Joaquina, Joca – 01.03.2022

Um jeito de ensinar a rezar!

Joca fantasiada de Carmem Miranda, divertindo crianças, os sobrinhos adoravam

Joca encantava sem precisar de esforço para isso! Sorriso largo e fácil, olhar sereno, falar delicado, acolhedor! Optou por uma morada simples e pequena, mas que se agigantava na beleza do ser iluminado que era. Tinha espírito agregador, na família, na sociedade e, principalmente, no meio religioso.

Joca, ao centro, ladeada pelas irmãs Maria e Dalila, no Jardim Botânico (RJ), em 1946

Mesmo com formação escolar primária, era uma mestra, além das  habilidades para trabalhos manuais, o bordado, em particular, o artesanato e a culinária. Não deixava ninguém sair da sua casa sem se deliciar com os doces, bolos, biscoitos e as famosas balinhas de coco, que fazia com esmero!

Buscou o aperfeiçoamento, no renomado curso Kate White, em Salvador-Ba. Mãos também caridosas, que afagavam, mas igualmente usadas para educar, até com um beliscãozinho, quando necessário, como contam os sobrinhos. As mesmas mãos que uniam familiares distribuíam a caridade, sem alarde, até para além do seu entorno, como ajuda a necessitados lá na África.

Marinilce Tanajura Oliveira

Tinha paixão pelos sobrinhos, para quem assinava a revista Devoto Mirim, assim que nasciam. E suas mãos se elevavam ao infinito, quando justapostas, na Igreja, para invocar e agradecer a Deus, em fervorosas orações. E, com essa mesma fé e fervor, costumava catequisar, ensinar, ajudar, aconselhar!

Mudou-se da sua casa no Jacó para a singela morada próxima à Igreja Matriz, mais perto dos fiéis. Dizia sempre que precisava de muito pouco para viver feliz! Apesar de morar só, nunca se sentia solitária, pois, além das muitas visitas que recebia, adotou um periquito, o Quito, o companheiro fiel por mais de 20 anos.

Falar de Joca, portanto, é aprender a solidariedade, doação, humildade, singeleza, grandeza de um ser generoso! Tal como disse a sobrinha Marinilce Tanajura Oliveira: Não é porque é Joca e sim porque, sendo Joca, vestiu-se da Igeja como um todo e serviu à uma comunidade inteira!

Foram lições e exemplos que, certamente, ficarão para além dos seus 95 anos de vida! A seguir, algumas mensagens, de parentes, religiosos e amigos, sobre essa missionária, Joca, a quem dedicamos esse preito de saudades:

Padre Jandir (pároco) - Na caminhada da nossa Paróquia, inúmeras pessoas contribuem de maneira generosa, dedicando suas vidas à causa do Evangelho. Assim recordamos nossa irmã em Cristo Joaquina Guimarães Tanajura (Joca). Uma pessoa que, de maneira concreta, expressou essa dedicação a Cristo por meio da Igreja. Nossa gratidão pelo seu incansável trabalho e pelo seu zelo para com as vocações sacerdotais! Que, agora, ela experimente, junto de Deus, a plenitude do amor e da vida.

Padre Gilvânio (Livramento) - Conheci Joca nas missas dos feirantes, aos sábados, que não existem mais. Eu a via na entrada da Catedral vendendo livros e acessórios religiosos. Naquela época, eu já sentia vontade de ir para o seminário e expressei a ela a minha vocação. A partir daí, ficamos amigos! Às vezes, ia à casa dela, à tarde, para visitá-la e conversávamos sobre assuntos diversos, mas sempre a Igreja Católica e a minha vocação. Ela me estimulava na perseverança – às vezes, emprestava-me livros ou o Jornal Santuário de Aparecida. Ela era coordenadora do grupo OVS, hoje OVM (Obras das Vocações e Ministérios). Assim, ajudou a muitos que queriam ser padres, sendo eu um deles. Ela não se casou e dedicou sua vida às vocações, como se tivesse feito voto de castidade. E talvez o tenha feito no seu íntimo! Só ela e Deus sabem! Uma pessoa que admiro e tenho a certeza que está contemplando a face de Deus.

