Sem cotação no mercado, as mangas se perdem nos pomares
Manga perde preço e
ameaça a economia de
Livramento e D. Basílio
O ano de 2006 está sendo considerado perdido para os produtores de manga dos municípios de Livramento de Nossa Senhora e D. Basílio, que detém uma das maiores áreas de cultivo do Estado da Bahia, cerca de 11.500 hectares, dos quais oito mil hectares já em produção (5.500 hectares em Livramento e 2.500 hectares em D. Basílio), segundo informação do presidente da Associação do Distrito de Irrigação do Brumado - ADIB, Rosivaldo Romão da Silva. No primeiro semestre, a safra induzida artificialmente não vingou, devido à antecipação das chuvas e do frio, ocorrido no período de floração, a partir do mês de março, frustrando uma safra estimada em 120 mil toneladas, com base na produção média de 15 toneladas por hectares, ainda segundo o presidente da ADIB.
Se corretas essas informações e mais a de que o preço da manga, há quatro meses, período de entressafra, era de R$1,20 por quilo, feitas as multiplicações (15 toneladas vezes oito mil hectares e vezes R$1,20 o quilo) a perda pode ter superado os R$ 144 milhões, ao contrário dos R$20 milhões estimados pelos produtores em entrevista ao repórter. Se as contas forem feitas com o preço médio do período, em torno de R$0,50 por quilo, ainda assim o prejuízo seria grande, ou seja, ficaria em torno de R$58,800 milhões. No segundo semestre, a situação se inverteu, com muita produção, mas como a safra coincidiu com as de outras regiões do Estado e de outros estados, o preço por quilo da manga caiu a quase zero, dobrando o prejuízo, em proporções parecidas com as do primeiro semestre.
Os pequenos produtores querem escalonar dívida com Banco do Brasil
Produtores mobilizados
Com a crise, os produtores entraram em polvorosa, principalmente os pequenos, que possuem empréstimos junto ao Banco do Brasil, cerca de 90% deles, que terão uma reunião nessa segunda-feira, dia 13, na Câmara de Vereadores de Livramento, para buscar uma solução, para a qual foi convidado o gerente da agência local da instituição. Sabe-se que o banco vai atender a principal reivindicação dos plantadores de manga, que é o escalonamento da dívida, superior a R$4 milhões, por um período de cinco anos, mediante uma composição, em que sejam liberados mais recursos para que possam se manter em atividade até a próxima safra. Por hora, os produtores, com a cotação inferior a R$0,10 o quilo, estão oferecendo os frutos de graça para quem se dispuser a tirá-los no pé, para evitar que apodreçam e sujem os pomares.
Na última reunião, também na Câmara de Vereadores, dia 6 de novembro, antes de saber qual seria a posição do Banco do Brasil, os produtores de manga, demonstrando muita emotividade e pouco senso prático, bradaram que a crise do setor iria colocar o município em colapso, pois entendem que toda a cadeia produtiva seria afetada, apelando aos médicos, dentistas, padres, pastores, donas-de-casa, comerciantes, estudantes, meios de comunicação e quem mais reside no município, para se juntar a eles. O presidente da CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas de Livramento, Enedino Júnior, chegou a propor uma mobilização popular, com manifestações tipo fechamento do comércio, cobrar apoio de deputados e outras ações.
Mas falta planejamento
Erasmo Caíres Conceição, tido como o maior intermediário na comercialização de manga da região, disse que comprava até 30% da safra, agora só compra 2%, também solicitou o envolvimento da comunidade no problema, inclusive os grandes produtores, com o argumento de que eles também vão sofrer as conseqüências, pois “quanto mais o pau é grande, mais o tombo é maior (sic)”. Tropeçando nas palavras, apelou às autoridades, no sentido de refinanciar as dívidas, pois “se eles não resolver, não vai ficar resolvido (sic)” e criticou os “viventes” de Livramento, a quem se dirigiu dizendo que “a situação é tão grave” e que “vocês não têm idéia da gravidez do problema (sic)”.
De fato, a situação é muito crítica, há que se pensar na solução adequada, devendo o assunto ser levado ao conhecimento das autoridades e representantes da comunidade. Mas um dado é certo e não pode deixar de ser levado em conta. Os produtores de manga exageram, são imprevidentes e atuam sem qualquer planejamento. Ganham muito dinheiro e são incapazes de prever uma situação tão óbvia no setor da agricultura. Ou seja, estão há muitos anos produzindo e gerando muita riqueza e, na primeira crise, ficam desesperados, para quitar uma dívida de R$4 milhões, quando só numa das safras do ano podem faturar mais de R$100 milhões. Mas isso é típico dos empresários brasileiros, que pagam baixos salários, reclamam dos impostos, não dividem os lucros, mas fazem de tudo para repartir os prejuízos.
A variedade tommy atkins é a manga mais cultivada na região
A grande quantidade de área plantada também derrubou o preço
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