Centenário – 19.10.2013

Vinícius de Moraes,
o homem, canção,
poesia e amor

(1913-1980)

Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia!


Márcia Oliveira

Professora


De tudo ao poeta serei atenta antes, e com tal zelo e sempre, disponho-me a escrever sobre o universo encantador de Vinicius de Moraes, que faria hoje (19 de outubro) 100 anos de idade. No Caminho para a distância que nos separa, ainda me sinto unida a ele pelas canções e poesias que me embalaram, desde a mais tenra infância. Não posso dizer Chega de saudade, porque ela está viva em todos que conheceram os versos do poeta que, em sua farta criação, mesclou Tristeza e solidão, amor, alegria e paixão.

E por falar em saudade, onde anda você agora, Poetinha? Compondo ao lado de um coral de anjos ou sentado a uma mesa de bar, no mundo espiritual, junto a Cartola e Jobim, a relembrar aquela Gente Humilde, que também fez parte da canção que a tantos embalou? Suas mãos, ávidas para escrever, certamente buscam caneta e papel, para rascunhar uma nova medida para sonhar e à plateia desse espaço etéreo encantar! E, assim, você Acende uma lua no céu, despertando um Turbilhão de emoções.

Compositor, dramaturgo, jornalista, diplomata, fez ainda Licenciatura em Letras. Artista completo. Vinícius não foi somente um nome, um homem, um amante incondicional da vida e do amor. Foi acima de tudo POETA!

Amante da noite por natureza, entre um cigarro, uma dose de uísque, com o violão, tinha os ingredientes para compor sua canção. Nos bares da vida, cantarolando com amigos, muitos na verdade, criava. Numa dessas ocasiões, em cenário perfeito, surge, tal qual uma sereia em forma de mulher, bela como a noite, suave como o dia, A garota de

Ipanema: olha que coisa mais linda, mais cheia de graça! É A mulher que passa. E, assim, afastou-se dos versos, para se tornar o Filósofo da Bossa Nova, com essa antológica canção.

Carioca de nascimento, adotou a Bahia como sua casa, trajando um velho calção de banho, ao passar uma Tarde em Itapuã, olhando o sol de Itapuã, falando de amor em Itapuã. A brisa mansa da manhã fez com que o poeta se encantasse pela paisagem baiana, pelos santos, pelo candomblé, pelo Canto de Ossanha, pelas ondas verdes do mar. Axé, meu pai!

Admirador da natureza, parte da sua poesia foi dedicada aos animais e, na Arca de Noé, colocou tantos deles: foca, elefante, girafa, coruja, abelhas, pato, formiga, passarinho... para, assim, enfeitar o mundo e ofertá-lo às crianças, público especial, na sua vasta criação poética. Era uma Casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...

Tinha, Poetinha - tinha você para compor versos tão reais e encantadores. Afinal, A Porta da imaginação você abriu, escancarou para que a menininha e o filho que tanto desejou, sorrissem para a vida, aprendessem que a poesia e a música transformam o mundo e este tem, também, o poder de nos transformar!

Dizer quem foi Vinícius, sendo tantos num só, é tarefa deveras difícil. Sua pluralidade de significados, ao transformar sentimentos em versos, poesia em canção, palavras esquecidas em melodias, o fez singular no campo da literatura. Universal na essência de cantar o amor no extremo da paixão.

Um homem que transformou o espaço vazio do quarto silencioso em acordes perfeitos, em sonoros gritos de liberdade, que saltaram da poesia solitária, rascunhada numa folha de papel, para a voz embargada de emoção! Intenso, irreverente, espiritualista, místico, emotivo, passional, bem-humorado, mulherengo, foi um artista por inteiro, que soube dosar a vida, como poucos, e se desfez de rótulos para viver intensamente o seu tempo.

Inspiração nunca faltou ao Poetinha (epíteto dado por Tom Jobim). Sentia, escrevia, recitava e, em parceria com Toquinho, Baden Powell, João Gilberto, Carlos Lyra e o próprio Jobim, cantava o que antes era poesia. Casamento perfeito! Se todos fossem iguais a você, Vinícius, a poesia não teria silenciado-se, a música não teria perdido tanta sensibilidade Pelos caminhos da vida!

Pela luz dos olhos teus, o mundo parecia tão diferente, a plenitude do amor adentrava pela noite solitária, fazia surgir A brusca poesia da mulher amada, e, materializando-a, estreitava seu corpo esguio, sedento, em seus braços serenos, Para viver um grande amor..., numa leveza sutil, o epitalâmio ecoa dos seus lábios, suavizando o semblante dela: Eu sei que vou te amar, por toda minha vida eu vou te amar ... Minha namorada, Eu te peço perdão por te amar assim de repente! A Aquarela pintava de cores mil O breve momento, porque São demais os perigos dessa vida e, sei lá , a vida tem sempre razão, sem mais nem menos. Como dizia o poeta, é preciso dizer adeus, o que ele o fez, provavlemetne sem querer, no dia 9 de julho de 1980, levando o seu canto O Céu é meu chão!

Faltou-me espaço para escrever mais sobre este ícone do poema-canção, tanto tinha para escrever, mas ele foi maior que tudo isso. Foi poeta, foi cantor. Ele falou, escreveu e encantou, por si só. Ofereceu ao mundo o seu melhor: a POESIA, e, como prova disso, é o que está no Soneto de Fidelidade: Que seja infinito enquanto dure. Foi-se o homem, ficou o POETA. Para sempre, Vinícius.

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida".

"Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu".

"A gente não faz amigos, reconhece-os".

"Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos".

"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval".