Raimundo Marinho
Jornalista
A Câmara de Vereadores de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, aprovou e o prefeito Paulo Azevedo sancionou a lei nº 1.279/2014, que cria um bairro bem no centro da cidade, ao qual deu o nome do saudoso ex-prefeito José Maria Tanajura, um dos baluartes da moralidade e do trabalho em nosso município.
O bairro criado abrange logradouros já devidamente identificados, nominados e conhecidos, situação somente imaginável na fictícia Sucupira, do teatrólogo Dias Gomes. Com a expansão urbana, muitos bairros acabam ficando no centro das cidades com os nomes originais, mas é a primeira vez que se vê parte do centro de uma cidade ser transformada em bairro.
O art. 1o da lei (Fica criado o bairro José Maria Tanajura) agride a lógica, pois criar deve se referir a algo que ainda não existia, como está no dicionário: tirar do nada, dar existência. Deveria ser, então, uma renomeação de logradouros, ainda que tão ou mais inconveniente, esdrúxulo e desnecessário.
O “novo” bairro compreende as seguintes áreas centrais da cidade: Praça 6 de Outubro, trechos das avenidas Presidente Vargas e Dr. Nelson Leal, ruas Governador Juracy Magalhães, Lafaiete Coutinho, Deputado Joel Muniz, Anderson B. Falcão, Marco Aurélio de Castro, Durval Guimarães, Manoel Matias, Alfredo Machado, José Meira Tanajura, Artur Moura e Silva e João Hipólito Rodrigues, além de trechos das ruas José Maria Tanajura, Ursino Tanajura Meira e a Praça Zezinho Tanajura.
Clique e veja a integra da inusitada lei>>
Raimundo Marinho
Jornalista
Sessenta pessoas, entre 18 e 55 anos, de Livramento de Nossa Senhora, participaram do Qualifica Bahia, programa do governo estadual, pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, que inclui cursos de cabelereiro, eletricista predial e técnica de vendas com inglês.
O treinamento durou três meses e a entrega dos certificados ocorreu no último dia 25, feita pelo Centro de Formação e Organização Comunitária – CEFORC, executor do projeto no município.
Foram beneficiados jovens oriundos de escolas públicas, que não trabalhavam ou atuavam sem qualificação específica, e adultos que estavam fora do mercado e agora vão retornar devidamente habilitados.
Segundo os coordenadores, foram priorizadas pessoas consideradas mais vulneráveis econômica e socialmente, por razões de raça, sexo, idade, deficiência e baixa escolaridade.
O CEFORC informa que vai intermediar a colocação dessa mão-de-obra em vagas de emprego, em parceria com o SINE Bahia e o CDL local. Acrescenta que o Estado investiu cerca de R$28.000,00 em cada curso.
Nova Esperança (MG) – 15.09.1933
Campinas (SP) - 19.07.2014
Márcia Oliveira
Professora
Morreu Rubem Alves! Antes, porém, viu coisas que ninguém mais conseguiu ver. Ele lançou um olhar sobre os sonhos e fez a vida pulsar através da poesia. Seus olhos iluminaram o abismo escuro das cenas tristes, sua imaginação criou asas e as pintou com palavras mágicas, trazendo de volta a alegria que é viver. Foi um grande contador de estórias pra gente grande. Com os pequenos, conversou com o olhar no arco-íris e
disse verdades em forma de poesia. Viu beleza em tudo, não só no que é realmente belo... e o velho acordou menino e escreveu contos sobre o tempo que foge e os sonhos que voltam. Mostrou de dia o “amor que acende a lua”, vida acontecendo sem passado, sem presente, nem futuro. Eternizou os momentos bonitos para que fossem doces recordações, em “um mundo num grão de areia”. Continuou com o propósito maior: Educar o ser humano para que possa desenvolver-se em sua plenitude, de maneira transparente, com prazer em aprender. Ensiná-lo a ver o mundo como nunca visto antes - através do encanto das descobertas sem respostas prontas, mas com perguntas inteligentes, causadoras de espantos, curiosidades, para fazê-lo navegar pelo mar do desconhecido e encontrar um oceano de conhecimentos.
Faz silêncio em nossas vidas nesse momento. E Deus sopra em nossos ouvidos os ensinamentos do grande escritor que coloriu a vida de forma encantadora, vendo beleza até mesmo onde ela não existia.
Escreveu em seu livro “Se eu pudesse viver minha vida novamente,” que cometeria os mesmos erros, correria mais riscos, contemplaria mais entardeceres.
Escreveria mais, muito mais do que escreveu, para, de repente, num dado momento, tranquilizar a saudade, que é nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. Sei que se ele pudesse viver sua vida novamente, diria que a poesia tem uma missão inquestionável, que é recuperar os pedaços perdidos de nós, na imensidão do universo. Ele nos diria feliz que “aquilo que o coração ama, fica eterno”. Continuaria a se encantar com a vida, mesmo que fosse inverno esperando verão. E a primavera em flor a resplandecer no entardecer outonal, serenando as inquietações que alojam dentro de nós; ensinando-nos que “a alma não se alimenta de verdades - ela se alimenta de fantasias”. Aproveitaria o instante, valorizaria cada minuto de beleza, verdade e leveza, usando “o infinito na palma da sua mão” com “palavras para desatar nós”, que nos prendem à ignorância. Traria de novo para perto da natureza os pássaros outrora engaiolados - eles voariam livres e sorririam para o vento, porque “amar é ter um pássaro pousado no dedo e quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que a qualquer momento ele pode voar”. Faz solidão em nossas vidas neste momento. Se ele pudesse viver sua vida novamente teria, de novo, um caso de amor com ela. Ósculos e amplexos não faltariam, tudo numa perfeita sintonia. E Deus a sorrir para ele e sua vida em flor, que, de mãos dadas, correriam pelas colinas e sonhariam com os campos de Minas, florindo mais uma vez em seu coração, “porque quem é rico em sonhos não envelhece nunca. Pode até ser que morra de repente, mas morrerá em pleno voo”, e ele voou. Faz frio em nossas vidas agora, morreu Rubem Alves!
Lia Leal, Evita Peron e Suzete Spínola |
Raimundo Marinho
Jornalista
Poderiam ser coisas de muitas coisas, mas fiquemos só no enunciado do título. Quando perguntei à ex-primeira dama de Livramento, Suzete Spínola, por que não encarava para valer sua candidatura a deputada federal, respondeu-me, simplesmente: “o povo me acha ruim”.
Tentei animá-la: “pelo menos a gente teria em quem votar, na região”, não funcionou. Sabemos que ela repudiava o capricho dos oportunistas. Foi solidária com o marido, mas não concordava com tudo na administração. Deve ter dito muitos nãos ríspidos, o que não agrada a aproveitadores.
Pensemos no lado humano de “o povo me acha ruim”. Fomos o único site a procurar o então prefeito Carlos Batista, após a derrota em 2012 e perguntamos-lhe se “valeu a pena”. Também deixou transparecer desabafo e desapontamento, principalmente com quem não “vestiu a camisa”. Disse:
“Como experiência de vida, valeu. Mas é uma ilusão. A gente entra com o intuito de dar de si o melhor, como eu e minha esposa Suzete. Sacrificamos uma parcela significativa da vida da gente, procurando fazer o melhor para Livramento. (...). Veja integra em:
http://www.mandacarudaserra.com.br/arquivo/2012/novembro.html(07.11.2012).
O governo de Carlos Batista, que o digam os puxa-sacos, não disfarçou sua hostilidade à minha pessoa, por não suportar nem respeitar o posicionamento crítico deste site.
D. Suzete foi a exceção, sempre me distinguiu com sua amizade, daí meu respeito e admiração por ela, a quem sugiro que não se abata ante o pensar do povo, sedento por facilidades. Pois esse mesmo povo já sente saudades.
Afinal, o humano sempre resplandece, no bom ou no ruim, e nem toda primeira dama nasce para Evita Peron! Nossa “Evita”, até agora, é Lia Leal!
Os professores e demais servidores da educação de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, estão sendo convocados pela diretoria da unidade regional da APLB-Sindicato, com sede em Livramento, para uma paralisação geral das atividades, na próxima terça-feira, dia 29, com uma reunião da categoria, a partir das 9h30, na Associação dos Amigos de Livramento.
Serão discutidos indicativo de greve e os rumos da campanha salarial de 2014, que inclui a definição do reajuste a ser reivindicado e está prevista a vinda da diretora de Organização da APLB-Salvador, Ivone Lara. O diretor em exercício da entidade, Marilúcio Santos Marques, disse que espera “a presença de todo funcionalismo da educação de Livramento”.
Os servidores municipais da educação tinham sindicato próprio, o SPEL (Sindicato dos Profissionais de Educação de Livramento), que desacelerou a atuação, com a ida de seus mentores para cargos na Secretaria Municipal da Educação, causando migração de filiados para APLB-Sindicato, de abrangência estadual e visto como mais forte e melhor estruturado.
Clique aqui veja edital de convocação>>
Chora João Grilo, chora Chicó, seus personagens mais emblemáticos, choramos todos nós, seus cativos admiradores! Silêncio no encanto e na poesia das aulas espetáculo! Morreu o grande vate nordestino Ariano Suassuna, último dia 23, em Recife. Sobre ele, muito se escreveu, muito se festejou. Mas O Mandacaru traz um artigo diferente sobre sua vida, sua arte, escrito pela Professora Márcia Oliveira, que o destaca como “um grande lutador pelo resgate e valorização de nossa cultura, capaz de ser universal a partir do seu gigantesco espaço regional, grande mestre das letras, que via encanto e beleza na educação!”.
Mas, registra a professora, com certa tristeza: “Infelizmente, Ariano, há muitos ‘professores’ que chamam de palhaço o colega que faz das aulas um espetáculo, que as transforma em canto e poesia. Eu que o diga!”. E lembra o imortal Charles Chaplin: “Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando, falei muitas vezes como um palhaço, mas jamais duvidei da sinceridade da plateia que sorria”, ou seja, muitos alunos. (Clique aqui e leia o belo artigo, na íntegra).
Clique aqui para ler matéria>>
Raimundo Marinho
Jornalista
A gente de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, está desperdiçando sua paradisíaca vocação! Sendo mais preciso, mata o elã divinal com o qual todo livramentense nasce. A cidade está desfigurada, a roça empoeirada, a praça vilipendiada pelo moderno, até o sino da igreja ficou eletrônico.
Sem cachoeira para olhar, matas serranas devastadas, o sol parece cada vez mais fugir de nós, apesar de mais quente. Nossa magnifica paisagem está indo embora, levando acalantados sonhos de felicidade. Estamos morrendo, aos poucos, sem graça, em meio à paisagem envenenada.
Talvez não seja assim tão catastrófico, mas é o que acordei sentindo, hoje, após sonhar num paraíso em desencanto. Temo perder tão linda vocação para a felicidade e submergirmos nas penas do avestruz deprimido. Nossos jovens estão sufocados no quadrado de escolas ultrapassadas.
De tão burros, ou parecendo ser, elegemos políticos ineptos, mas espertos. Não aprendemos nada de sustentabilidade, nem de moralidade. Não nos incomoda, nem um pouco, cidade sem esgoto e sem água, cachoeira seca, gado esquálido, homens também. E que dizer dos passarinhos sem água?
As eleições estão chegando e nenhum item a nosso favor nos panfletos de campanha. Estamos indo eleger, democraticamente, como bem disse o saudoso João Ubaldo, nossos ladrões de sempre. Dá para esquecer tudo e olhar para como a cosa nostra se requalifica, em grupo e em família?
A indicação de Dunga pode enterrar de vez o sonho do hexa, de nossa geração, que tanto nos aliviaria. Pelo visto, porém, nunca virá. Deixe-me, então, só mandar um beijinho a todos, preferencialmente aos eleitores!
Raimundo Marinho
Jornalista
A ex-primeira dama do Município de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, Suzete Cristina Spínola Souto (foto), esposa do ex-prefeito Carlos Roberto Souto Batista, registrou sua candidatura a deputada federal, no Tribunal Superior Eleitoral, pelo Partido da República, da coligação Mais Mudanças, Novas Conquistas, formada pelas legendas PP/PDT/PT/PTB/PR/PSD/PC do B, encabeçada pelo candidato a governador Rui Costa (PT), apoiado pelo governador Jaques Wagner.
Ela disse que se candidatou para ajudar o partido, principalmente no que se refere ao preenchimento da cota de candidaturas femininas de 30%, em relação aos candidatos masculinos, segundo determina o art. 10, §3º, da Lei 9.504/97. Suzete foi, inicialmente, secretária de Assistência Social e, depois, secretaria de Governo, na administração do seu marido (2005/2008-2009/2012).
Ainda que não seja para valer, mas só para cumpri o protocolo legal, a candidatura da ex-primeira dama satisfaz o objetivo da Lei Eleitoral, de estimular a participação feminina nas eleições. Quem sabe sua disposição chame a atenção das sertanejas para essa necessidade. A maioria das coligações teve dificuldades para preencher a cota, ante o desinteresse das mulheres.
Ilha de Itaparica (BA) – 21.01.1941
Rio de Janeiro (RJ) – 18.07.2014
Márcia Oliveira
Professora
O último final de semana foi marcado por duas grandes perdas no cenário da literatura brasileira, com o falecimento do baiano João Ubaldo Ribeiro e do mineiro Rubem Alves.
João Ubaldo Ribeiro, baiano nascido na Ilha de Itaparica, foi, sem dúvida, um escritor especial. Dono de uma linguagem, ora marcada pela ironia, ora pelo humor, fez registros das histórias vividas e contadas pelos personagens que existem dentro e fora das palavras, carregando em si um país cheio de invencionices, para mascarar a realidade de seu povo que ri, chora, mas que não perde sua fé.
A grande prova disso tudo está no livro que condensa aproximadamente quatro séculos de “história” do Brasil em mais de setecentas páginas instigantes e importantes para a literatura brasileira: Viva o povo brasileiro. Nela, realidade e ficção se misturam para criar um épico brasileiro com passagens heroicas e cômicas, tendo como pano de fundo momentos decisivos na vida do país, como a Revolta de Canudos e a Guerra do Paraguai. É o registro da saga de um povo em busca da sua identidade, personagens que lutaram e construíram o Brasil.
Conclui nos mostrando, na frase da ilustração abaixo, que:
Seu pai, Manuel Ribeiro, advogado de renome na capital baiana, político e professor, abominava a ideia de ter um filho analfabeto. Contratou um professor particular para alfabetizá-lo. João ingressou no Instituto Ipiranga e começou lendo literatura infantil, principalmente a de Monteiro Lobato. Depois, ainda influenciado pelo pai, leu obras de escritores consagrados, como Padre Antônio Vieira, Homero, Shakespeare, Miguel de Cervantes, Machado de Assis, José de Alencar e Padre Manuel Bernardes.
Estreou no jornalismo como repórter do Jornal da Bahia, depois foi editor-chefe da Tribuna da Bahia. Daí em diante, expandiu seu talento para outros jornais, aqui e no exterior, incluindo Alemanha, Portugal e Estados Unidos, países nos quais morou por algum tempo.
Casou-se, pela primeira vez, em 1960, com sua colega do curso de Direito Maria Beatriz Caldas, separando-se nove anos depois. Em seguida, casa-se com a historiadora Mônica Maria Roters, com quem teve as filhas Emília e Manuela. Ultimamente, era casado com a psicanalista Berenice Batella, mãe dos seus filhos Bento e Francisca.
Seu primeiro romance foi Setembro não faz sentido (1963), obra em que faz críticas aos mais diversos setores da sociedade, apontando a semana da pátria como algo sem sentido, vazio de alternativas e, às vezes de respeito cívico. Para ele, não passa de um desfile de tambores barulhentos numa mera comemoração ao 7 de setembro, que nada contribui para o entendimento da autenticidade histórica do processo de independência do Brasil.
“Sou pessimista em relação à humanidade. Acho que nós não melhoramos nada. Até hoje continuamos fazendo as mesmas coisas que fazíamos há dois mil anos. Esfolando gente, cortando cabeça. Isso acontece todo dia.(...) Então o ser humano é um bicho muito atrasado e muito primitivo. Eu não tenho muita fé no ser humano. Não sei se há uma saída.”
João Ubaldo foi escritor, roteirista, professor, jornalista e formado em Direito. Tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras (1993) e ganhador de muitos prêmios, como do Prêmio Jabuti e do Prêmio Camões (2008), maior premiação para autores de língua portuguesa.
“Para ser sincero, não acho nada demais. Acho que ganhei porque mereço.”
Escreveu muito. Outros romances de renome são O sorriso do lagarto (adaptado para televisão), Sargento Getúlio (adaptado para o cinema), A Casa dos Budas Ditosos, crônicas, contos e ensaios, dissertações e teses.
“Um romance são tantos romances quanto forem seus leitores”.
“Não estou preocupado em conhecer os novos autores, esses que vão surgindo agora. Já li muito no passado, está bom.”
Com sua voz grave, pensamento reticente, algumas vezes enigmático, sempre com um sorriso largo e cigarro entre os dedos, esse baiano, apesar do prestígio que conquistou no meio literário, não abandonou o modo simples de levar a vida. Levantava cedo, ia à padaria e comprava o jornal numa banca que fica na mesma quadra. Era comum vê-lo numa mesa de botequim com amigos, trajando bermuda e chinelos, bebericando um guaraná Antarctica diet. Isso, depois que abandonou a bebida alcoólica, devido a pancreatite, mas nunca conseguiu se livrar do vício de fumar. Outra mania era de ler dicionários:
“Desde pequeno adoro ler dicionários. Eu não existo sem o Houaiss, o Aurélio e o Sacconi. Todos instalados no computador”.
João Ubaldo morava no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, mas não abandonava a sua casa real, a Ilha de Itaparica. Cenário das suas inspirações maiores, das crendices, ambiente daquela gente simples que o elegeu como seu verdadeiro porta-voz através das letras. Itaparica dos seus sonhos de menino, do mar que carrega nos barcos os amigos pescadores, dos causos contados na areia da praia, transformados em registros, que o fizeram conhecido mundo afora.
Certo dia perguntaram ao ilustre escritor: Ubaldo, é ruim envelhecer? Respondeu enfático: “Não, afinal de contas quem não morre fica velho. Depois de certa idade, esse negócio de mortalidade fica complicado. Antes dos quarenta, a morte é uma coisa que só acontece com os outros. Depois você começa a ver mortes de contemporâneos. Quando chega aos setenta, você nem brinca muito com esse assunto que dá depressão”.
Deixou inacabado o último romance. Não teve tempo de envelhecer nem de se deprimir. Faleceu na última sexta-feira, vítima de uma embolia pulmonar, aos setenta e três anos. Fechou os olhos o baiano do povo, mas ficou a janela aberta do seu riso constante em nossa memória de leitor.
“Se alguém dissesse que eu não poderia escrever mais, seria insuportável.”
(Imagens copiadas da internet)
Lá estava eu, em mais uma tão sonhada e desejada sexta-feira à noite, sentado em um bar com alguns amigos, bebendo e comendo. No entanto, me sentindo da mesma forma que meus pacientes com depressão se sentem: completamente sozinhos, mesmo estando cercados por toda a família e amigos.
Essa é a sensação que tinge as pessoas que não se renderam ainda à febre do WhatsApp (aplicação multi-plataforma de mensagens instantâneas para celular). O diálogo está ficando cada vez mais difícil e raro, entre as pessoas que utilizam, de maneira quase patológica, esse aplicativo. (Clique aqui para continuar lendo esse interessante artigo, no espaço “E-mails recebidos”).
Raimundo Marinho
Jornalista
O Brasil nunca arrecadou tanto dos contribuintes como nos últimos anos. A Prefeitura de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, é um exemplo. Do orçamento anual inferior a R$20 milhões, em 2005, subiu para mais de R$50 milhões, em 2014. Cresceu em torno de 150%, bem acima dos medidores de inflação, cuja média, no período, foi inferior a 60%.
Mas a prestação de serviços públicos, como na educação e saúde, nunca esteve tão ruim. Em Livramento, convivemos de perto com essa precariedade. A própria organização da máquina pública é vexatória. Há alguns dias, veio às minhas mãos uma prova dessa realidade, que não pode ser generalizada, mas é indício de má administrado.
As imagens deste texto são cópias de requisições de procedimentos odontológicos feitos pelo posto de atendimento da Matinha ao Centro de Especialidades Odontológicas (CEO). No lugar de formulários adequados, foram usados pedaços de papel, que não passam a ideia de economia de gastos, mas de amadorismo, baixa qualidade e descaso.
Raimundo Marinho
Jornalista
O Diário da Justiça da Bahia (14.07.2014) publicou decisão liminar da Juíza Márcia da Silva Abreu, de 27.09.2013, ordenando a retirada de matérias dos sites Mural de Notícias e Mandacaru da Serra, com referências à ex-controladora geral da Prefeitura de Livramento de Nossa Senhora, Edjaneyde Matos Lopes.
Edjaneyde Lopes: ex-controladora da prefeitura |
A ex-servidora municipal solicitou da Justiça a retirada dos textos e censura prévia dos sites, alegando ser inverídica a informação de que era sócia da CPM-Consultoria Ltda., com a qual a prefeitura fez 11 contratos, sem licitação, na gestão em que a então controladora fazia parte.
O site apenas comentou o parecer prévio do Tribunal de Contas dos Municípios (Proc. N. 07579-12), que questionou sobre a moralidade e razoabilidade daquelas contratações. A empresa era representada por Geraldo Vianna Machado, também contratado como perito contábil da prefeitura.
Os dois são da cidade de Jequié e, à época, fomos informados, por fonte confiável, que a então controladora era sócia da empresa, mas ela convenceu a Justiça de que não era, motivando a decisão liminar da Juíza. A ação foi contestada e aguarda-se a decisão de mérito.
Na contestação, entre outras alegações, salientamos que a matéria sobre o parecer prévio do TCM, de mais de 40 linhas, apenas citou a controladora em única linha, e que, em tese, não é crime ser sócio de qualquer pessoa, principalmente se trabalham na mesma prefeitura.
Crédito: imagens reproduzidas da internet |
Raimundo Marinho
Jornalista
Na contramão, talvez, da maioria dos brasileiros, torci pela Seleção da Argentina, na final da Copa. Pesaram na minha decisão intuitiva o sangue latino e a aversão natural aos algozes impiedosos dos nossos canarinhos.
O torneio teve legados nunca imaginados, alguns até bizarros, mas de grande significado, como a cara de tacho dos comentaristas da TV Globo, ante o obvio de que ninguém pode dobrar as pernas de pau dos jogadores.
No contexto, claro, o “deus Neymar”, reduzido à insignificância de reles “anjo caído”. Sob o peso do massacre histórico de 10 gols em duas partidas, terão de admitir que, há muito, deixamos de ser o país do futebol.
Dos 23 convocados, só quatro jogam no Brasil e, junto aos outros 19, foram eleitos estrelas de primeira grandeza do “futebol brasileiro”, com as quais o arrogante Scolari só conseguiu formar um time de quinta categoria.
Não tinha opção, mas desprezou a experiência de veteranos ainda jogando bom futebol, como Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Quem teve olhos viu a perspectiva de fracasso no início, com o rombo no meio de campo.
Estava clara até na logomarca da Copa, do designer francês Maurice Eiffel, intitulada “inspiração”, que sugere uma pessoa preocupada e pensativa, logo associada à postura típica do médium Chico Xavier psicografando.
Parece, também, um homem de cabelo partido, cobrindo o rosto com vergonha, longe, portanto, da ideia de mãos interconectadas, simbolizando unidade, erguendo o famoso troféu, como imaginara o autor.
Antes de morrer, em 2002, Chico teria tranquilizado os que o cercavam: “no dia da minha morte, o Brasil estará em festa”. Morreu quando os brasileiros comemoravam a conquista do pentacampeonato mundial.
Em 2014, há quem jure ter o médium inspirado o desenhista na logomarca, para que, além de sugerir a lembrança do seu famoso gesto, fosse também um alerta, dizendo, com a mão cobrindo o rosto: “não quero nem ver”.
Ou seja, o artista gaulês, sem querer ou inspirado pelo além, desenhou, com bastante antecedência, a tragédia brasileira nessa Copa. E não nos esqueçamos, tão cedo não voltaremos a ser campeões mundiais de futebol!
Raimundo Marinho
Jornalista
No curso do Premem–Programa Estadual de Melhoria do Ensino Médio (1971), do qual poucos se lembram, trabalhamos, na disciplina Português, um texto intitulado “Aula sem paredes”, cuja autoria não me lembro.
O programa preparou professores para as “escolas polivalentes”, através da Universidade Federal da Bahia, no convênio MEC/USAID (Ministério da Educação/United States Agency for International Development).
Tudo de primeira, incluindo o modelo das escolas, das quais há uma em Livramento, hoje sem nada do que era antes. Desisti de ensinar, mas ficaram a recordação e o belo diploma de professor que recebi, aos 22 anos.
“Aula sem paredes” projetava o ensino do futuro, somente agora possível, com a internet, não totalmente absorvido pela escola pública. O autor antecipou o mundo virtual de hoje, onde o “Prof. Google” nos supre das mais variadas formas de informação e conhecimento.
Em 1971, parecia-nos que o texto falava de aulas ao ar livre, trabalho de campo, com professor presente. E não duvido que o ator quisesse mesmo dizer isso, na típica situação de atirar no que ver e matar o que não ver, pois era impossível se prever o intrigante mundo virtual de hoje.
A escola pública ainda aplica grade curricular da época da ditadura, com resquícios coloniais e passou a ver os alunos como desinteressados e os pais omissos. Como se interessar por uma escola cheia de paredes, fechadas para a realidade, totalmente desconectada do que acontece lá fora?
Torturam os alunos, mas há docentes que batem no peito: “não quero nem saber dessas modernidades”. Preferem o encardido “livro do professor”. Não é sem razão que perdem 20% das aulas tentando controlar indisciplina, a média mundial é 13%. E perdem mais 13% em tarefas administrativas.
São dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade internacional que reúne 34 países, que também aponta que quase 90% dos professores brasileiros acham que a profissão não é valorizada na sociedade. A média internacional é inferior a 70%.
Os próprios professores costumam se desqualificarem, fazendo piadas de si mesmos, ao invés de lutar politicamente para mudar o quadro. E um passo importante seria exigir a inclusão das escolas na vastidão de conhecimentos disponibilizados pela internet, através das tecnologias da informação.
O professor era o próprio conteúdo, hoje o conteúdo fugiu do seu domínio. É necessário novas formas de ministrar o conhecimento, de gerir a classe, de administrar a escola. A internet forçou a ruptura das paredes, ao disponibilizar conteúdos em telas de computadores e smartfones.
Informação e conhecimento estão na ponta dos dedos. Alunos podem ser imaturos, sem formação e mal educados, mas não são burros. Bagunça e indisciplina estão vencendo o professor imperial. A eficiência e funcionalidade do ensino virtual tornaram as salas dispensáveis.
O aluno, agora, maneja quase tudo na palma das mãos, conflitando com o professor jurássico e arrogante dos tempos das cátedras, quiçá da palmatória, lousa e quadro-negro. Estamos na era do led e touch screen e as escolas jazem nos tempos do giz e pincel atômico.
Secretarias de educação existem por si mesmas, meros cabides de empregos políticos. Recrutamento de servidores é regido por leis casuísticas, como as do Reda e PST. Os projetos educacionais não têm efetividade, só servem para engordar currículos da tecnoburocracia.
Quem poderia identificar e denunciar as distorções seriam professores e dirigentes escolares, mas não o fazem para não se auto-incriminarem e por lhes faltar capacidade.
O desinteresse estudantil e a indiferença dos educadores vão aumentar, a bagunça e indisciplina crescerão, com o risco, inclusive, de descambar para a bandidagem, por faltar também orientação nos ambientes familiares.
Escolas correm risco de se consolidarem como redutos de rebeldia e agressividade, ameaçando alunos, docentes e funcionários, pois o ambiente tende cada vez mais a se esgarçar, ante o olhar distante dos governantes.
Prefeito Paulo Azevedo (E) e o vice Gerardo Júnior |
Raimundo Marinho
Jornalista
O vice-prefeito de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, Gerardo Azevedo Junior, protocolou hoje, na Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Bahia, ação penal contra o prefeito Paulo Cesar Cardoso Azevedo, por crime de difamação, conforme processo número 0010902-12.2014.8.05.0000, em petição assinada pelos advogados Jerônimo Luiz Plácido de Mesquita e Eduardo Mamede Couto Gonzalez.
Segundo Gerardo Júnior, o prefeito, com o qual compôs a chapa vencedora nas eleições de 2012, o ofendeu durante uma entrevista concedida à Rádio 88FM, de Livramento, quando o teria comparado aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal, na Ação Penal 470, mais conhecida como “processo do mensalão”.
O prefeito foi à rádio responder críticas feitas pelo vice-prefeito, em dezembro de 2013, segundo as quais a administração municipal estava sem rumo. Respondendo pergunta do radialista Alberto Lopes, o vice-prefeito disse, à época, que “o prefeito traiu compromissos de campanha, sua gestão é sem transparência e revela instabilidade, com mudanças constantes no secretariado.”
O prefeito respondeu com outra entrevista, na mesma emissora, tendo insinuado que o vice-prefeito não gostava dele, da mesma forma que José Dirceu, Delúbio Soares e outros condenados do mensalão não gostavam do ministro Joaquim Barbosa. Teria dito também que Júnior fora demitido da Secretaria da Saúde, em 2005, pelo então prefeito Carlos Batista, porque teria “cometido coisas absurdas”.
O relator do processo no TJ é o desembargador Pedro Augusto Costa Guerra, que hoje mesmo ordenou a expedição de carta de ordem, notificando o prefeito Paulo Azevedo para oferecer resposta, no prazo de 15 dias. O crime de difamação é previsto no art. 139 do Código Penal (Decreto Lei nº 2.848/1940), que diz: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Foto da Internet/Página UOL |
Raimundo Marinho
Jornalista
O Brasil veio abaixo, o mundo chocou-se e Barbosa teve a alma lavada, pois nada se igualará, tão cedo, ao horror de Belo Horizonte, quando 11 rapazes transmutaram-se em baratas tontas no gramado do Mineirão, sob o olhar atônito até dos adversários, sepultando o sonho do hexa.
Surpreendentemente, mataram a expectativa de milhões de brasileiros, que se postaram no estádio e diante da TV para vê-los jogar futebol, na esperança natural de ver a Canarinho em mais uma final de Copa do Mundo.
Was ist passiert? e Woher? Perguntas, em alemão, de preferência, que não se calam: O que aconteceu? e Por que”. Levarão anos para compreendermos. Minha impressão é que existe uma máfia no futebol brasileiro, que se aproveita de nossa emoção e habilidade dos atletas para ganhar dinheiro.
Começa na escolha do técnico e inclui convocação e escalação do time, com explicações cínicas como se fôssemos débeis mentais. Atletas viraram outdoors ambulantes e são escolhidos pelo script publicitário. Até o desajeitado técnico aparece em dezenas de propagandas.
Tem participação da grande mídia. Quem duvidar, tente explicar a overdose de divulgação sobre um único jogador, Neymar Jr, elevado à categoria de craque e de astro, quando não passa de atleta mediano. Foi flagrado exibindo cueca de patrocinador, usado sob o calção da seleção.
Reprodução jornal A TARDE |
Meu palpite é que jogadores como Ronaldinho Gaúcho, que comandou a vitória do Atlético Mineiro na Libertadores de 2013, foi vetado para não fazer sombra a Neymar. A seleção jogou todos os jogos com um a menos, apenas para manter Fred na vitrine, apesar de vaiado e motivo de piadas.
Ante o horror de BH, o goleiro Barbosa, transformado em vilão da derrota de 1950, foi redimido, segundo a filha adotiva Tereza Borba: “Ele tinha orgulho de ser vice. Estou triste por ser brasileira, mas feliz por honra ao Barbosa. Ele deve estar feliz agora", em entrevista ao UOL Esporte.
Veja, também, no link abaixo, texto do ex-jogador e atual deputado federal Romário, do qual destaco o seguinte trecho:
“Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros!”
RJ – 04.04.1958
RJ – 07.07.1990
“Qualquer droga faz mal. Eu acho que a maconha faz mal, a cocaína faz mal, álcool faz mal, mas eu... não posso causar mal algum a não ser a mim mesmo”.
