.... . ....HOMILIA DE DOM ARMANDO

15 de agosto de 2016

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DO LIVRAMENTO

 

Leituras

Ap 11, 19;12,1.3-.10; Sl 45/44; 1 Cor 15,20-27; Lc 1,39-56.

 

Saudações: Padres, Diáconos, Irmãs religiosas consagradas, Autoridades desta amada cidade, Seminaristas, Animadores das Comunidades, Ministros extraordinários Comunhão Eucarística...

 

Hoje, mais uma vez, estamos reunidos, como família de Deus, ao redor do Senhor Jesus que, com seu divino Espírito, conduz a história e a nossa caminhada eclesial.

Celebrar a solenidade de Nossa amada Padroeira, Nossa Senhora do Livramento, tornou-se uma preciosa e bonita oportunidade para manifestar e fortalecer nossa fé e a esperança que nos sustenta; assim, podemos reafirmar as convicções que iluminam nossa caminhada cristã e a pertença à Igreja Católica.

1. A Palavra de Deus é sempre rica de ensinamentos e propostas de vida. Quero destacar algumas palavras que acabamos de escutar.

O apóstolo Paulo – II leitura – escreve: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram... Em Cristo, todos reviverão... O último inimigo a ser destruído é a morte.

O sentido profundo da nossa fé e do amor a Jesus Cristo está nessa esperança que ilumina a história da humanidade. A morte foi derrotada pelo autor da vida. A humanidade, apesar das inúmeras contradições e desafios, caminha rumo à plenitude da vida: esse é projeto de Deus, o autor da Vida!

O texto de Apocalipse – I leitura - deve ser lido e compreendido nesse sentido: Deus acompanha a história da humanidade e, apesar das forças de morte que ameaçam a existência dos seus filhos e filhas, fará triunfar a vida.

O livro do Apocalipse apresenta o que acontece no céu como modelo do que vai acontecer na terra. Lá no céu, a mulher, símbolo da Vida que vem de Deus, já venceu o Dragão, símbolo de todas as forças que ameaçam a vida. Por isso, os que seguem o Cristo ressuscitado, não devem temer; a vitória será dos que amam e defendem a vida. Agora, realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus. A luta é dura, difícil; as forças contra a vida são poderosas, o dragão – símbolo último do império romano que perseguia os cristãos – tem poder de matar e causar tantos sofrimentos; mas, seu poder é limitado. Lá no céu, já aconteceu a vitória da mulher vestida de sol; portanto, não tenham medo os que estão sendo perseguidos: em breve, sua salvação acontecerá. Eis a razão e o fundamento da esperança.

A mensagem vale para todos os tempos. É mensagem de esperança que deve orientar a vida dos que são perseguidos por serem defensores da vida plena para todos, que sonham e se empenham a favor de um mundo justo e fraterno, por serem seguidores de Jesus.

Maria, a mãe do Senhor Jesus, é exemplo de tudo isso. Ela foi a primeira cristã, a mais fiel seguidora do Filho. Ela, a Igreja contempla na glória, isto é, na plena realização do projeto de Deus. Ela é a razão da nossa esperança. Por isso, na oração após a comunhão, pedimos que “pela intercessão da Virgem Maria, cheguemos à glória da ressurreição”.

No Evangelho, ouvimos o diálogo das duas mulheres, das duas grávidas. Isabel e Maria. Um diálogo bonito, repleto de esperança e de profundas convicções de fé na força transformadora de Deus. O Deus que ama os pequenos, que defende a vida, e se coloca do lado dos pobres, derrubando de seus tronos orgulhosos e poderosos.

2. Acompanhemos a caminhada de Maria para ver o que Ela tem a nos ensinar, para sermos, hoje, fiéis discípulos e, como ela, missionários do Senhor.

