Maria Aparecida Alves Meira (*)
Aconteceu em 31 de maio de 2011 o julgamento do assassino confesso do meu filho Franklin George Meira Macedo, tão esperado pela sua família, ansiosa por justiça para quem comete o crime máximo de matar seu semelhante. Franklin é o filho que tive a honra de gerar, mimar, amar e criar, não importando que destino a vida lhe tenha reservado. Fui a mãe que Deus confiou a ele e procurei honrar a missão nos limites da minha condição humana. E juro que prefiro sofrer a dor de perdê-lo como vítima do que se, ao contrário, fosse ele um assassino.
No entanto, o que assistimos, no Tribunal do Júri, naquele dia, foi um evento deplorável, assustador e temerário. A promotoria, com base nos autos, relembrou, brilhantemente, o fato testemunhado por muitas pessoas que se achavam no local do assassinato e comprovado por vários depoimentos, prestados logo após o crime.
A promotoria narrou, com riqueza de detalhes, a barbárie, confessada, logo depois, pelo próprio assassino, mas os advogados de defesa apareceram cheios de novidades duvidosas, teóricas e de pouca relação prática com o caso. Teatralizou, gritando e espumando, literalmente, para um auditório espantado e sete jurados paralisados, diante de tanta e tão clara indução. Fizeram seu papel e foram correspondidos!
A vítima, assassinada há quase 13 anos, foi impiedosamente execrada, aos gritos, diante de sua pobre mãe, que a tudo teve que assistir, muda. Foi chamado de traficante, usuário de drogas, psicótico, mimado, bajulado, aliciador de todos os outros jovens de Livramento. Seu nome era gritado, berrado em frente a um microfone que nem era necessário.
Franklin foi pintado, nesse teatro trágico, como um "elemento" perigoso, como se fosse ele o inventor da droga. É muito fácil defender um assassino, acusando a vítima indefesa, tanto no dia fatal, como nesse outro dia, quando deveria ser redimida pela justiça. O assassino foi absolvido porque a vítima consumia drogas!
A preocupação da defesa foi provar, para seu cliente e a si mesma, que ganharia a causa de qualquer forma, para justificar a fama de melhor advogado da região, do estado e, quiçá, do país. Estavam, ali, tantos jovens advogados, recém-formados!... Então, não importavam os exageros, os argumentos sem origem, nem testemunhas, as citações anônimas, tanto suas como do réu, no seu depoimento medroso, ou melhor, "desesperado".
Franklin não inventou a droga. Como tantos jovens desafortunados, nesse sentido, do nosso país, conheceu a droga quando adolescente, sendo-lhe oferecida por um amigo, um pouco mais velho, até que o viciou. Era uma pessoa que, neste mundo, só sofreu, na infância, adolescência e na juventude interrompida.
Quem realmente pertence à sociedade livramentense conhece os motivos do seu sofrimento, ao contrário dos estrangeiros e falsos cidadãos. Seu comportamento autêntico, irreverente e, muitas vezes, inconsequente, era, na maioria das vezes, uma forma de se aliviar. Era muito inteligente e culto, devido o seu intenso hábito de leitura.
Ao contrário do que foi dito, ele sempre trabalhou: em São Paulo, na empresa de automotivação – Motivation; em Salvador, na CAMAB – Companhia de Adubos e Materiais Agrícolas da Bahia, como agente auxiliar; em Livramento, na Cooperativa dos Irrigantes do Projeto Brumado LTDA; nos estabelecimentos de sua propriedade, Quitanda Xavier e Meira, Opção Moda Jovem - Sport Wear, Bar Clarear, Over Som Locadora de CD, gravações e sonorização.
Além disso, montava barracas em festas de largo. Por último, trabalhou como Publicitário, utilizando seu velho carro, com som adaptado, na Franklin Produções - Publicidades Artísticas e Comerciais, rodando pela cidade e zona rural, anunciando eventos, fazendo propagandas comerciais e políticas.
Recebia, em sua residência, a toda hora, encomendas do comércio da cidade. Foi pioneiro, como dono do único carro de som da cidade, na época e por bastante tempo. Solidário com as famílias enlutadas, não cobrava pelos anúncios de falecimentos que divulgava.
Chegou a produzir shows de grupos famosos, como The Fevers e Banda Paradise, no então badalado espaço artístico Pantanal. Era um empreendedor. Todos os seus trabalhos eram públicos, sonoros e notórios. O pouco dinheiro e alguns cheques encontrados com ele, em certa ocasião, conforme foi dito pela defesa do réu, seu carrasco, era fruto do pagamento das horas de som que havia recebido; sua família sabia disso. A defesa, maliciosamente, confundiu os jurados e os presentes, insinuando que tais cheques eram frutos de tráfego de entorpecentes. Onde já se viu criminosos desse tipo usar cheques? Só se quiserem ser presos!