Márcia Oliveira
Professora
Há 24 anos, falecia Agenor Miranda de Araújo Neto, sem dúvida um dos grandes poetas e compositores brasileiros do século XX. Mais conhecido como Cazuza, antes mesmo de nascer, chegou a ignorar o próprio nome de batismo, só passando a gostar dele quando soube que um dos seus ídolos, Cartola, também se chamava Agenor.
Crianças costumam ter nomes genéricos, variando por regiões. No Sul do Brasil, por exemplo, guri significa menino, garoto, moleque. Em estados do Nordeste, como Pernambuco, origem do pai do cantor, chama-se menino de cazuza e assim ele foi apelidado, antes de nascer. No dicionário, cazuza é uma espécie de vespa cuja picada é temida.
“Pro dia nascer feliz”, esse “maior abandonado” escancarava a janela da realidade e não escondia sua rebeldia, seu lado boêmio, mostrando-se polêmico, cínico, menino e, muitas vezes, exagerado, ou, quem sabe, um vespídeo.
“Não bata de frente comigo. De tanto cair eu aprendi a derrubar”.
Segundo Lucinha Araújo, mãe do cantor, desde pequeno era ligado à leitura, à música, muito quieto e parecia “alheio ao mundo lá fora”. Isso até os 14 anos e ela mesma o incentivava a sair, fazer amizades. Depois, ele se transformou, descobrindo um mundo que não cabia dentro dele. Envolveu-se com as drogas e, aos 17 anos, confirmou o que ela indagou: “sou gay”.
Apesar da pouca idade, enfrentou a família, o falso moralismo de uma sociedade hipócrita e assumiu sua homossexualidade, sem medo de ser feliz. Poucos têm essa coragem e até, covardemente, casam-se, têm filhos e cavam a própria sepultura dentro do lar. Levam uma vida sofridamente dissimulada, causando infelicidade à esposa, aos filhos e a si mesmos.
Nada pode ser pior do que suprimir um desejo íntimo, vital, devido à cobrança da consciência por não assumirem o que realmente são. Esse problema o bardo Cazuza não teve, inclusive, pagou com a vida, sem resmungar, a escolha devassa que teve a coragem de fazer. Morreu cantando!
“Não quero que finja sentimentos por mim, não quero que segurem a minha mão se tem a intenção de soltá-la. Só quero o que for verdadeiro”.
Filho único,mimado, protegido pela mãe, porque o pai sempre a repreendia quando, muitas vezes, alta
madrugada ela saía para atender a um chamado policial por ter apreendido Cazuza, menor de idade, dirigindo o carro dela, sem habilitação e com excesso de velocidade.
Com ela, teve acirrados desentendimentos. Todavia, ao mesmo tempo, era quem o apoiava em tudo e procurava entendê-lo, à maneira dela. Com o pai, João Araújo, Cazuza sempre teve um bom relacionamento, apesar da sua rebeldia. “Hoje, meus pais são os meus melhores amigos.” “É, os tempos mudaram e eu vivo muito bem acompanhado”.
“Acredite, existem pessoas que não procuram beleza, mas sim coração”.
Começou a escrever poemas e letras musicais em 1965 e os mostrava à avó Alice. Em 1972, de férias em Londres, tornou-se fã das canções de Janis Joplin, Led Zeppelin e Rolling Stones. Seu pai havia prometido presenteá-lo com um carro, caso fosse aprovado no vestibular e ele passou em Comunicação, mas abandonou o curso semanas depois.
Coisa da Burguesia!!! Cazuza começou a frequentar a vida boêmia do Baixo Leblon, quando seu pai decide criar um emprego para ele na gravadora Som Livre, da qual foi fundador e presidente. Depois de prestar algum serviço à empresa, foi para os EUA fazer um curso de fotografia, descobrindo também a literatura Geração Beat, os chamados poetas malditos, que mais tarde influenciaria sua carreira musical.
No Rio de Janeiro, participou do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, no Circo Voador, onde fez a sua primeira apresentação como cantor.
“Escrevo para não falar sozinho!”
Ganhou fama como vocalista da banda Barão Vermelho, juntamente com Roberto Frejat, parceria criticamente aclamada pelo público.
Cazuza sempre teve preferência por canções românticas, melancólicas, de cunho dramático, sendo influenciado por grandes nomes como Cartola, Dolores Duran, Lupicínio Rodrigues, Maísa, Noel Rosa, Dalva de Oliveira.
Cresceu ao redor dos cantores Caetano Veloso, Gal Costa, Elis Regina, Gilberto Gil, Novos Baianos e João Gilberto, tudo proporcionado pelo ambiente criado pelo pai.
O tempo não para na vida desse jovem poeta, autor de canções que marcaram os anos 1980, como Codinome Beija Flor, Ideologia, Preciso Dizer que te amo, Bete Balanço, O nosso amor a gente inventa, entre outras.
“Parece que as coisas perderam o brilho... o que era insubstituível virou facilmente descartável, os momentos viraram lembranças.”
Cazuza fez cair a cortina que encobria um Brasil, que é bonito por natureza, quando o convidou a tirar a máscara e cantou: “Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim...”
Tanto tempo se passou e não sabemos ainda o nome dos sócios que nos deixaram assim, desprotegidos, abandonados, caminhando cada dia mais pelas calçadas da desigualdade social.
Tinha sede de compor, como se tivesse pressa para viver “Todo o amor que houver nessa vida”. Em 1987, o fantasma da AIDS se manifesta. Foi levado para os EUA, sendo submetido ao tratamento a base de AZT, durante dois meses. Volta para o Brasil e inicia as gravações do álbum Ideologia, incluindo Brasil e Faz parte do meu show.
“Decidi não ficar mais triste. Certas coisas não valem a minha dor.”
