Professora
Ele pode ter nascido Lago, mas, aos poucos, tornou-se um oceano de talentos. "Atire a primeira pedra" aquele que nunca ouviu falar de Mário carioca, cantor, compositor, radialista, militante do Partido Comunista, escritor, poeta, advogado, ator. Um artista multifacetado. Mário de Aurora, de Amélia, mulheres que o inspiraram, nascidas do seu universo criador!
Parece-me que Aurora não foi muito sincera com o nosso ilustre poeta: "Se você fosse sincera, ô, ô, ô, ô, Aurora...". E Amélia foi realmente aquela mulher de verdade, símbolo de submissão, pois não tinha vaidade e acima de tudo, às vezes, passava fome ao lado do homem amado e até achava bonito não ter o que comer. "Ai, meu Deus que saudades de Amélia, aquilo sim é que era mulher...".
Essas foram somente musas inspiradoras que protagonizaram suas canções mais populares e ele as tornou famosas em nosso país. Tantas Auroras, poucas Amélias, mas se enamorou mesmo, de verdade, foi da D. Zeli, que não havia entrado na história e foi sua companheira por muitos anos. Quando morreu a esposa querida, ele desabafou: "Nossa cama agora será como o Maracanã vazio". "Estava escrito nas estrelas! Se eu soubesse que era tão bom, teria casado antes."
Mário, ícone da cultura brasileira, imortalizou-se com seus sambas, poesias e marchinhas carnavalescas. Inspiração é que não faltou para compor mais de duzentas músicas, algumas em parceria com Ataulfo Alves e Custódio Mesquita.
"Nada além" de muitas ilusões da vida, esse irreverente artista, mesmo sendo demais para o seu coração, nunca perdia o otimismo: "Quando deixarmos de ter esperança é melhor apagar o arco-íris". Guardava vivas as lembranças e, não saudades, pois, para ele, o tempo não comprava nunca passagem de volta e, categoricamente, dizia que não ficava na calçada para ver o desfile passar... ia sempre junto.
Diariamente, levava a vida na flauta, para ela sentir que não o amedrontava, porque o pior de tudo é quando ela sente que sentimos medo dela. Com esse jeito de filósofo carioca, boêmio e franco, Mário Lago viveu 91 anos. Tinha certeza que chegaria até hoje, seu centenário (1911-2011). "Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo; nem ele me persegue, nem eu fujo dele... Qualquer dia a gente se encontra".
E se encontraram! Mário saiu de cena. O teatro ficou mais vazio, as novelas empobrecidas, o samba emudeceu. Ficaram as lembranças. Muitas lembranças!
Lucas Pessoa Almeida, aluno 2º ano do ensino médio, venceu a etapa regional do Concurso de Artes Visuais Estudantis – AVE, promovido pela Secretaria da Educação da Bahia, através da rede estadual de ensino. Ele estuda no Colégio Estadual Edivaldo Machado Boaventura, em Livramento de Nossa Senhora, e vai representar a Direc 19 (Diretoria Regional da Educação) na etapa estadual, em Salvador, disputando com os vencedores das demais regiões do Estado.
Lucas, que mora no bairro Jurema, onde residem famílias de baixa renda, concorreu com a obra intitulada “As duas faces da humanidade”, que se destacou, dentre os 21 participantes, na exposição realizada no Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães, na cidade de Brumado, sede da Direc 19. O jovem filho de trabalhadores rurais e que nunca saiu de Livramento, terá, agora, a oportunidade de conhecer Salvador, na última etapa da competição
A iniciativa do governo estadual é considerada não só um projeto de inclusão artística, mas também abre os horizontes mentais dos participantes, ao colocá-los em contato com ambientes e situações que fazem desenvolver suas habilidades sociais e de comunicação. Nesse sentido, a direção do Colégio Boaventura, representada pelo diretor José Maria de Jesus, destaca o papel do estabelecimento, empenhando-se na realização e divulgação do evento, sendo a terceira vez, em três anos, que classifica alunos para a etapa de Salvador.
Professora
Mal chegamos em frente ao “portão” do TCA, já nos emocionávamos ao sentir e antever o que nos esperava ao ultrapassá-lo. Seria ele, o “Rei”, que viria, elegante e sorridente, como sempre, perante seus “súditos”, para mostrar o seu canto, mais uma vez, na cidade de São Salvador da Bahia, por si mesma já tão cheia de encantos e magia.
Não era uma jovem tarde de domingo, mas uma noite agradável, com muito romantismo no ar, de uma sexta-feira atípica para muitos soteropolitanos. Em vez dos barzinhos e de uma cervejinha gelada, uma grande multidão desviou-se desse caminho, tão rotineiro, e foi lotar a sala principal do Teatro Castro Alves, para ouvir o Rei Roberto Carlos.
Rei, sim! Pedimos desculpas àqueles que não concordam, o que não faz muita diferença, diante do que foi mostrado, em matéria de mega evento artístico e de público. Detalhes muito pequenos de todos nós foram sendo revelados, pouco a pouco, pelo dono da voz inconfundível, ao cantar o amor.
Isso não é só um desabafo! Ante aquela platéia, ansiosa por mais uma canção, a nostalgia contagiava um por um dos súditos em reverência diante do placo, tanto iluminado pelo belo e engenhoso jogo de luz quanto pela aura de um artista, que praticamente se tornou uma unanimidade.
Cada verso, falado ou cantado pela majestade, era um transportar imediato para o universo das emoções pessoais outrora vividas, marcadas por tantas canções, ano após ano. Muito além do horizonte, ele nos proporcionou momentos inesquecíveis.
Cavalgamos por toda a noite nos acordes suaves do piano, nas cordas do violão, que, solitário, trazido de algum canto do palco e brotando da penumbra da iluminação, de repente tornou-se imponente nas mãos imperiais daquele que nos convidou a fazer coro com ele.
A canção escolhida, naquele momento, foi um dos seus hinos de celebração ao amor, pois, para quem muito ou pouco amou nessa vida, haverá sempre coisas muito grandes para esquecer, e ali elas se faziam presentes, pois nós as vimos e sentimos.
Dono de uma simplicidade emoldurada pelo elegante traje de linho branco, Roberto brindou junto aos músicos, que há anos o acompanham, o sucesso da sua música e da vida e, no final de cada canção, o rei reverenciava seus súditos, num gesto humilde, sinal de reconhecimento e de amizade.
Luzes, refletores, ação e canções conspiraram a seu favor, enfeitando aquela noite no TCA. Não faltou nem mesmo espaço para a melancolia, quando, num corte de luz, ele anunciou, em forma de música, os amores que um dia partiram:
“Quando você se separou de mim. Quase que minha vida teve um fim. Sofri, chorei tanto que nem sei. Tudo que chorei por você, por você oh, oh, oh. Quando ...”.
Foto: Raimundo Marinho |
Claro que ele sabe e não se esquece de nenhum deles, como da saudosa mãe, D. Laura, homenageada de forma singela na letra:
“Tenho às vezes vontade de ser/Novamente um menino/E na hora do meu desespero/Gritar por você/Te pedir que me abrace/E me leve de volta pra casa/E me conte uma história bonita/E me faça dormir ...Lady Laura... Lady Laura...”.
A sua fé inabalável em Jesus Cristo é notória em todo seu viver. Sentindo-se envolvido pelo manto sacrossanto da Virgem Maria, embalou a todos numa verdadeira oração: “... Nossa Senhora, me dê a mão /Cuida do meu coração/ Da minha vida, do meu destino/ Do meu caminho, cuida de mim ...”.
Roberto sabe, como ninguém, interagir com as pessoas, muitas gritavam o seu nome ou simplesmente o chamavam pelo epíteto: "Meu Rei". Cantou banalidades, também, pois não podiam faltar, naquele momento, o que, até hoje, não faltam em muitos relacionamentos por aí a fora, como se apaixonar pela namoradinha de um amigo e, mesmo sabendo ser proibido fumar, fuma-se.
São as tais "propostas indecentes" que surgem no dia-a-dia de nossas vidas. Então, "E aí, Bicho? É uma brasa, mora!". Bem humorado e sem disfarçar a emoção, ele recordou a história de seu Axaxá de estimação, nome de um cachorrinho, personagem de uma historinha infantil que enfeitou seus dias de menino, no seu pequeno Cachoeiro do Itapemirim.
Axaxá tornou-se inspiração para uma das suas canções preferidas e mais populares: "Eu cheguei em frente ao portão, meu cachorro me sorriu latindo, minhas malas coloquei no chão e voltei...".
Mesmo cantando “Meu retrato ainda na parede/Meio amarelado pelo tempo/Como a perguntar/Por onde andei?” e já no alto dos seus 70 anos, completados em 19 de abril último, Roberto mostrou jovialidade e cantou, de forma segura e equilibrada, por cerca de duas horas.
Talvez a resposta para esta aparência conservada esteja na força propulsora que vem da sua inspiração, de saber cantar essa coisa liberada ou proibida, de saber mesclar amor e sexo, encaixando-os, na arte da canção, de forma perfeita, como no côncavo e no convexo. Tudo isso faz dele um homem revigorado, tanto quanto as suas músicas em nossas vidas.
E, no auge da sensualidade plena, daquela noite iluminada, ele brindou o amor: “Eu te proponho/Nós nos amarmos/Nos entregarmos/Neste momento/Tudo lá fora deixar ficar/Eu te proponho/Te dar meu corpo/Depois do amor/O meu conforto/E além de tudo/Depois de tudo/Te dar a minha paz...”.
Quem não se sente verdadeiramente feliz ao ouvir algo assim? É a sublimação do amor! Um bálsamo para os corações apaixonados!
O reconhecimento de que as músicas do Rei marcaram gerações é indiscutível. De repente, até você, leitor, que diz não se simpatizar com o seu repertório meloso, até sem se dar conta, vê-se cantarolando as canções por ele interpretadas, como Amor Perfeito, que você, talvez só conheça por ouvi-las nas vozes de outros cantores ou crooners de bandas, como, respectivamente, Cláudia Leite e Chiclete com Banana, na música cuja letra diz: "Fecho os olhos pra não ver passar o tempo, sinto falta de você..."
Roberto Carlos é assim, misto de paixão e entrega quando está no palco. Forte, impetuoso, sedutor ao cantar o amor e frágil diante das mulheres que amou. Em cada sonoro "Eu te amo, eu te amo, eu te amo", há a confissão plena de tudo isso.
E eu, de onde estava, naquela platéia de admiradores, pude constatar que, realmente, "Quando eu estou aqui eu vivo esse momento lindo..." Foram, assim, “muitas emoções" que senti. Vê-lo e ouvi-lo, ali tão perto, ao vivo, foi coroar a noite cheia de expectativas preenchidas de canções que são puras recordações de épocas distintas da minha vida.
E Sua Majestade, o Rei Roberto Carlos, não só da conhecida Jovem Guarda, mas de toda MPB, distribuindo rosas brancas e vermelhas, convidou a mim e a todos seus seguidores a não esperar por uma vida feita de ilusão, ter coragem pra não sofrer mais tarde, pois é divino saber viver. E viver na plenitude todo o amor que existir no mundo.
Ele conseguiu tornar a noite do dia 18 de novembro inesquecível para nós. Mas, embora dizendo-nos tanto e com palavras, mais uma vez não conseguiu dizer a dimensão de tantas emoções. De qualquer maneira, está sempre a nos lembrar para que digamos, constantemente:
“Eu tenho tanto pra lhe falar/Mas com palavras não sei dizer/Como é grande o meu amor por você/E não há nada pra comparar/Para poder lhe explicar/Como é grande o meu amor por você/Nem mesmo o céu nem as estrelas/Nem mesmo o mar e o infinito/Não é maior que o meu amor/Nem mais bonito”.
