Artigo – 13.01.2021

Reflexões pandêmicas II,
pórtico final dos ladrões

 

Jorge de Piatã (*)

 

(continuação)

 

São especializados em farejar, onde quer que possa haver, e furtar o dinheiro público, sem nenhum remorso, como quadrilheiros que se completam no mais elevado nível de canalhice! 

Igualam-se no requisito cromossômico básico para se chegar a tal grau de ganância, que é a psicopatia, que lhes blinda contra a mais ínfima possibilidade de respeito ao semelhante.

Assim, em nada lhes incomoda os efeitos do desfalque, de que são protagonistas frequentes, por exemplo, nos projetos - agora mais que emergenciais, urgentíssimos  -  de prestação da saúde pública, com milhões de vítimas clamando por socorro, Brasil a fora.

Além de tudo, o repulsivo quadrilheiro, gatuno do erário público, nunca perde tempo, sem vergonha, e não hesita em posar em fotos sendo honorabilizado pela corja dos seus iguais do poder.

Mas não tarda e chegará o dia em que o vetusto larápio, sempre honorificado, passará sob o pórtico infernal antevisto por Dante, com o terrível vaticínio: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança”.

E o infausto chegante adentrará o umbralino quinto círculo das profundas, onde desfrutará, para sempre, segundo o grande poeta florentino, o pesado fardo das suas riquezas, luxos, títulos e privilégios.

Certamente “submerso em um lago de espesso piche fervente”, como enfatiza Dante, sendo certo que, alí, também poderá compartilhar com os seus comparsas, sem cessar, buchadas tão malcheirosas quanto foram suas ações.

Tudo regado a talagadas de vinhos e whiskys de refinada procedência paraguaia! E, a depender da fé com a qual se identificou, sua pena poderá ser provisória ou durar para sempre.

Pelos antigos e aterrorizantes dogmas católicos e evangélicos, a condenação aos quintos é eterna. E é assim que o dantesco vaticínio se cumpre. Já a doutrina espírita prega a provisoriedade das penas, em sucessivos estágios de resgate.

Assim, o homem público que optou pelos caminhos dos desvios - pouco importa sua confissão religiosa ou sua ideologia - passará a compartilhar o fervor do ágape, com o príncipe do mal, secundado pelo chifrudo vermelho, se ladrão de esquerda; pelo rabudo cinzento, se de direita, e pelo traiçoeiro camaleão multichifres, para quem nada for, ou for cambiante, como os do centrão.

Mas, diferente da aprazível Livramento, que tem sempre “um sorriso para quem chega e uma lágrima para quem parte”, na frase cunhada há muitos anos, os anfitriões do quinto círculo só gargalham para quem chega, pois de lá ninguém parte, como reza a tradição catequética romana!

 (*) Jorge de Piatã é o dvogado Jorge Soares de Oliveira, 
que nasceu em Piatã-Ba, cresceu em Livramento de Nossa Senhora-Ba e
reside em Brumado-Ba