- Maria partiu... Para seguir Jesus, é preciso partir, deixar, arriscar viagens que não sabemos para onde nos levam. Vocês, hoje, deixaram suas casas, alguns levantaram cedo, para vir aqui e manifestar sua fé, alimentar sua esperança. Isso é o primeiro passo para acolher o Senhor. Na vida, devemos aprender a partir, a deixar... Um dia, todos deveremos partir para uma terra desconhecida. Porém, já sabemos que é a nossa pátria no céu. Maria já chegou lá. No prefácio, diremos “que Maria é Aurora e esplendor da Igreja triunfante”; “consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho”.

Neste tempo da vida sobre a terra, “o cristão se coloca na escuta do Espírito e se percebe enviado à edificação da comunidade e à transformação do mundo como lugar do Reino de Deus, já iniciado, até a sua consumação definitiva” (Cristãos leigos na Igreja e na sociedade, documento 105, n. 132).

Olhando para o céu, temos claras indicações de como viver na terra. Preclaro exemplo é Maria. Olhando para Ela, torna-se mais claro como viver na terra para sermos discípulos.

- Maria ‘entra na casa de Zacarias e cumprimenta Isabel’. São gestos que podem parecer expressão normal de educação. Porém, as palavras de Maria demonstram sua fé e suscitam a resposta de Isabel: ‘Bendita és tu entre as mulheres... Bem-aventurada aquela que acreditou’. Poucas palavras para expressar uma atitude de fé e compreender o sentido da história. A grandeza de Maria é afirmada a partir de uma leitura de fé. É grande porque acreditou, porque se entregou, alma e corpo, à presença e à força de Deus. Por isso, explode a alegria e a louvação. Eis a razão do nosso encontro: com Isabel, louvar e agradecer a Deus pela resposta corajosa e generosa de Maria.

O passo seguinte, que cada um/a é chamado a dar, consiste em partir para encontrar. O documento de Aparecida (n. 548) afirma: “Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades, dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de ‘sentido’, de verdade e de amor, de alegria e de esperança! Não podemos ficar tranquilos em nossos templos, mas é urgente ir a todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra, que o amor é mais forte, que fomos libertos e salvos pela vitória pascal do Senhor da história.... Somos testemunhas e missionários...”.

E o Papa Francisco nos orienta: “Fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo” (EG 23); ainda: “A Igreja ‘em saída’ é uma Igreja com as portas abertas”. E convida a “sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas” (EG 46). Com o Papa Francisco, este é o meu desejo e pedido: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo... Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada... a uma Igreja enferma por fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49).

Maria canta o cântico dos que amam o Senhor, dos que foram por Ele escolhidos e tocados no mais íntimo. Maria reconhece, antes de tudo, que é Ele quem conduz a história rumo à sua justiça, derrubando tronos e exaltando pequenos. O que o livro do Apocalipse vislumbra começa, agora, a acontecer. Quem vive iluminado pela esperança não fica parado, nem anestesiado pelas ilusões deste mundo, mas colhe um sentido diferente nos acontecimentos e assume uma postura de liberdade diante dos poderosos, no meio das forças deste mundo. Por isso, canta, como e com Maria, que proclama: O todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. De fato, “A alegria do Evangelho... é uma alegria missionária” (EG 21). Maria não se exalta a si mesma, mas reconhece nela a ação de Deus, que a chamou e transformou, e a envia em missão. Esse é o estilo do ser Igreja. Verdadeiro devoto de Maria é quem vive com essa profunda atitude de amor, doação e em espírito de humilde serviço. Não é questão de devoção, mas de imitação e atuação. “O discípulo sabe oferecer a vida inteira e jogá-la até o martírio, como testemunha de Jesus Cristo” (EG 24).

Irmãos e irmãs, hoje, peço a Nossa Senhora do Livramento que nos ensine a não ter medo nem orgulho, e nos inspire para termos força, e sairmos, com e como Ela, na missão de testemunhar a alegria do Evangelho e as maravilhas que Deus continua suscitando, onde encontra mentes e corações abertos e disponíveis à sua ação transformadora. Não tenhamos medo de viver a mensagem do Evangelho, com pureza de coração e ardor missionário. Assim seja!