Jornalista
Conforme publicado na página Mensagens recebidas via e-mail, deste site, Luzimar Lima Santana (luzimar-lima@hotmail.com) escreve-nos, indagando:
Raimundo eu não sei o porquê você colocou essa reportagem. Tão sofrida, as imagens são muitos fortes, pois ninguém merece ver tudo aquilo porque cada um tem um sentimento e tem gente que não aguenta vê-lo eu não sei onde você quis chegar com isso. Se nós pudéssemos ajudar todos nós ajudaríamos, mas eu tenho certeza que isso não resolve só vai fazer muita gente sofrer com essas fotos, é triste ver tudo isso ai. Mas com muito respeito eu admiro o seu trabalho, mas esse ai me comoveu muito fiquei muito triste.
A indagação é compreensiva, tanto mais por conter um modo hábil de censurar, característica que predomina entre nossos conterrâneos espiritualmente sensíveis e admiradores deste portal, pelo que muito agradecemos. A resposta, entretanto, está na introdução do texto referido (“Quando o passado nos condena, não pode simplesmente passar!”, o que é complementado pelas próprias palavras de Luzimar.
Não de propósito, o título do texto subsequente, da professora Márcia Oliveira, também nos socorre, na inspirada frase da grande Raquel de Queiroz: “Porque a vida toda é um doer”. É tão difícil abordar questões mais profundas entre nós, o que muito comove e também entristece este jornalista!Lamentavelmente, somos mais atraídos pela inglória periferia do existir, longe dos preceitos divinos.
Em verdade, nosso quotidiano é um contínuo construir de pequenos holocaustos. Felizmente, poucos se assemelham ao feito dos nazistas, para o qual só poderia haver uma explicação bíblica. Nesse caso, aumentaria nossa razão em considerar que nunca deve ser esquecido. Gosto sempre de remeter os leitores para o livro “Horror Econômico”, da escritora francesa Viviane Forrester.
Não deveria ser necessário se evocar imagens tão chocantes para não se esquecer o que nunca deveria ter ocorrido, que dirá ser repetido, como as ações bestiais de Hittler e seus seguidores. Lembrar e repudiar são formas de ajudar, de contribuir para que nunca mais se repita. Ser protagonista indefeso do horror é imensuravelmente mais doloroso do que lembrá-lo e repudiá-lo sempre.
Antes de ordenar a matança de milhões de pessoas, Adolph Hittler mentiu, enganou, trapaceou e seguiu rotinas aparentemente singelas, aceitas sem enfrentar a reação exigida. Teria chegado ao ponto do seu ministro da propaganda, Paul Joseph Goebbels, supostamente ter dito, cinicamente, que “uma mentira dita repetidamente com convicção pode ser transformada em verdade”.
No meio de nós, guardada as circunstâncias e devidas proporções, não é diferente. Em nosso quotidiano somos obrigados, por exemplo, a ouvir aplausos incompreensíveis a teses absurdas, como a de que uma família pode sobreviver com R$125,00 por mês, em meio ao discurso de que o próprio salário mínimo, hoje de R$545,00 já não cobre os custos básicos de vida. Isso qualquer pessoa pode calcular!
Só no Brasil, cerca de 17 milhões de pessoas vivem em pobreza extrema. Em Livramento, pobres e miseráveis somam quase 90% da população. Não deixa de ser um holocausto silencioso e terrificante. Ainda no Brasil, os líderes recomendam a servidores corruptos que reajam como “cascas duras”. Para esquecer malfeitos, a presidente repete, simploriamente, que “o passado simplesmente passou”.
Não há dados estatísticos seguros, mas se estima que a fruticultura rende cerca de R$1 bilhão por ano, em Livramento, ao que se somam ganhos de outros setores produtivos. Mas os trabalhadores rurais ganham menos de um salário mínimo por mês, sem qualquer direito trabalhista ou previdenciário. Desempregados ou subempregados, também não há futuro profissional para os jovens, principalmente os pobres.
O alerta de Viviane Forrester, referindo-se à França e Europa, a que nos igualamos, nesse sentido, é de que não há qualquer interesse capitalista em sanar, em favor das pessoas, a falta de empregos, embora haja todas as condições para isso. A negativa faz parte das estratégias de dominação política e manutenção da lucratividade, o que, acredito, aplica-se também entre nós, Livramento incluso.
Ai embutido, ela vê o que seria o mais tenebroso dos holocaustos, a eliminação do excedente humano desempregado, a ser considerado dispensável. Tudo começou quando o ser humano passou a ser apenas peças das engrenagens de produção. Não adiantou o alerta de Charles Chaplin (O Grande Ditador): “Não sois máquinas, homens é que sois”. Resta se atentar para a voz da professora Viviane.
Assim, se nada for feito, o excedente humano, que se dirá dispensável, se sobreviver à fome, às doenças e à indignidade, poderá vir a ser eliminado, em outro holocausto, cujas fotos vão nos chocar tanto quanto fazem, hoje, as de 1944. Um jornalista vai publicar, outra Luzimar ficará comovida e triste. Deus, travestido de Carlitos, haverá de dizer: “Não sois máquinas, não sois homens, estúpidos é que sois!”.
Conforme relato do diretor José Maria de Jesus, “depois de fazer extensa pesquisa durante toda semana os estudantes do Colégio Estadual Edivaldo Machado Boaventura [Livramento de Nossa Senhora, Bahia], comemoraram, no último dia 17, o Dia da Consciência Negra, dedicado a Zumbi dos Palmares, grande guerreiro que lutou até a morte para proteger e libertar seus irmãos da escravidão”.
Acrescenta que “na oportunidade, foram apresentados o histórico da chegada dos negros ao Brasil, dificuldades que enfrentaram, sua cultura, principais personalidades negras no mundo, no Brasil e em Livramento, poesias, cantos e toda a cultura afro, através da música, dança, culinária e do artesanato”.
Além disso, foram expostos cartazes e vídeos sobre a situação dos negros nos dias atuais e houve uma palestra do professor Cidelmo Santos, pedagogo, da cidade de Guanambi. A pedido, o trabalho será apresentado, também, nos próximos dias, pelos alunos do CEEMB, em outras escolas, como a Escola Municipal D. Pedro II e Humberto Leal, localizadas no bairro Taquari.
Na data oficial, neste domingo, dia 20, haverá um desfile alegórico, na Avenida Presidente Vargas, a partir das 16 horas, quando o colégio vai mostrar um pouco de história e da importância de se conhecer e valorizar a cultura negra, da qual o Brasil herdou aspectos importantes, em todos os ramos de atividade.
Professora
Na secura do agreste nordestino, entre mandacarus e xique-xiques, onde a natureza sustentava uma paisagem opaca, retirantes em procissão, suplicando pra chuva cair de mansinho e regar todo o chão, nasceu Rachel de Queiroz, aos 17 dias de novembro de 1910, em Fortaleza (CE). Mal sabia ela que daquele sertão ressequido sairia a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (1977).
Foi uma escritora versátil, passeando com desenvoltura entre poesias, memórias, biografias, crônicas, contos, literatura infantil e teatro. Mas foi na prosa que se fez notável, quando lançou O Quinze (1930), romance que evoca a seca de 1915, vivida pela escritora, e renova a ficção regionalista, no denominado Romance de 30. Essa obra desabrochou num terreno árido, descolorido, tendo como tema a fome e o desespero, sem maquiagem, nos apresentando espectros de vidas modeladas pelo barro. Retrata a saga dos flagelados cearenses, vitimados por uma seca voraz, capaz de esterilizar o homem tanto quanto a terra, tornando-os personagens impotentes diante do destino traçado pelo sol inclemente. São duas histórias paralelas que se unem; de um lado, a trajetória dos retirantes Chico Bento e sua família, do outro, a relação do tosco vaqueiro Vicente com a professora Conceição, em que, pela carência cultural dele e a falta de comunicação entre ambos, o amor se resseca como os galhos quebradiços das plantas daquele sertão.
Rachel de Queiroz foi defensora de uma literatura despojada, que mostra uma paisagem social e humana de um Brasil embrutecido e arrasado pela escassez de "vida", coroado de sonhos encapuzados por uma realidade que só tinha de verde a esperança de que Deus mandasse chuva e colorisse aquele cenário de dor e secura tantas. "A piedade supõe uma condição de superioridade e a gente só pode se compadecer de quem sofre mais do que nós".
Cercada de recordações da infância, ao escrever obras que abordaram o panorama crítico de uma das regiões mais castigadas do Brasil, Rachel deixava-se nutrir do suor e das lágrimas - daqueles tempos difíceis - e parece que ouvia, ao longe, alguém cantar: "Quando oiei a terra ardendo, qual fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu, ai, por que tamanha judiação? Que braseiro, que fornaia, nenhum pé de prantação, por farta d'água, perdi meu gado, morreu de sede meu alazão...”. Era a voz do rei do baião, Luiz Gonzaga, na famosa “Asa Branca”, onde parecia imprimir escritos da escritora em forma de canção. Eis a união de duas forças artísticas: música e romance, para cantar as dores e dissabores de personagens que entram na ficção para mostrar a face empedernida de um país "bonito por natureza": Fome, tristeza, cangaço, miséria, morte, milagres e os abutres insaciáveis à espera de animais que, sem forças, tombava um a um, naquele terreno infértil. Assim, o Nordeste ficou conhecido através dessa voz feminina que se tornou símbolo das conquistas da mulher brasileira.
"A arte é o resumo da natureza feito pela imaginação" - e Rachel conseguiu trazer todo manancial imagístico para muitas de suas obras. Trafegou na via do romance psicológico ao escrever As Três Marias; João Miguel está presente na esteira do regionalismo e Caminho de Pedras é um romance politicamente engajado. Escreveu, ainda, Memorial de Maria Moura; O Menino mágico; O Galo de Ouro; Dôra, Doralina; Lampião; Tantos Anos... Inspirações à parte, a autora, com o Estado Novo, teve seus livros queimados em Salvador – BA, juntamente com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de subversivos, o que rendeu a ela três meses de detenção, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros, em Fortaleza. ”Falam que o tempo apaga tudo. Tempo não apaga, tempo adormece”.
Romancista, cronista, poetisa, professora, simpatizante comunista, Rachel foi tradutora de muitos autores os quais admirava, como Emily Brontë (O Morro dos Ventos Uivantes), Charles Chaplin (Minha vida), Jane Austen (Mansfield Park), Fiódor Dostoiévski (Os irmãos Karamazov), Agatha Christie (A Mulher Diabólica), Honoré de Balzac (A Mulher de trinta anos) e muitos outros. No início da sua carreira, como jornalista, escreveu cartas para o jornal O Ceará, sob o pseudônimo "Rita Queluz". Raquel foi traduzida para vários idiomas, tendo livros adaptados para o cinema e televisão. Obteve amplo reconhecimento por sua obra tão vasta, o que lhe rendeu muitas homenagens e prêmios, entre eles o Prêmio Camões, o maior da Língua Portuguesa, sendo ela a primeira mulher a recebê-lo.
Sábia, desenvolta e dominadora das palavras, articulava com facilidade sobre quaisquer assuntos, o que nos apresenta quando indagada sobre a sua participação no Partido Comunista Brasileiro: "Na verdade, não sou comunista, nem sou reacionária, sou propriamente anarquista, sou uma doce anarquista". Dor? “Doer, dói sempre. Só não dói depois de morto, porque a vida toda é um doer”. Amor? "É que o amor é essencialmente perecível e na hora que nasce começa a morrer. Só os começos são bons". Vida? "A vida eu acho que ensina surrando". "A vida é uma tarefa que não pode ser dividida com ninguém". Pode, sim, Rachel. E você dividiu a sua em doses milimetricamente calculadas, do tamanho da sensibilidade de cada leitor e, na sua labuta com as histórias contadas e emoções vividas, compartilhou conosco um tanto da sua vida de grande artesã literária.
Enquanto dormia em uma rede, na silenciosa varanda da sua casa no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, a genial Rachel de Queiroz faleceu, dia 4 de novembro de 2003. E, como que antecipando seu próprio epitáfio, escrevera, um dia: "A gente nasce e morre só. E talvez seja por isso mesmo que se precisa tanto de viver acompanhado".
Por Raimundo Marinho
Jornalista
Duas frases ambivalentes, ditas na semana passada, por duas autoridades da República, cuja data da proclamação se comemora hoje (15 de novembro), deram a exata dimensão do Brasil atual. Diante das denúncias de corrupção do seu Ministério, Carlos Lupi disse que de lá só sairia “abatido à bala”. Instada por jornalistas a falar do assunto, a presidente Dilma esquivou-se, dizendo: "Vocês acham que eu vou mesmo falar sobre isso? Um líder antigo, não vou me lembrar o nome, disse o seguinte: 'o passado simplesmente passou'".
O episódio desencadeou comentários dos mais diversos matizes, na maioria condenando o pensamento da presidente, posto que teve o evidente propósito de esconder malfeitos. Ademais, ela tem um passado polêmico, como ex-guerrilheira, ao qual, imagina-se, estende o significado da frase que repetiu. No rastro das reações, está sendo divulgado, via e-mail, fotos e textos do que certamente é a mancha mais negra do passado da humanidade: o holocausto, em que milhões de pessoas, na sua grande maioria judeus, foram mortas sob o comando do então líder nazista Adolph Hittler.
O objetivo dessa divulgação, que parece conter mais fotos do que tudo que já se divulgou a respeito, pela internet, é exatamente lembrar que o passado simplesmente não passa, principalmente se um passado de malfeitos, de horrores, horror econômico, horror político, horror eugênico, horror psicótico, horror do roubo do dinheiro público. E, principalmente, holocausto, como o que dizimou milhões de seres humanos, só por serem judeus.
Encampando o esforço de divulgação, O Mandacaru divulga abaixo a série de fotos e respectivos comentários, recebidos via e-mail. Não desista de olhar!
É uma questão de História lembrar que, quando o Supremo Comandante das Forças aliadas (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, etc.),
General Dwight D. Eisenhower encontrou as vítimas dos campos de concentração, ordenou que fosse feito o maior número possível de fotos, e fez com que os alemães das cidades vizinhas fossem guiados até aqueles campos e até mesmo enterrassem os mortos
E o motivo, ele assim explanou:
'Que se tenha o máximo de documentação - façam filmes - gravem testemunhos - porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota se vai erguer e dirá que isto nunca aconteceu'.
“Aquele que se esquece do Passado está fadado a Repeti-lo!”
'Tudo o que é necessário para o triunfo do mal, é que os homens de bem nada façam'. (Edmund Burke)
Os “sem luz” querem que se repita essas cenas...
Relembrando:
Ha poucos dias, o Reino Unido removeu o Holocausto dos seus currículos escolares porque "ofendia" a população muçulmana, que afirma que o Holocausto nunca aconteceu...
Este é um presságio assustador sobre o medo que está a atingir o mundo, e o quão facilmente cada país se está a deixar levar.
Estamos há mais de 66 anos do término da Segunda Guerra Mundial.
Este email está a ser enviado como um alerta, em memória dos 6 milhões de judeus, 20 milhões de russos, 10 milhões de cristão, 1900 padres católicos e muitas Testemunhas de Jeová, resumind (SERES HUMANOS)
que foram assassinados, massacrados, violentados, queimados, mortos à fome e humilhados, enquanto Alemanha e Rússia olhavam em outras direcções.
Agora, mais do que nunca, com o Irã, entre outros, sustentando que o 'Holocausto é um mito', torna-se imperativo fazer com que o mundo jamais esqueça.
A intenção de enviar este email, é que ele seja lido por, pelo menos, 40 milhões de pessoas em todo o mundo.
Seja voce também está ciente então ajude a enviar o email para todos que forem possíveis. Traduza-o para outras línguas se for o caso!
Talvez você possa estar pensando que são imagens forte demais para repassar aos seus amigos!
Mas elas são reais e a verdade nunca deve ser escondida, e os inocentes... jamais esquecidos!
Isso que está vendo foi apenas um pouco do que aconteceu.
A cidade de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, perde uma figura popular muito querida, o ex-bancário José Costa Silva, 55 anos, mais conhecido apenas como “Zé”. Ele foi encontrado morto, na casa onde residia, na manhã desta quarta-feira, dia 9, já em estado de gigantismo, início de decomposição. A polícia ainda investiga as circunstâncias da morte. Suspeita-se de suicídio.
José Costa Silva trabalhou no antigo Banco do Estado da Bahia (Baneb) e, em seguida, no Banco Bradesco, que adquiriu o banco estadual. Era uma pessoa pacata, estava aposentado, bebia muito e apresentava sinais de distúrbios psicológicos. Mas nada o impedia de ser afável com todo mundo e de conversar normalmente com as pessoas. Estava sempre presente nos points da cidade, em eventos públicos e andava impecavelmente vestido, de terno e gravata.
Era muito conhecido, não só pela sua presença, bem vestido, nas ruas e nos eventos, como também pelas mensagens filosóficas que distribuía, muitas vezes em guardanapos de papel; pelas resenhas que fazia e bordões que usava; e pelas longas conversas que mantinha com ninguém, no estertor da bebida. Parecia um “Zé de Ninguém”, mas sabia se cuidar, apesar do alcoolismo e dos solavancos de uma mente inquieta, que muitos diriam perturbada.
Mas nada disso escondia a alma boa que habitava nele, do bom colega que foi, o que ainda podia ser visto nos momentos de sobriedade. Nunca era visto caído ou sujo e se articulava bem com quem conversava com ele, demonstrando ter cultura e conhecimento. Tudo levava a crer que precisava de algum tipo de ajuda, quer para se curar da bebida ou da provável perturbação psicológica. Tivemos a oportunidade de ajudá-lo e não fizemos! Muito pior par nós, que Deus o ilumine no seu novo caminho!
Raimundo Marinho
Jornalista
Sob o tema “O Primado do Espírito”, realizou-se, em Salvador, de 3 a 6 deste mês, o “XIV Congresso Espírita da Bahia”, promovido pela Federação Espírita do Estado da Bahia. Reuniu espíritas convictos, a grande maioria, e simpatizantes. Primado vem a ser, segundo o dicionário, primazia, prioridade, preferência, superioridade, excelência.
E a humanidade já começa a se posicionar mais claramente nessa visão de vida. Ainda conforme os dicionários, espírito tem várias significações, das quais destacamos: parte imaterial do ser humano, alma, suposta entidade superior que transcende a matéria, o pensamento, a mente. Entre os estudiosos, é consenso que o espírito é a autêntica realidade da vida.
O amálgama de tudo é a espiritualidade, definida como a “qualidade ou caráter de espiritual”, o ponto de união entre os movimentos religiosos cristãos. E sem possibilidade de sectarismo, pois independe de conceitos ditados pela opção humana. A vida não é optativa, exsurge do comando inexorável das leis naturais, cujo conhecimento e compreensão são nossos desafios.
O Congresso Espírita, com mais de duas mil pessoas, foi uma grande reunião, com multifacetados subtemas, discorridos na mais absoluta democracia. Poder-se-ia simplesmente dizer que foi um encontro de espíritos, nas dimensões determinadas pelo grau de conhecimento de cada um.
O marco foi o trato simples de temas complexos, envolvendo o nascer, o viver e o morrer ou não morrer. O foco foi Deus e suas consequências, tendo ao centro a realidade humana, cujo destino inescapável é retornar à própria Divindade, sob a luz dos amorosos ensinamentos de Jesus Cristo.
O primado do espírito abrange todos os movimentos de fé, em qualquer forma de adoração e ou de estudo da realidade divina, da qual somos partes indissociáveis. Diferenciamo-nos apenas pelo grau de conhecimento pessoal.
As religiões não são abrangentes, o que condiciona as pessoas, as quais, em maioria desesperadora, inquietam-se com objetivos imediatistas. Mas, se visto mais acuradamente, o movimento religioso se apresenta convergente, na sua idéia central, embora desunido por pensamentos cambaleantes.
Por exemplo, é triste ver certas didáticas religiosas usadas como meios de convencimento para a busca de satisfações predominantemente na existência física. São teatralizações enganatórias, em falsa invocação de Deus, cuja imagem e a de Jesus são usadas como meros recursos de marketing.
No viver crístico, a existência física é mero suporte didático e experiencial, para aperfeiçoamento e evolução do viver espiritual, conforme o Plano de Deus. Nesse sentido, a temática do citado Congresso foi um luzeiro para os participantes, espíritas convictos ou não.
Onde forem debatidas a condição humana, as razões e finalidades do nascer, do viver e do morrer, a espiritualidade estará presente, ainda que dela não se tenha consciência. Ela sempre prevalecerá nos movimentos de fé, marcando-os seja pelo acento que lhe for dado ou por eventual omissão.
Não haverá cristianismo sem a consciência da espiritualidade, não importa que denominação receba de outros ângulos pelos quais se estuda a vida, como a teologia, a filosofia, a psicologia e a política.
Os projetos terrenos refletem a estrutura da existência espiritual, ainda que a arrogância e obtusidade dos homens levem à sua negação. Tais projetos, voltados para a organização social e o viver individual, vem da inteligência humana, que é a manifestação do princípio de Deus inserto em nós.
Todo movimento de fé ensina condutas para salvação da alma, o que significa crença na espiritualidade. Não se pode compreender sua grandeza sem afastá-la da materialidade e reconhecer que, ao contrário desta, ela tem caráter imortal. É nela que vamos nos realizar, como caminho de retorno a Deus, não importando nem mesmo se, a priori, acreditamos ou não nEle.
Embora necessários, o estudo a esse respeito não é impositivo, deve ser livre, como mostrou o encontro dos espíritas e dos espíritos. É a visão que os movimentos de fé deveriam ter. Não poderá haver gestos dirigidos a Deus fora do primado do espírito. Está na essência do que Jesus ensinou, elegendo como mandamentos principais o amor incondicional a Deus e o amor ao próximo.
Ao Supremo, a incondicionalidade do amor e ao Próximo a condição de amá-lo tanto como a nós mesmos! E, como lição de ordem geral, recomendou: Se vos amardes uns aos outros, todos saberão que sois meus discípulos (Jo 13, 35).
Artigo – 07.11.2011
Márcia Oliveira
Professora
Cecília Benevides Meireles é um nome conhecido. Lembrado e recitado, está gravado em livros e na memória daqueles que aprenderam a arte da poesia e dela não se esquecem. De quatro irmãos, foi a única que sobreviveu. Ela nasceu no bairro da Tijuca, num dia de primavera, 7 de novembro de 1901. E foi num dia da estação das flores que ela deixou a vida na terra para brilhar e compor versos em outras esferas, num infinito que nos separa, no dia 9 de novembro de 1964. "Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira".
