Artigo – 20.05.2011

O homem e o seu habitat
Professor Josemar Silva

silva-josemar@bol.com.br

As relações humanas com os demais seres vivos do planeta terra e seus diversos ecossistemas tem tornado-se cada vez mais conflitantes e tudo isso surge com grande força a partir do momento em que o homem passou a conviver em grupos. Os mesmos passaram a causar impactos ambientais em todos os sentidos, em largas proporções, com ênfase no inicio da revolução industrial, por volta do século XIX e com a implantação e consolidação do agronegócio, no século XXI.

Antes, a produção era basicamente para o sustento familiar, pois se plantava aquilo que era consumido pelas famílias ou comunidades, durante o ciclo de vida de cada um. Mas a idéia fixa de guardar ou estocar alimentos gerou o negócio de ações futuras em bolsa de valores, surgindo a corrida pela produção máxima, no mais curto espaço de tempo, sem se medir os impactos climáticos e ecológicos que poderiam ocorrer.

Em Livramento de Nossa Senhora, esse ciclo não foi diferente, pois, cerca de 30 anos atrás, as relações entre homem e natureza eram feitas numa espécie de troca no qual se tirava da terra basicamente o sustento das famílias, procurando causar o menor impacto possível, pois não era consumido tanto agrotóxico ou insumos químicos. O sistema de adubação era orgânico, as margens dos mananciais estavam intactas e protegidas através das vegetações e arvores nativa. A base econômica caminha em mão dupla com a venda dos produtos produzidos pelas populações das zonas rurais com os da zona urbana, principalmente na feira livre local.

Com a implantação do projeto de irrigação pelo DNCOS, órgão do governo federal, ocorreu mudanças profundas, drásticas e catastróficas na forma de convívio e de produção. O objetivo principal do projeto, no inicio, era ampliar e melhorar a renda familiar das pessoas de menor poder aquisitivo. Mas, com o decorrer do tempo, isso acabou ficando apenas no papel, pois, na pratica e por falta de recursos financeiros, fiscalização governamental, critérios para aquisição de posse das terras, financiamento bancário a juros acessíveis, os colonos ali estalados foram obrigados a vender os seus lotes para empresários, passando a ser apenas empregados dos mesmos. Esses novos proprietários implantaram a fruticultura, com ênfase na monocultura da manga e do maracujá. Como todo tipo de monocultura, no inicio ,pode até trazer renda, mas em longo prazo ela traz graves conseqüências.

Aqui, isso não foi diferente, chegaram grandes empresas, a cidade sofreu um crescimento no qual a administração pública não acompanhou ou não estava preparada para triplicar a sua população em duas década e meia. Então, sugiram os problemas de saneamento básico, escassez de água e o mau uso da existente. Os rios foram completamente mortos por dejetos humanos e pelo uso abusivo sem orientação técnica de insumos e defensivos agrícolas, além disso, nascestes secaram, devido ao desmatamento das matas ciliares, tendo também relações com o grande número de poços tubulares que foram abertos para irrigar terras que não fazem parte do projeto.

Doenças começaram a aumentar nas mais diversas patologias, com ênfase no grande número de casos de câncer, principalmente em crianças. Ocorreu um desmatamento desenfreando, para suprir a demanda de lenhas para fornos de olarias, e estacas, ou seja, pedaços de madeira para serem utilizadas como escoras dos galhos das mangueiras e dos maracujás, durante o período de produção, e, com isso, estão tendo varias espécies da nossa fauna extintas ou estão em processo de extinção. Surgiram também pragas e fungos mutantes que vem causado à destruição das plantações nativas. A segurança pública ficou comprometida, pois com a migração de pessoas de outros municípios em busca de trabalho, foram criados bolsões humanos na zona periférica em torno da cidade e com eles surgiu o tráfico de entorpecentes, a prostituição e gravidez entre crianças e adolescentes.

Atualmente, podemos dizer, se não houver mudanças profundas na forma de exploração e na relação dos livramenteses com a terra, revendo conceitos e atitudes, teremos, num futuro breve, uma nova (Hiroshima), devastada não por uma bomba atômica e sim pela arma que está destruindo a humanidade que é feita da ganância, do ter e não ser um animal racional capaz de produzir com consciência ecológica e humana.

Portanto, amigo Marinho! Lendo o artigo do companheiro Guto, em que ele propõe uma forte aliança dos livramenteses, em que todos deixem as suas convicções políticas em nome de um bem-estar comum, e isso penso que é louvável, digno de aplausos, resolvi então efetuar essa reflexão sobre o labirinto no qual nos encontramos no exato momento. E para contribuir com o debate proposto, gostaria de perguntar aos futuros representantes políticos do nosso município:

- O que será feito para sanar algumas dessas questões mencionadas acima? Vamos permanecer com essa mesma cultura e educação ambiental em que o lema é destruir para depois construir ou recuperar?

Pois bem, espero que os candidatos, tanto a vereadores ou a prefeitos, nas eleições de 2012, nos seus programas de governos, tenham nos seus planos, respostas e ações concretas a essas questões e que as mesmas não sejam utilizadas apenas como discursos ecológicos para chegar ao poder.