HOMILIA DE DOM ARMANDO

06 de agosto de 2016 

BOM JESUS

Leituras: Dn 7, 9-10. 13-14; Sl 96; 2Pd 1,16-19; Lc 9, 28b.36

 

Saudação: Padres..., Diácono... Irmãs religiosas... Autoridades... Coordenadores de Comunidades, líderes de pastorais, movimentos e grupos...; enfim, a todos que hoje vieram participar desta festa em honra ao Bom Jesus, padroeiro desta Paróquia: a todos, desejo que vivamos uma verdadeira experiência de fé e de encontro profundo e transformador com Jesus, o Bom Jesus.

Neste ano, pelo convite do santo padre, Papa Francisco, estamos celebrando o “Jubileu extraordinário da misericórdia”. O papa começa a sua Bula de proclamação do Ano santo, escrevendo: “Jesus Cristo, é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax (ponto alto) em Jesus de Nazaré” (MV 1). Logo em seguida, se lê: “Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz”.

Essas poucas palavras são suficientes para se entender o sentido da palavra ‘bom’ que unimos ao santo de nome de Jesus. Jesus, o filho de Deus que veio morar conosco, ‘rosto visível do Deus invisível’; Ele nos deu a conhecer um pouco o ‘rosto do Pai’. Então, precisamos, mais uma vez, pensar: “quem é Jesus para mim? Amo-o de verdade? Procuro conhecê-Lo e segui-Lo?”.

Em preparação ao jubileu de nossa diocese, que encerraremos no próximo ano, estamos refletindo a respeito do nosso Deus que se deu a conhecer como ‘Pai, Filho e Espírito’. Neste ano, o tema que propomos é “A Igreja louva e agradece ao Senhor Jesus pelo seu amor”. Na carta que escrevi, convido a todos os irmãos e irmãs de fé para conhecerem mais quem é Jesus. Escrevo: “Tenho a impressão de que muitas pessoas acham que já sabem o bastante sobre Jesus, e que, portanto, não necessitam procurar mais. Enquanto, tantas vezes, constato que Jesus, ainda, é um grande desconhecido. Sim, muitos falam dele, usam palavras bonitas, projetam ideias ou ideologias, ou, ao contrário, recusam-no de forma banal ou preconceituosa..., mas sem conhecê-Lo”.

O meu desejo é este: que se dobrem os esforços em todas as comunidades para se conhecer mais e melhor quem é Jesus Cristo, o bom Jesus. À mulher de Samaria que Jesus encontrou junto ao poço de Sicar à qual pediu “dá-me de beber”, o mesmo Jesus disse: ‘Se conhecesse o dom de Deus e quem é aquele que te pede de beber!’. Se nós compreendêssemos, de verdade, quem é Jesus, com certeza, nossa vida seria muito diferente.

Insisto: não basta uma proclamação de fé feita na liturgia, em dia de festa. Amar significa conhecer e seguir. Segui-Lo comporta conversão, de mente e de vida. O santo padre, neste ano, convida a igreja toda a “fixar o olhar na misericórdia, para nos tornarmos nós mesmos sinal eficaz do agir do Pai” (MV 3). Ao longo da Novena, meditaram sobre a dimensão ‘misericórdia’ como algo que pertence a Deus, que Jesus mostrou e pede a nós ‘sermos misericordiosos como o Pai que está no céu’.

Então, o que significa para nós sermos misericordiosos? Jesus é sempre movido por esse sentimento profundo. Diante dos doentes, leprosos, famintos ou desesperados que encontra, ele para e pergunta: ”O que queres que eu faça?” Não fecha os olhos diante das necessidades das pessoas, sente a dor do outro como própria, a dificuldade e o sofrimento alheio é dele mesmo. A compaixão move seu agir. Eis o ‘bom’ Jesus que nos ensina o que significa ser bons. O que mais mata em nossa sociedade é a indiferença, o descaso, a frieza. Jesus é atento, sobretudo ao grito dos mais pobres, necessitados, excluídos. Essa é a atitude que mais deve distinguir não só as igrejas, mas a sociedade toda.

A esse respeito, acrescento: uma boa política, administração que se reconheça no agir do bom Jesus, é aquela que dá atenção aos últimos da sociedade, aos que não têm voz nem vez, às periferias. Esse é o modo mais coerente para honrar o bom Jesus. Constato que... temos muito caminho a fazer. Queira o Bom Jesus tocar e transformar os corações e fazer de nós todos seus imitadores.

Com certeza, então, será uma transformação social, corações novos e renovados, uma sociedade nova, justa, fraterna e solidária que começa a aparecer. Realizar-se-ia o sonho do livro de Daniel (I leitura). O sonho do Reino de Deus sobre a terra, que tanto inflamou a pregação e o agir de Jesus, começaria a acontecer. É isso que eu sonho. Sinto que o Senhor nos chama a seguir esse estilo de vida. Ter fé é ‘fazer a diferença’ em todas as situações e circunstâncias da vida, pessoal e social. Se não for assim, no dia em que ‘os livros forem abertos’ não se encontrará nada de bom em nossa página.

A Palavra de Deus desta festa é da solenidade litúrgica da Transfiguração. Ouvimos a bela página do evangelho de Lucas e a carta de Pedro.

O evangelista observa que, na montanha, Jesus estava em oração. Nesse clima orante, no diálogo silencioso e repleto de amor para com o Pai, Jesus mostra aos discípulos o futuro que Deus reserva, não só para o Filho amado, mas para todos os filhos e as filhas que Ele ama. A dor, a paixão e a morte – que Jesus tinha preanunciado – não são o fim de tudo, tem / temos um futuro, que já está brotando. Jesus ‘tira o véu’ que esconde esse ‘mistério’, isso é, este ‘projeto de Deus’ sobre a vida e a morte, o mundo presente e seu futuro.

Nós estamos aqui por causa desse futuro de Deus que, porém, já ilumina o presente. Precisamos, constantemente, haurir luz e força para acreditarmos, para que a poeira da vida cotidiana não tire de nós essa esperança de glória. Precisamos alimentar nossa fé no contato constante com a presença de Deus em nossa vida. Às vezes, a dor, as fadigas ou as ilusões deste mundo, abafam e escondem a presença luminosa de Deus. Por isso, sem momentos marcantes de experiência de Deus, corremos o perigo de deixar a fé morrer.

Mas... não podemos ‘ficar na montanha’, como Pedro queria. É preciso descer, retomar a vida do dia-a-dia, na fidelidade fadigosa e, às vezes, opaca e difícil. Mas, uma certeza nos acompanha: Ele é ‘o Filho amado’ que ‘está sempre conosco’; seu Espírito foi derramado em nós, não estamos sozinhos nas estradas da vida. Podemos confiar. Devemos voltar para irmos em missão. Sim, anunciar e testemunhar que o nosso Deus é amor. Missão exigente, a de testemunhar o evangelho do bom Jesus, através da misericórdia para com todos, “Neste Ano Santo, - continua o Papa Francisco – poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais... Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual. Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença... Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói” (MV 15).

Que o Senhor bom Jesus dilate os nossos corações, inflame a nossa vida com seu amor, torne-nos testemunhas de bondade e misericórdia, de compaixão e ternura, de acolhida e perdão. Se isso acontecer, então sim, valeu a participação nesta festa; seremos, um pouco mais, nós também, imitadores do bom Jesus.... Assim seja.