Artigo – 06.01.2015

Teoria do Domínio
do Fato ou da Piada

(ou Dr. Zé é o Cara, Quinca, e Não Tu)

 

Jorge de Piatã

É um fato ou é uma piada? Esta, quase sempre, é a pergunta que nos vem à mente quando nos deparamos, no noticiário da TV, com certas reportagens que têm o dom da ambiguidade.  E, nessas ocasiões, enquanto refletimos a respeito, certamente acrescentamos outras perguntas:  Se isso é piada, por que está sendo mostrada no Jornal Nacional? Não seria mais apropriado aparecer no Zorra Total?  Ou no Pasquim? (Ôpa, desculpem. Este morreu já faz tempo, vítima da concorrência desleal dos políticos que fazem humor ao vivo!).

Bem, em um desses quadros televisivos, eu vi e escutei, por exemplo, que o Dr. Joaquim não foi aceito de volta à casa dos seus antigos pares de profissão, lá no Distrito Federal. Arrotaram que ele não tinha nem tem condições morais para o exercício da advocacia, porque, segundo justificaram, quando magistrado, teria maltratado os advogados dos mensaleiros, cometendo, assim, crime infamante, ou, melhor dizendo, hediondo.  Ah, sim, entendi. Mas aí você haverá de indagar: ele foi condenado por esse monstruoso delito?  Claro que não. E nem precisava, porque tão infames são as práticas do Dr. Joaquim, que até mesmo os defensores dos mensaleiros invocariam a observância da teoria do domínio do fato para proclamar sua culpa. Que se impõe, tão mais imperativa – diriam eles – ao ponto de tornar-se dispensável até mesmo o tal do devido processo legal que, neste caso, seria puro desperdício, tão evidente e execrável se revela sua culpa. E foi exatamente este o bem ponderado entendimento adotado por seus antigos pares para indeferir o seu temerário pleito de reinscrição. 

O Dr. José, ao contrário, mesmo recém-saído do xilindró, acaba de ser festivamente acolhido de volta a casa dos seus antigos pares, também justo lá no DF.  Tão rapidinho que, por pouco, ele não foi readmitido antes mesmo de assinar o requerimento de estilo, pedindo sua volta triunfal à advocacia.  Mas, fique claro: isso sucedeu justamente por não ter ele, ao contrário do Dr. Joaquim, cometido qualquer crime infamante ou hediondo, posto que falcatruas, sobretudo quando praticadas por grandes companheiros governistas ou aliados, jamais tipificariam delitos.

Desse modo, quer pela ótica da defesa quanto da acusação, quer se observe o devido processo legal, quer não, desponta radiante a inocência do companheiro Dr. José. Que em sendo Dirceu, mesmo sem Marília e sem fazer um verso sequer, é um anjo de candura, totalmente inocente como até será brevemente proclamado no iminente processo de revisão criminal, que já está sendo combinado entre os nobres companheiros jurisconsultos e os bravos companheiros da liderança bolivariana, para ser encaminhado, prontinho, ao STF. E, por efeito dessa feliz expectativa, ainda vos digo: vós havereis de ver o tamanho da ação de reparação de danos morais que o bravo companheiro haverá de mover contra a União, exigindo-lhe uma indenização que certamente não será medida com base nas merrecas miliardárias do mensalão, mas sim pelos mais justos critérios biliardários do Petrolão. 

E nós, tupiniquins empedernidos, lacaios da pequena burguesia reacionária, que teimamos em botar fé no Supremo, se ainda não, breve nusfu bonito, sem nem um tiquim de vaselina ...  e com bastante areia grossa, se você é daquele tipo que não “sabe de nada, inocente!” ... E que diz, convicto: “Dinheiro na cueca, não senhor. Eram flores”. Ou mais convicto ainda: “Assalto à Petrobrás, não, madama. É expropriação de ativos para financiamento da revolução bolivariana e para a implantação dos conselhos revolucionários populares.” (O madama é uma modesta homenagem à nossa excelentíssima presidenta).

Ah, sim, Quinca... vê se deixa de bobeira e toma vergonha nessa cara gorda, homem! Pare com essa vida de delinquente cínico e infamante. Mire-se no exemplo do companheiro Dr. Zé, que é o Cara, meu, e procura se comportar com decência!  Faça isso e, quem sabe, ele manda os seus pares lá de Brasília liberar sua readmissão...  Mas, claro, exigindo que você se submeta, antes, em rigorosa sabatina, a novo exame de Ordem, agora com ênfase (êta expressãozinha besta) na educação moral e cívica e no código de ética.