“Não desisti, só não insisto mais.”
“Os idiotas são mais felizes. Eles não sabem que vão morrer”.
Por mais que tenha cantado “A vida veio e me levou com ela”, foi aquele triângulo de luz, como um dia ele definiu a morte, que o levou no dia 7 de julho de 1990, aos 32 anos.
“Nós gostamos de ROCK e somos loucos/ Eles fazem besteiras e são normais/Que vivam os loucos de boa cabeça/ E pela metamorfose da vida/ Se tornem MALUCO BELEZA!”.
Ele foi assim, até o último momento. E deixou um recado otimista para os brasileiros:
“Espero que, no futuro, não se esqueçam do poeta que sou. Que as pessoas não se esqueçam de que, mesmo num mundo eletrônico, o amor existe. Existe o romance e a poesia. Que mais crianças venham a nascer e é fundamental o amor aos pais.”
Valeu, Cazuza! Foi-se um jovem talento. Ficou a poesia. Permanece a canção.
Acesse os links abaixo, para ouvir “Faz parte do meu show” e “Brasil”:
https://www.youtube.com/watch?v=nwoVI6qFr6w
https://www.youtube.com/watch?v=Gp35LvnRNHM
Raimundo Marinho
Jornalista
A Câmara de Vereadores de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, voltou a divulgar as atas das sessões em seu site, embora com algum retardo. O post mais recente ainda é de 30 de maio, mesmo assim, parabéns presidente João Amorim.
Navegando por lá, dia 4, enquanto aguardava o jogo Holanda x Costa Rica, vi algumas coisas animadoras, como o vereador Antônio Luiz cobrando do prefeito Paulo Azevedo o Ponto Cidadão, que estaria ameaçado de não vir mais para a cidade.
Vi também a homenagem póstuma ao saudoso Norberto Pessoa, de que falarei em outro texto. Todavia, mais me chamou a atenção a repercussão da degradação da estação de tratamento de esgoto da cidade, denunciada por um morador no Livramento Agora e ampliada pelo O Mandacaru.
As duas bancadas, oposição e situação, uniram-se para reconhecer e verberar contra o absurdo, mas se perderam quando a discussão chegou ao ponto de definir quem era mais culpado o gestor atual Paulo Azevedo ou seu antecessor Carlos Batista.
Os dois são culpados, mas o vereador situacionista Ronilton Carneiro cuidou de estabelecer uma diferença, lembrando que o antecessor, além disso, consentiu que a Embasa despejasse dejetos de Rio de Contas no Rio Brumado, cuja água é consumida em Livramento.
E arrematou, em certo estilo hamletiano ou sucupiriano e seguindo a linha dos termos usados na reportagem de O Mandacaru, dizendo: “o que é pior, pisar na merda ou beber e tomar banho na merda?”.
Cremos que a combinação das duas coisas coloca os dois gestores como os piores de todos os tempos, em nosso município, e situa nossa geração como a mais silenciosa e omissa de todas as eras. Essa sessão específica da Câmara pode sugerir que devemos nos curar desse estado dissociativo.
Raimundo Marinho
Jornalista
A Câmara de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, aprovou, por unanimidade, moção de profundo pesar (nº 04/2014) pelo falecimento de Norberto Ferreira Pessoa (foto), que já foi suplente de vereador, ocorrido em 16.05.2014, na comunidade de Bem Posta, distrito de Iguatemi.
Os vereadores lembraram que ele era um homem aguerrido e defensor obstinado da região sertaneja onde viveu, incluindo as comunidades carentes de Bem Posta, Barbosa, Cruz de Almas, Piranha e Iguatemi. Foi presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais de Bem Posta.
Norberto Pessoa era amigo de O Mandacaru. Em 21.10.2007, ele concedeu entrevista a este site, na qual pediu perdão ao então prefeito Carlos Batista pela insistência com que fazia as reivindicações em nome da sua comunidade. À época, foi ignorado pelo alcaide.
A matéria pode ser relida em www.mandacarudaserra .com.br/arquivo/2007/outubro.htm e começava assim: “O senhor me perdoa prefeito, ...mas a água é para o ser humano, não é para a roça. O senhor me perdoa, o senhor é uma grande autoridade, no município. É caso de calamidade”.
Ficou a dúvida se o “caso de calamidade” era o gestor ou a falta de água. Com essa lembrança da sua luta, homenageamos esse livramentense batalhador.
Raimundo Marinho
Jornalista
A advogada Mona Lisa Machado Trindade decidiu deixar, ainda neste mês, a Secretaria de Governo da Prefeitura de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, e já teria avisado o prefeito Paulo Azevedo sobre essa decisão. É a sétima pessoa do primeiro escalão a deixar o governo municipal, na atual administração.
Ouvida por este site, a secretária não detalhou os motivos do seu pedido de exoneração, mas um deles seria a necessidade de retomar suas atividades privadas em seu escritório de advocacia, “que vinham sendo prejudicadas pelo exercício da função pública”.
Ouve-se dizer, porém, que é grande a insatisfação entre os auxiliares do prefeito Paulo Azevedo, cuja equipe estaria resumida apenas a duas pessoas, ele e sua esposa D. Helinete Azevedo, cujo recado aos insatisfeitos seria "ou aceita o sistema ou sai do sistema".
Quem pode sai e a prefeitura perde bons quadros, como o engenheiro Nilson Dantas (Secretaria de Obras), a médica sanitarista Efigênia Cardoso (Secretaria da Saúde) e, agora, a advogada Mona Lisa Trindade (Secretaria de Governo).