Franklin morreu pobre. Onde estava o dinheiro do tráfico que disseram que ele fazia? Quem estaria por trás?... Tráfico de drogas dá muito dinheiro! Ele foi morto há mais de 12 anos e o certo é que a droga não acabou depois do seu assassinato. Ao contrário, proliferou-se de tal forma que está difícil saber a quem matar. Só faltaram dizer que isso também é culpa dele. Será que vão matar, também, os traficantes atuais?
A vida do meu filho, Franklin, devido a sua natureza autêntica, era conhecida pela sociedade. Ele, sim, era da sociedade. Nasceu nesta cidade, se catequisou na nossa igreja, brincou nas nossas praças, estudou nas nossas escolas, frequentou os nossos clubes, cresceu, namorou, casou, foi pai, teve amigos de infância, adolescência e juventude. Era amado pela sua família e tinha amigos sinceros. E, principalmente, NUNCA MATOU NINGUEM. Não foi citado um só caso de que tenha ferido alguém!
Ao contrário do réu, que só ficou conhecido na cidade depois que se tornou ASSASSINO, e, coincidentemente, empresário, com dezenas de empregados, pecuarista, produtor agrícola, dono de caminhões, locadora de carros, etc., conforme ele mesmo disse: "mexo com isso, mexo com aquilo, mexo com aquilo outro".
Que bom, que se tornara um novo rico! Bajulado por muitos, quando chamado de "menino de ouro, que vendia cocada", "cidadão honesto da sociedade de Livramento", a ponto de conterrâneos e parentes torcerem por sua absolvição, não importando a gravidade e consequências do seu ato de matar. Pena que o menino de ouro, que vendia cocada, tenha se tornado um assassino.
A defesa gritou muito, para a platéia, mas até sussurrou, quando quis, junto aos jurados, sem microfone, persuadindo-os com argumentos horríveis, vitimando o réu e incriminando a vítima, distorcendo os fatos, diminuindo o valor da vida humana, banalizando-a, afirmando que o "desesperado" pode matar, ferir inocentes que passam ou estão próximos, dando vazão ao seu poder de portar ilegalmente uma arma. Tanto fez o seu papel, que conseguiu o seu propósito de se manter invencível.
Os jurados absolveram, por incrível que pareça, o assassino confesso de Franklin! A sociedade recebe o seu "cidadão", antes livre por habeas corpus, agora, totalmente liberto por jurados "convencidos" no grito. Está livre, portanto, das angústias e consequências dos presídios infectos do nosso Brasil. Sua família, sua mãe e seu pai, estão livres da dor e do constrangimento de visitá-lo na cadeira, graças aos furiosos advogados da defesa. Quanto a mim, embora certa do consolo de Deus, resta visitar o meu filho no cemitério, de onde nunca mais retornará.
De resto, ficará, em toda nossa família e nas pessoas cristãs e de bem da nossa sociedade, a triste e angustiante sensação de que, na prática, a pena de morte, sem julgamento ou com julgamento pós-morte, existe em nosso país. Como bem havia alertado a promotora de justiça, foi dada carta branca a todas as pessoas para matar, porque em Livramento ninguém é condenado.
Não havendo mais a quem apelar, diante da deterioração do senso de justiça, entre nós, rezemos, então, a Nossa Senhora do Livramento, para que sejamos salvos do perigoso impulso de achar que, ao nosso livre entendimento, não só usuários de droga, mas também outros em desvios sociais, devem ser mortos. Que, um dia, não nos vejamos tentados a matar, por nos incomodarem com suas vidas fora de prumo, os doentes incuráveis, as prostitutas, os homossexuais, tão discriminados entre nós, os mendigos, os pobres, enfim os marginalizados da sociedade.
Não nos consola, por óbvio, mas há de se ficar triste, não somente por quem, como Franklin, morreu, inocente, mas e sobretudo por aquele, cujas mãos criminosas, premeditamente armadas, tiraram uma vida que Deus colocou no seio humano, cuja finalidade não nos cabe julgar.
Esse assassino, por certo, levará para o resto de sua vida o cheiro de pólvora nas suas mãos traiçoeiras, assim como a perturbadora visão do sangue de um filho de Deus derramado e o estigma de ASSASSINO, que nenhuma oratória teatral, de nenhum tribunal, conseguirá apagar.
Lamentavelmente, a sociedade de Livramento foi incluída no rol dos praticantes e defensores da impunidade que graça pelo país. Ou seja, fica a certeza de que o mundo ruim, de fato, já chegou aqui! Tristeza maior, sem dúvida, é reservada às mães, tanto dos que matam quanto dos que morrem.
Apesar de tudo, ainda temos a esperança de que não acabou por aqui. Confiamos na JUSTIÇA da Terra, pois ainda cabe recurso, e a do Alto, de cuja distribuição e equidade ninguém poderá escapar. DEUS é o juiz de todos nós!
(*) Maria Aparecida Alves Meira é a mãe de Franklin.