Só o homem pode retirar de mim o sustento seu e dos seus. E quando faz para estes, dá os meus pedaços doídos aos que mais precisam, aos que já estão no girau. Depois eu rebroto, eu revivo sem sombra e sem encosto, mas com o verde da esperança.
Deus me deu o sentido da mãe protetora. Em mim, entre meus raros e espinhentos galhos, os mais fracos fazem os ninhos, na defesa dos que mais podem. Quem em mim faz o "berço" para a procriação dos seus, lagartixa não bebe ovo nem viril gavião come as indefesas e depenadas criaturas que, mais tarde, enfeitam, voando no espaço infinito do céu.
Depois de tudo isso, quando eu "fuloro", a chuva chega e dá o meu eterno verde ao resistente sertão.
(Manhã de 25/09/07, depois de fotografar, no sertão, um ninho num pé de mandacaru)
Se o sertão virá má,
Asa branca vai sofrê,
Nunca mais vai avuá.
O céu fica de luto,
Todos bicho vai chorá.
Chora cobra, lagartixa,
Véi tatu não vai cavá.
Sofre a terra, sofre gente,
É mió quetá cum isso,
Deixá tudo cumo tá.
Adimais isso tudo,
Só tristêza e lamento.
Priá não vai corrê,
Jegue não vai rinxá,
Sabiá sem puisia,
Bem ti vi sem aligria,
Umbuzêro tão bunito,
Mermo pelado ou frorido,
Imbu não vai dá.
Mandacaru, qui tristeza,
Cum todo seu incanto,
Cum toda sua belêza,
Fulô? não vai botá.
E pur tudo quanto dito,
A natureza vai sofrê.
Unha de gato e jurema,
Xique-xique e juazêro,
Tudo pranta sempre forte,
Risistente o tempo intêro,
Vai de uma veiz morrê.
Não fais questão de chuva,
Pois elas já foi feita,
Pru sertanejo socorrê.
Itonce Pai Criadô?,
Não iscuta as palavra,
Não iscuta essa praga,
De sertão virá má.
Sertanejo qué é páiz,
Sertanejo qué armunia.
Deixa nóis nesse canto,
Mermo qui seja com sêca,
No doce sertão da Bahia.
Gilberto Martins Brito, baiano de Paramirim, na Bahia, bacharel em Direito, delegado da Polícia Civil, foi prefeito da sua cidade, deputado estadual desde 2003. Fruto do amor de Ulysses e D. Dulce, gerou, junto com Maria Célia, em colaboração com a obra de Deus, Danilo, Marina e Diana. Homem do sertão, menestrel da política e da caatinga.
Tem uma extensa obra parlamentar: mais de 200 discursos, quase 200 projetos de lei e projetos de resoluções e mais de 100 indicações ao Executivo e diversos órgãos públicos. Muitos dos projetos são dedicados ao sertão: barragens subterrâneas, bosques de algarobas, incentivo ao feijão catador, técnica de desenvolvimento rural nas escolas, desenvolvimento da fruticultura nos vales do Paramirim e Rio Brumado, ecoturismo e turismo sustentável, proteção do bioma da caatinga, incentivo à produção e consumo da mandioca e seus derivados.
No seu foco, também os menos favorecidos e os direitos do cidadão: incentivo fiscal a empresas que treinam adolescentes com deficiência, de empresas que compram material reciclado, devolução do valor da matrícula a quem desistir do curso, proibição de cobrança de taxa em sanitários de terminais rodoviários, obriga concessionária de energia a orientar consumidor sobre consumo dos aparelhos em stand-by, proibição de depósito prévio como condição para internação em hospitais privados, caixa eletrônico em braile e com áudio.
Nosso menestrel ainda encontra tempo para se dedicar às “Coisas do Gilberto” - espaço de fotos, em seu blog, com poemas e textos diversos, de sua autoria, de onde tiramos os poemas acima, verdadeiras pérolas sertanejas. No texto “Sou Mandacaru”, Gilberto, obviamente, não se refere a este site, mas a uma planta típica do semi-árido brasileiro.
Todavia, coincidentemente, seu texto é uma genuína tradução do nome, do símbolo e dos propósitos deste portal, como expresso na apresentação da nossa primeira edição, que é anterior ao poema do deputado. Não por isso, mas pelo seu currículo e sensibilidade poética e humanística, deveriam existir mais políticos assim!