História – 08.04.2021

O Casarão do Recreio

 

Professor Eduardo Lessa
(pesquisa e texto)

A pouco mais de 1km do centro de Livramento de Nossa Senhora, no Sudoeste da Bahia, localiza-se o povoado ora denominado Vila Recreio, cuja referência maior é o casarão, tipo sobrado, pertencente aos herdeiros do major Durval Guimarães Spínola.

No belo e vistoso casarão, nasceram, viveram e cresceram os 11 filhos do casal Durval Guimarães e Alice Pereira Guimarães. Alguns moraram lá a vida inteira, como Valdemar, Gilberto, Odete e seu filho Iverlando, Durvalice, Guiomar e Maria do Livramento.

O casarão e outras casas da vila acabam de ser reformados, chamando a atenção de moradores, visitantes e de quem passa por lá, indo para o povoado Barrinha e os tradicionais sítios Coqueiro, Lagoa, Valo e Chicão, que abrigam belas e curiosas construções coloniais.

A reforma foi iniciativa do oftalmologista Halley José Spínola, neto de Durval Guimarães, com apoio e colaboração de vários outros descendentes, entre eles Elmar Spínola e Flávio Durval Guimarães, também netos, que supervisionaram as obras. O projeto incluiu as casas contíguas e vizinhas, preservando o valioso sítio histórico.

Um dos imóveis restaurados é a casa da primeira escola municipal da região, anos 1950. Foi também a primeira onde ensinou a professora Maria do Livramento, filha mais nova de Durval Guimarães. O Dr. Halley Spínola e o jornalista Raimundo Marinho, que aparecem nesta matéria, estavam entre os primeiros alunos da escolinha.

A restauração geral constou não só da pintura externa, mas também da estrutura interna do casarão e seus anexos, além de móveis, tudo mantendo as características originais. Poderá ser um exemplo para outros donos de imóveis históricos, no município, hoje ameaçados de se tornaram irrecuperáveis.

História do casarão

No livro Memórias da Família, de Lourival Pereira Guimarães, filho de Durval e Alice, constam os seguintes registros sobre o lugar:

a) Da “Ilha Graciosa”, dos Açores Portuguesses, veio para o Brasil, em 1817, uma jovem de nome Ana, com apenas 17 anos, em companhia de sua mãe, que procurava o filho Manoel de Souza e Silva, o qual migrou para o Brasil em busca de “dias melhores”, eis que era considerado “arrimo de família”(sic).

b) Com 22 anos de idade, a jovem Ana da Natividade Oliveira veio a contrair casamento, em 28 de janeiro de 1822 (Festa de São Gonçado da Canabrava), com Manoel de Oliveira Guimarães, já fixado e residente no Brasil, precisamente na cidade de Rio de Contas, “... onde grande número de portugueses chegavam para a busca de ouro, que alí havia em abundância” (sic).

Desse casamento, nasceram oito filhos, entre os quais Antônio Joaquim de Oliveira Guimarães (Totonho do Recreio), nascido em 1833. Este casou-se em 1854, com Francisca Rosa, no povoado do Morro do Fogo, distrito do então “Arraial do Ribeiro”, atual cidade de Paramirim.

c) Consta das anotações do Sr. Lourival Guimarães que, após o casamenteo, a partir de 1855, o velho Totonho e sua esposa passaram a residir no “Sítio Recreio” de Vila Velha (atual Livramento). Tiveram dois filhos: Urbino (*1856) e Arlinda (*1860). Totonho e Francisca faleceram em 1907 e 1905, respectivamente.

d) A filha Arlinda Bela de Oliveira Guimarães (*1860) casou-se com José de Souza Spínola. Tiveram oito filhos, entre eles Durval, nascido em 1883, no Casarão do Sítio Recreio. Ele casou-se com Alice Pereira Guimarães, em 10 de junho de 1908. Sempre viveram no local, onde nasceram e cresceram seus 11 filhos.

e) Síntese da história do Casarão: Desde 1855, a casa era habitada por “Totonho do Recreio”, pai de Arlinda e avô de Durval Guimarães Spínola, estimando-se que o imóvel tem mais de um século e meio. Não há registro sobre se houve alterações, ao longo do tempo, ou se conserva a construção original. Pelo menos o formato atual do casarão tem mais de 100 anos.

Na primeira casa (amarela) à esquerda funcionou a escola pública municipal

(fotos cedidas pelo Dr. Halley Spinola)