Artigo – 08.10.2017

O homem que matou
os facínoras, de raiva!

Jorge de Piatã (*)

(continuação)

E, assim, caros e caras “homens sapiens e mulheres sápias”, sou compelido a confessar, agora, embora muito constrangido, que, ao assistir, pela enésima vez, à reprise do belo faroeste, me senti, também pela enésima vez, o próprio mocinho. Bestíssimamente romântico.

Tudo isso, até Sua Excelência, o Supremo Magistrado da Nação, ter decidido, há pouco, me colocar no lugar que mereço, juntamente com milhões de “outros sonhadores e outras sonhadoras tupiniquins e tupiniquinas, bestamente românticos e românticas”, qual seja o de reles facínoras!

Isso mesmo! Justo agora, na bruta realidade do tormentoso e deslavadajato momento histórico da nossa “pátria amada, salve salve-se quem puder”, a verdade é impiedosamente atiçada em nossa cara: nós é que somos os facínoras! Sobretudo, nós, os leitores e eleitores que pensam e nos achamos bem informados e, de modo especial, os que pensam, fazem e veem os meios de comunicação, desde o Jornal do Sudoeste ao The New York Times ou ao Newsweek!

Desde o Mandacaru da Serra ao Le Monde ou ao Le Figaro. Todos tremendos facínoras! “Facínoras que roubam do país a verdade”! Foi o que proclamou sua excelência, o mocinho-mor, em nome de toda a quadr, digo, em nome de todos os seus excelentíssimos compar, digo, pares!

Enfim, ser ou não ser facínora! Eis a questão, no antedito tormentoso e deslavadajato momento histórico que ora vivenciamos (ou nos mortificamos?). Mas, isso é irrelevante, diria Sua Excelência, o vice que o PT mandou Mamãe Dilma entronizar como majestade no Planalto.

Relevante mesmo é que, no elenco da memorável fita, despontam, primeiro, pela ordem, os mocinhos: Mr. Temer, o mocinho-mor na fita atual; seguindo-se Mr. Gilmar, misto de xerife e advogado de defesa de poderosos (abomina ser juiz), atualmente estrelando “O Exterminador do Futuro da Lava-Jato”.

Brilha, ainda, Mr. Lula, ex-mocinho-mor (estreou em “Sexta Feira 13-Parte 13”, fez “O Homem Que Não Sabia de Nada” e ameaça voltar em “Django Lula Livre”, a ser lançado em 2018). Em eterno e milionário ocaso, Mr. Sarney, ex-xerife-mor e xerife vitalício do Maranhão, protagonista de “O Marimbondo Imortal”. Garbosamente, concorre Mr. Collor, ex-xerife-mor e xerife vitalício das Alagoas, premiado com o Oscar, por sua atuação no faroeste “O Caçador de Marajás”.

Apresenta-se, ainda, Mr. Geddel, atualmente estrelando o lacrimoso “O Homem de 51 Milhões de Dólares”, isso após ser injustamente preso em razão da falsificação, por facínoras, de suas digitais em todas as cédulas de 51 caixas e malas de dinheiro honestamente lavado; o sorumbático Mr. Dirceu, em “A Face Oculta”; Mrs. Dilma e Mr. Silas, em “O Duelo da Mandioca”. Segue-se o eletrizante “O Homem da Mala Misteriosa”, estrelado por Mr. Temer, coadjuvado por Mr. Loures; e, com toda a grandiosidade, o Sr & Sra Cabral, estrelando a milionária superprodução “Bonnie e Clide In Rio”.

Na mesma temporada, três outros grandes sucessos: “Se o Apartamento de Mamãe Falasse”, com Mr. Neves; “O Meu Apartamento Falou”, com Mr. Geddel; e, para brindar os cinéfilos mais puros e castos, o retumbante pornô explícito “Suruba no Planalto”, com Mr. Jucá & Cia. Despontam, ainda, garbosa e heroicamente, Mr. Michel, Mr. Renan, Mr. Jader, e os Batista Brothers, em participação especialíssima, estrelando as bilionárias superproduções mundiais, com externas em New York (Dow Jones e Nasdaq) e magníficas locações em paraísos fiscais, nos “Por Um Punhado de Bilhões de Dólares” e “Por Um Punhado de Bilhões de Dólares a Mais”.

E, no maior espetáculo de todos os tempos, co-produção PT/PMDB, Mr. Lula, Mr. Cunha, Mr. Dirceu, Mr. Geddel, Mr. Palloci, Mr. Renan e Mr. Jucá, estrelam o grandioso “Sete Homens e um Destino: a Papuda”. E muitos e muitos outros!

Do outro lado, seguem-se, também pela ordem – conforme a abalizada afirmação do mocinho-mor, Mr. Temer – aqueles que Sua Excelência, na inútil estratégia de autodefesa, considera bandidos, a quem sonha apenar com, segundo sua reação de acusado, a hedionda qualificadora de facínoras: Mr. Janot, Mr. Facchin, Mr. Moro, Mr. Bretas, Mr. Dalagnol, Mr. Simon, Mr. Genro, Mr. Suplicy, Mr. Cristóvão, Mrs. Marina, Mr. Wal ..., como é mesmo o nome desses atores? Me danei a esquecer! Quanto mais dos figurantes,... Ah! Entre estes, você e eu (ôps!) ...Chega! É melhor passar a régua para só ficar na lembrança que todos estes atores foram riscados da filmografia mundial, justo por sua imperdoável condição de facínoras.

E foi assim que os formidáveis mocinhos, unindo suas forças inversoras de plantão, nos três poderes, e empreendendo o maior arrastão de todos os tempos, boicotaram, asfixiaram e trucidaram todas as facinorosas produções que estavam em curso, entre outras: “Os Homens de La Mancha”, “Em Busca da Verdade”, “O Ocaso dos Honestos”, “Duelo de Bravos”, “Lava-jato: A Verdade Que Não Queria Calar” etc. E o filme que chegou a ser o mais esperado de todos os tempos: “Os Homens Que Não Venderam Sua Alma”. Bem Feito! Coisas de facínoras!

Ah! Os verdadeiros facínoras tentaram, ainda, nos seus estertores finais, fazer um filme sobre valores morais e sobre a eterna luta do bem contra o mal, a ser inspirado na célebre frase dita justo por um jornalista, personagem de “O Homem que Matou o Facínora”: “Aqui é o Oeste, senhor. Quando a lenda é maior que o fato, publica-se a lenda”. O filme não chegou sequer a ter nome. Os poderosos mocinhos massacraram tão fulminantemente o fato que não restou aos facínoras nem o consolo da lenda.

Bem feito, de novo! Olhaqui-ó! Cambada de facínoras! The End.

(*) Jorge Soares de Oliveira (Jorge de Piatã), bacharel em Direito (UFBA: 1969), OAB-BA nº 3.401, escritório em Brumado-BA, atuando ainda em Livramento de Nossa Senhora, Rio de Contas, Vitória da Conquista e Salvador.