Desde cedo, abraçou a literatura para esboçar, em forma de versos, o que lhe ditava a alma sensível, solitária, humana, silenciosa. Alma de poeta. "Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte do meu pai e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno". Foi criada pela avó - quem deu a ela todo o suporte para trilhar os caminhos que a levaram ao topo de ser reconhecida e chamada de POETA, não simplesmente poetisa.
Amava os livros que lhe eram oferecidos, achava lindos aqueles que ostentavam letras douradas nas capas e seus olhos brilhavam diante deles, que a convidavam para navegar em suas páginas solitárias, iguais ao seu universo de criança, quase sem ninguém, buscando em cada personagem um amigo invisível para com ele dialogar e descobrir um mundo novo, cheio de histórias e magia. Escreveu a sua primeira poesia aos nove anos e dali em diante ninguém mais conseguiu desviá-la do lirismo e da subjetividade que a cercavam.
Professora, jornalista, tradutora, esposa, mãe, pintora, Cecília era incansável. "Não sejas o de hoje. Não suspires por ontens... não queiras ser o amanhã. Faze-te sem limites no tempo". "Tenho fases como a lua; fases de ser sozinha, fases de ser só sua".
Sua poesia é atemporal, apesar dela ter se destacado no movimento modernista, ao lado de Vinícius de Morais, Murilo Mendes, Jorge de Lima e outros tantos escritores, sua obra tem muito do Simbolismo, do Romantismo, do Barroco.
Escritora de fino apuramento formal, de aguda sensibilidade, capaz de transmitir sutilezas quase indescritíveis da psicologia feminina, Cecília desenvolveu uma poesia reflexiva, de fundo filosófico, cuja preocupação com a transitoriedade da vida e a fugacidade estão presentes em cada página. A música, o ar, o vento, o mar, o misticismo, o amor são elementos constantes em toda a obra ceciliana, dando a ela um caráter fluido e etéreo, vazado por rica imagética de sugestões aquática, cromática e espacial.
"Em toda a minha vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade".
Cecília se destacou no verso, em que demonstrou tamanha habilidade, mas se esmerou também nos contos, crônicas, folclore e na literatura infantil. Admiradora e tradutora do poeta hindu Rabindranath Tagore, ela ponderou certa vez: "A poesia tagoreana conduz a uma visão de santidade, de serenidade, na contemplação geral, visão que as gerações atuais mal podem compreender. Não será impossível um renascimento de Tagore, quando essa onda turbulenta e caótica se acalmar, quando os jovens acreditarem na supremacia do Espírito sobre todas as coisas e a sabedoria do Oriente não for ignorada no Ocidente tão técnico".
Querida Cecília, talvez um dia isso aconteça, quando a poesia e a verdadeira música voltarem a fazer parte da vida desses jovens internéticos, desatentos, isolados da essência do ser e que se acham, mas não se encontram.
Duas poesias de Cecília Meireles foram transformadas em música por Raimundo Fagner, que renderam ao mesmo processos judiciais: "Canteiros": "Quando penso em você, encho os olhos de saudades/Tenho tido tanta coisa, menos a felicidade"... e "Motivo": "Eu canto porque o instante existe e minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: Sou poeta"...
E sendo poeta ela traduziu muito bem o que é ser completa num mundo tão complexo e individual. Preocupou-se com a questão da igualdade e da liberdade do homem, o que expõe em "Romanceiro da Inconfidência".
Nesse livro, por meio de uma hábil síntese entre o dramático, o épico e o lírico, retrata a sociedade de Minas Gerais do século XVIII, principalmente a vida do mártir Tiradentes: “... Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta/que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda".
Sensibilidade, espiritualismo, preocupação com o ser no mundo, a musicalidade, silêncio, solidão, a poesia, perdas, o infinito, contemplação universal, o tempo fizeram de Cecília não só um nome de mulher destaque da nossa literatura, mas a denominação plena da palavra POETA.
Por essas e outras é que a fiz presente nas minhas preferências literárias, por haver em mim um tanto do que ela viveu e sofreu, as perdas, por exemplo. E acima de tudo, o amor pela poesia.
"Há pessoas que nos falam e nem as escutamos, há pessoas que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas há pessoas que simplesmente aparecem em nossas vidas e nos marcam para sempre". Assim foi Cecília Meireles: Plena, fluida, serena. Eterna, como sua poesia.
O jovem artista plástico Venilson Alves, 21 anos, expôs seu talento, na mostra “Arte Brasileira de Raiz e Cultura”, dia 30 de outubro, no distrito de São Timóteo, em Livramento de Nossa Senhora, Bahia. Foi uma promoção do grupo “Projovem Trabalhador”, do qual ele faz parte.
Segundo relato do professor Alexirley Ramos, Venilson “é um artista nato, desde a infância já manifestava aptidão e interesse para a pintura”, acrescentando que “suas telas retratam a vida do homem do sertão, paisagens naturais e casarões históricos do período colonial” e deixaram o público encantado.
No mesmo relato, acrescenta que a obra do jovem artista apresenta um “traçado marcante, de contraste de luz e cor”. Ao ouvirem a história de vida do autor, declamada na forma de poesia de cordel, de autoria do próprio Venilson, muitas pessoas se emocionaram e choraram. Ele mostrou toda sua trajetória de vida e luta pela realização de um sonho, ali concretizado, na primeira exposição.
Houve o leilão de três telas do artista. Uma delas retrata a jornada dos tropeiros em nossa região. Outra é a cachoeira de Livramento, principal cartão postal do município. E, por fim, uma terceira, retratando um dos casarões históricos da região, construído no período colonial. Emocionado, Venilson agradeceu à sua família e a todos que colaboraram para a concretização da mostra.