Padre Weverson Almeida Santos (Paróquia do Senhor do Bonfim, Rio do Pires-BA) - Manifesto meu sincero sentimento pelo falecimento da Sra. Joaquina Guimarães Tanajura (Tia Joca, como a chamava), com gratidão por sua existência e exemplo de fé, amor à vida, virtude e generosidade. Destaco, entre outros notáveis feitos de sua pessoa na Igreja e na comunidade, sua consideração e esmerada dedicação às vocações sacerdotais, o que a fez fundadora e grande benfeitora da OVS (Obra das Vocações Sacerdotais), que se tornou mais tarde OVM (Obra das Vocações e Ministérios). Como padre diocesano, filho de Livramento de Nossa Senhora, devo muito às orações, amizade, incentivo e colaboração de Tia Joca em meu discernimento e formação presbiteral. Era belo e cativante ver, nos últimos anos, apesar das limitações físicas que tinha, sua perseverança nas celebrações da Catedral. Honrou-me muitíssimo sua significativa presença em minha Ordenação Presbiteral, em 2015. A ela, entre os primeiros, administrei a Sagrada Comunhão como neo-sacerdote. Peço ao Bom Deus, nossa Origem e Fim, que lhe conceda o prêmio dos justos e, em plenitude, na eternidade, aquilo que pela fé e obras sinalizou na Terra.

Kleyse Tanajura (sobrinha)– Nasceu para titia! Titia de sangue e de coração! Mada, para a família; Tia Joca, para a comunidade e paróquia, dedicou sua vida a Jesus!  A igreja era o seu lugar preferido no mundo. Participou da construção da Torre do Bom Jesus, da instalação da Diocese, coordenou as Obras das Vocações e Ministérios (OVM), amou seus seminaristas, ensinou-nos a rezar através da ação. A despeito da sua dificuldade de locomoção, movimentava a família inteira para fazer bolos, bombons de chocolates, balinhas e xaropes medicinais, pintar as bandeiras e os círios pascais que ela mesma fazia com as ceras das velas derretidas,

construir caleidoscópios, montar rosários e terços de continhas, vender bingos e ajeitar as flores para a Mãezinha do Céu!

Stela Guimarães (sobrinha) - Foi uma tia muito presente em nossas vidas e sempre a vi como sinônimo de perseverança e fé – exemplo para todos nós! Não gostava de se aparecer, dava com uma das mãos e a outra escondida para não ter provas. Discreta em tudo! E quando ia à igreja sentava-se atrás da pilastra em frente ao Santíssimo; creio que por isso não temos fotos dela na igreja, local em que se dedicou quase toda a sua vida!

Francisca Novais da Silva (Chica, amiga e cuidadora) - Joca pra mim foi uma pessoa simples, bondosa, não falava mal de ninguém, tudo pra ela tava bom, a fé que tinha em Deus e a vontade de viver me surpreendia muito; era irmã de Dona Dalila (com quem morei até ela ir morar em Salvador). Mada vai fazer muita falta em minha vida! Foi devota da igreja, mesmo doente, em cima de uma cama nunca reclamava de nada; fui ajudar a cuidar dela nos últimos tempos. Era muito grata às vizinhas e amigas, filhas de Sr. Alfredo Machado, Mariza, Bela e Ceci, pelos cuidados que tiveram com ela quando fraturou a perna, inclusive levaram ela para casa delas. Muito carinho! Não tinha vaidade, ajudava muita gente, pessoas que não tinha condição de ter uma criança, ela caçava um jeito de fazer um paninho, uma toalhinha pra dá e foi uma pessoa boa assim o tempo todo! Não desfazia de ninguém, do jeito que era ela, era a casinha dela, tudo simples, não tinha ganância, inveja, nem usura, nem vaidade, até as roupinhas dela eram assim! Mada não viveu pra ela, viveu pros outros. Eu curti ela aos pouquinhos até o fim, o que pude, curti! Agradeço a Deus por ela e por essas pessoas todas terem feito parte da minha vida.vida.

Josué Carneiro Alves Filho (amigo) - Joca ou Joaquina Guimarães Tanajura,  uma expressão de amor ao próximo, na prática! Absorveu desde cedo os ensinamentos cristãos. Tinha na sua essência a vontade de seguir aquilo em que acreditava. Sem plural, ajudava a todos, devotada à família, prezava a ética, o bom caráter, como algo maior na vida. Sobretudo cultivava a amizade e a vida simples! Parecia muito com a sua irmã Sinhá, a minha sogra. Não se envaidecia pelo sobrenome nobre, não se

importava com tais valores. Prezava valores outros, e os tornava simples, como a boa etiqueta e o glamour da cozinha! Sempre proseávamos no café que ela costumava fazer, às 16h. Café que, aliás, ela ensinou-me a fazer. Creio que nunca tive amizade tão especial! De muita espiritualidade e empatia! Vai ficar para sempre!

Raimundo Pires de Aguiar (amigo) - Quando D. Joca morava no Jacó, eu a via todos os dias, às cinco da manhã, caminhando pela estrada com um buquê de flores, para Nossa Senhora e assistir à missa das 6h, na Igreja Matriz. Durante muitos anos foi assim. Me emociono ao falar isso!

Letícia Rosa Cambuí – (ex-aluna de catecismo) Fui aluna de catequese da Mada Joca, era um anjo bom que Deus mandou para nós na Terra. Espero que Jesus acolha ela de braços abertos,

porque ela merece.

Joaquina Pereira da Silva (amiga)- A gente era muito amiga, quando eu ia na missa na igreja lá embaixo, sempre eu ia visitar ela. A gente prosava, tomava café! Quando queria um terço, comprava um tercinho na mão dela, ia na casa dela. Deixei de visitar ela depois que não fui mais na igreja, por causa do problema na perna, mas tenho ela no meu coração para sempre. Nas minhas orações, oro por ela, peço a Deus para cuidar dela lá no céu. Tenho amor por Joaquina Tanajura, aliás a família dela toda. Agora, só tem Dalila, a caçula. Dalila tá igual eu, a minha família já foi tudo, só tem agora eu. Eu tinha muita amizade mesmo era com Joca.

Rosângela Dantas (cuidadora)- Fui cuidadora de Joca por cinco anos, eu só tenho que agradecer a ela porque foi através dela que me tornei a pessoa que sou hoje, humilde (não que eu não era, mas não tanto), me ensinou a aprender a orar todos os dias agradecer a Deus pela alimentação, a ter paz, paciência, não guardar mágoas, orgulho, não ter rancor, me ensinou a não me preocupar com a vida e entregar tudo nas mãos de Deus, me ensinou a não desconfiar de ninguém, não valorizar muito o dinheiro e sim, valorizar o amor de Deus, me ensinou principalmente a amar o próximo, amar cada vez mais as pessoas que se aproximam da gente.

Sinto muita falta dela, pessoa maravilhosa, e todos os dias, quando me despedia dela, dizia pra mim: Com fé e amor vamos confiar no Senhor! Me emociono muito quando falo sobre ela. Nunca vou me esquecer de Joca!

Jusciara Pires Coimbra (cuidadora) - Foi um pivilégio ter cuidado de você! Agradeço a Deus por todo o aprendizado que recebi durante o tempo que estive ao seu lado. Esteja em paz, todos nós estamos sentindo muito a sua falta. Que a sua luz esteja

brihando em todo o céu, da mesma maneira que você iluminou todos nós aqui na terra! Amarei eternamente você, minha Joquinha!

Lemi de Oliveira Aguiar (Liu, amiga) - Eu conheci Mada, era muito alegre, uma pessoa muito da igreja. Sou das mais novas, filha de Corita, só que eu ia pras missas com mãe, lembro dela lá, mesmo que eu não ia todos os dias porque eu morava longe, mas todas as vezes que eu ia na igreja de Nossa Senhora do Livramento, ela estava lá, assistindo a missa!

Foto rara de Joca (1º plano), em celebração na Igreja de Nossa Senhora do Livramento