Dentre os que foram prestigiar o evento estavam prefeito Carlos Roberto Souto Batista, primeira dama e secretária de Governo Suzete Spínola Souto, vereadores João Amorim e João Louzada, e a coordenadora do Projovem Trabalhador, Zulimar Azevedo.
Professor
A nossa realidade atual nos remete a pensar que vivemos dentro de livros e obras de grandes autores, escritores e profetas, profetas porque sem querer previram em seus livros o que viveríamos futuramente.
Euclides da Cunha, ao fazer a cobertura jornalística de Canudos, faz-nos relacionar com hoje também seus colegas desbravadores, que vivem escrevendo diariamente seus “Sertões”, denunciando as mazelas, as impunidades e o massacre sangrento de uma população. E a celebre frase de Euclides da Cunha caberia como uma luva para os dias atuais, pois estes sertanejos que vivem aqui são antes de tudo uns fortes.
E se falássemos do Monge de James Hunter, pois retrata nossos líderes que chegam ao poder muito mais pelo próprio poder do que pela autoridade e capacidade de liderar com servidão, como o líder de todos os líderes, JESUS CRISTO, pois nossos representantes não aprenderam ainda a conjugar o verbo servir na 1ª pessoa do singular.
Mas, muitos desses líderes têm como livro de cabeceira O Príncipe, de Maquiavel, obra que muitos usam de forma maquiavélica, esquecendo de interpretá-la de maneira coerente como chegar de forma correta e casta ao principado civil. Pois descobriram que, com o uso da força, do dinheiro e da repreensão é mais fácil se chegar ao poder e corromper uma sociedade oprimida pelos desmandos.
Portanto, precisamos pensar com o patriotismo de Policarpo Quaresma, porém, sem termos que nos arrastar aos pés dos poderosos, pois, ao final, ainda nos acusarão de traidores. Temos que pensar como o Alquimista de Paulo Coelho e desejar a mudança de puro coração, pois, assim, todo o Universo conspirará em nosso favor.
Precisamos nos livrar desta cruz que carregamos nas costas como Zé do Burro, personagem do Pagador de Promessas, de Dias Gomes, e, enfim, seguir como exemplo além destas obras supracitadas, seguir o livro dos livros, a Bíblia Sagrada, que tem como protagonista Aquele que é exemplo de luta contra as desigualdades, as injustiças e a opressão, Aquele que nos ensinou acima de tudo a sermos cristãos.
Sob o título “LIVRAMENTO: Galo consegue 65 cisternas para a comunidade de Várzea D’Água”, a Assessoria de Comunicação do deputado estadual Marcelino Galo, do Partido dos Trabalhadores, distribuiu para a imprensa, dia 31 do mês passado, press release com o seguinte texto:
O município de Livramento de Nossa Senhora, na região sudoeste da Bahia, ganhará 65 cisternas para consumo [sic], que serão instaladas na comunidade de Várzea D’Água, beneficiando os produtores rurais da região e de localidades vizinhas. A demanda é um pleito do deputado estadual Marcelino Galo (PT), com o diretor do Hospital Geral de Vitória da Conquista, Gerardo Júnior (PT), e os militantes Zé Ribeiro e Caxião do Partido dos Trabalhadores de Livramento e foi liberado pela Companhia de Desenvolvimento de Ação Regional (CAR), em reunião na tarde desta segunda-feira (31).
“A região sofre com a falta de água e estamos trabalhando para mudar essa realidade. Ações estruturantes da CAR são fundamentais para desenvolver as comunidades de Livramento e outras localidades. Os produtores rurais terão maiores condições de produção de alimentos para comercializar e para a subsistência. Outras regiões também serão beneficiadas com esta ação da CAR”, afirma Marcelino Galo.
Segundo o presidente da CAR, Vivaldo Mendonça, o valor das obras para Livramento chega a R$156 mil e o órgão público pretende ampliar as construções de cisternas para atender os produtores do campo com eficiência. “Já construímos 30 mil cisternas. A intenção do Governo é construir mais de 100 mil até 2014”, considera Vivaldo.
O texto é um primor do clientelismo político que ainda impera na Bahia, voltado, principalmente, para municípios pobres como Livramento. A obra poderia simplesmente ter sido anunciada pelo governo, através da direção da CAR, que é a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional, empresa vinculada à Secretaria Estadual do Desenvolvimento e Integração Regional do Estado da Bahia (Sedir), que tem essas ações como parte de suas atividades.
Pergunta-se, então: por que foi necessário que o deputado “conseguisse” e fizesse o anúncio? Respondemos: simplesmente para iludir eleitores, passando a idéia de deputado benfeitor da região. Estamos em ano pré-eleitoral. E, o mais esdrúxulo, ele não atuou sozinho, necessitou de reforço de outros militantes, “como o diretor do Hospital Geral de Vitória da Conquista, Gerardo Júnior (PT”.
Pergunta-se, novamente, que tem Gerardo Júnior a ver com as atividades da CAR e as movimentações do parlamentar? Funcionalmente, nada, a não ser pertencer ao mesmo partido e ser pré-candidato a prefeito de Livramento de Nossa Senhora. A vinculação do seu nome ao anuncio das obras o beneficia, claro, e impressiona eleitores, com uso da máquina governamental.
Saliente-se, também, a insignificância da obra. São apenas 65 cisternas, um nada diante da necessidade da população e do projeto total do governo que, segundo o próprio texto distribuído, inclui 130 mil cisternas, 30 mil já construídas. As míseras 65 reservadas a Livramento custarão míseros R$156 mil, como dito no release, que são uma esmola, como diria o sertanejo, diante dos mais de R$200 milhões do projeto total.